Olavo de Carvalho

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A França foi o centro cultural da Europa muito antes das pompas de Luís XIV. Os ingleses, antes de se apoderar dos sete mares, foram os supremos fornecedores de santos e eruditos para a Igreja. A Alemanha foi o foco irradiador da Reforma e em seguida o centro intelectual do mundo -- com Kant, Hegel e Schelling -- antes mesmo de constituir-se como nação. Os EUA tinham três séculos de religião devota e de valiosa cultura literária e filosófica antes de lançar-se à aventura industrial que os elevou ao cume da prosperidade. Os escandinavos tiveram santos, filósofos e poetas antes do carvão e do aço. O poder islâmico, então, foi de alto a baixo criatura da religião -- religião que seria inconcebível se não tivesse encontrado, como legado da tradição poética, a língua poderosa e sutil em que se registraram os versículos do Corão. E não é nada alheio ao destino de espanhóis e portugueses, rapidamente afastados do centro para a periferia da História, o fato de terem alcançado o sucesso e a riqueza da noite para o dia, sem possuir uma força de iniciativa intelectual equiparável ao poder material conquistado.

"A testemunha de um crime precisa de prova? Não! Ela tem o conhecimento direto. [...]
A testemunha do crime testemunhou o crime e não precisa de prova nenhuma: é ela que pode ser usada como um dos elementos de prova."

Deus perdoa os adúlteros, os mentirosos, os ladrões e até os assassinos, mas não perdoa quem não perdoa.

“Ética” consiste em dizer o que os outros devem fazer. Mas a primeira coisa que ninguém deve fazer é achar que sabe o que os outros devem fazer.
Por isso os Dez Mandamentos são o guiamento MAIS QUE SUFICIENTE para todas as situações humanas. Só Deus sabe o que a gente deve fazer.

Inserida por LEandRO_ALissON

O traço mais inconfundível do idiota perfeito é que ele não quer saber se o que você diz é verdadeiro ou falso. Só quer saber a que partido você pertence. E se você não pertence a nenhum, ele inventa um.

O consolo do imbecil é imaginar que chamá-lo de imbecil é ofensa, quando na verdade é uma descrição inteiramente objetiva.

Cada personagem, cada situação ficcional, cada emoção, cada ambigüidade e cada paradoxo da narrativa tem de se impregnar na sua mente como possibilidade humana concreta, reconhecivel na vida real -- na sua própria e na das pessoas que você conhece. Tem de se transformar num ÓRGÃO DE PERCEPÇÃO.
Só assim a leitura literária vale a pena e tem verdadeiro poder educativo. Faça isso com obras da literatura dos dois últimos séculos durante alguns anos, e depois você lerá a Bíblia com olhos mais penetrantes.
É preciso evitar, naquelas, todo tecnicismo acadêmico e, nesta, toda especulação teológica. Não "analise" o texto, apenas guarde os conteúdos na memória até que eles próprios comecem a lhe mostrar o que desejam lhe mostrar.
Análises técnicas e especulações teológicas, só muitos anos depois de ter assimilado muitos textos dessa maneira. Antes, não.
Leia tudo como se fosse narrativa de acontecimentos reais, sentindo intensamente a presença das situações, personagens, conflitos, etc. Acredite em tudo como se estivesse vendo com os próprios olhos ou vivenciando você mesmo as situações.

Inserida por LEandRO_ALissON

A ansiedade, o faniquito de 'agir', denotam uma sensibilidade epidérmica, falta de interioridade e concentração. Superficialidade, portanto fraqueza.
'A imobilidade gera a sabedoria', ensinava Aristóteles.
O impulso da expressão emocional imediata, que tantos enxergam como sinal de 'sinceridade', é também pura dispersão. A expressão das emoções tem de ser refreada para que elas possam interiorizar-se, criando a intimidade de um 'mundo' pessoal.

Pergunta inocente: Se, no entender das mentes iluminadas, o modo de acabar com o tráfico ilegal de drogas é liberá-lo, por que o mesmo raciocínio não se aplicaria ao comércio ilegal de armas?

Se há uma coisa que, quanto mais você perde, menos sente falta dela, é a inteligência. Uso a palavra não no sentido vulgar de habilidadezinhas mensuráveis, mas no de percepção da realidade.
Quanto menos você percebe, menos percebe que não percebe. Quase que invariavelmente, a perda vem por isso acompanhada de um sentimento de plenitude, de segurança, quase de infalibilidade. É claro: quanto mais burro você fica, menos atina com as contradições e dificuldades, e tudo lhe parece explicável em meia dúzia de palavras.

Inserida por LEandRO_ALissON

Quando desmoralizado pela exposição do seu analfabetismo funcional, da sua ignorância pomposa e da sua total incompetência em todos os domínios, o típico imbecil dos nossos dias se apega com patético desespero à mentirinha autodignificante de que tombou vítima de um combate ideológico.

Se há uma coisa que, quanto mais você perde, menos sente falta dela, é a inteligência. Uso a palavra não no sentido vulgar de habilidadezinhas mensuráveis, mas no de percepção da realidade. Quanto menos você percebe, menos percebe que não percebe. Quase que invariavelmente, a perda vem por isso acompanhada de um sentimento de plenitude, de segurança, quase de infalibilidade. É claro: quanto mais burro você fica, menos atina com as contradições e dificuldades, e tudo lhe parece explicável em meia dúzia de palavras. [...].
Ao inverso da economia, onde vigora o princípio da escassez, na esfera da inteligência rege o princípio da abundância: quanto mais falta, mais dá a impressão de que sobra. A estupidez completa, se tão sublime ideal se pudesse atingir, corresponderia assim à plena auto-satisfação universal.

NADA estupidifica mais perfeitamente um ser humano do que o uso habitual do vocabulário das ciências naturais em contextos que escapam ao horizonte cognitivo próprio delas. O sujeito tem a impressão de que está nomeando a realidade das realidades, quando está apenas fazendo metáforas e metonímias muito vagabundas.

Inserida por LEandRO_ALissON

"Georges Bernanos já tinha dito: a democracia não é o contrário da ditadura; ela é a causa da ditadura. Basta ver como a noção de direitos humanos é hoje utilizada para impor às pessoas novas formas tirânicas de controle do comportamento, para perceber que Bernanos tinha razão. A democracia, para subsistir, tem de se apoiar sempre em alguma coisa totalmente diversa, num sistema de valores extrapolíticos ou suprapolíticos, como por exemplo o cristianismo. Mas a própria democracia tende a destruir esses valores e em seguida é deixada a si mesma e se transforma em tirania: tudo democratizar é tudo politizar, e quando não restam outros valores senão políticos, então é a ditadura, como a definia Carl Schmitt, a pura luta pelo poder, que não pode levar senão à vitória dos mais fortes. Hoje em dia, mesmo os debates ditos intelectuais se tornaram pura luta política, isto é, lobby, grupos de pressão, manipulação de verbas, intimidação dos inimigos, e assim por diante. É o resultado da democratização, e é indiscutivelmente ditadura. Para salvar a democracia seria preciso saber limitá-la, isto é, restringir os critérios democráticos ao território estritamente político e limitar o território da política, instituindo para além da política uma zona onde os debates não sejam decididos por meios políticos mas pela razão, pela sabedoria e pelo amor. Isto seria precisamente a função da cultura, mas a cultura já está quase completamente politizada e vamos a largos passos para a ditadura universal, sob o aplauso geral das massas."

Só pessoas insensíveis ou imaturas não percebem que um casamento fiel para toda a vida é um MILAGRE, não uma coisa normal e exigível na ordem natural.

"Não tenham pressa de encontrar o seu caminho. Encontrei o meu muito tarde. Posso até datar: foi aos 43 anos. Antes disso, minha vida foi apenas uma luta feroz pela subsistência, e só não posso dizer que foi tempo perdido porque eu aproveitava cada minuto livre para estudar e estudar, sem ter a menor idéia do que iria fazer depois com tanto estudo. Na verdade eu não estava nem buscando caminho nenhum. Aquele que encontrei foi simplesmente seguindo o conselho do meu amigo Juan Alfredo César Müller: 'Quando você não sabe o que quer fazer, faça o que é do seu dever.' Isso simplifica muito as coisas.

P. S. – Quando falo em estudos, não são só livros. Fiz muitas investigações 'in loco', experiências vivas que às vezes me botavam em encrencas danadas. Mas valeu a pena. Usei muito o método do 'observador participante' que aprendi nos livros do B. Malinowski."

Inserida por LEandRO_ALissON

Daqui a vinte anos, pessoas como Filipe G. Martins, Rafael Falcon, Rafael Nogueira, Felipe Moura Brasil, Raul Martins, Silvio Grimaldo, Taiguara Fernandes de Sousa Fábio Salgado de Carvalho, Bruna Luiza, Hélio Angotti Neto, Paulo Eneas, Lorena Miranda Cutlak, Juliana Chainho, Jussara Reis, Elpídio Fonseca, Mauro Ventura, Josias Teófilo, Matheus Bazzo, Ronald Robson, Carlos Nadalim e outros alunos do COF serão inevitavelmente as figuras dominantes no cenário cultural brasileiro, que então será de uma riqueza que fará esquecer os quarenta anos de miséria. Não há pressa. Nada de grande no mundo se fez sem o 'longo silêncio da maturação' de que falava Nietzsche.

Às vezes me pergunto se jovens que nunca conheceram a época em que ninguém tinha de mostrar documentos (e muito menos cartão de crédito) nos hotéis, em que se podia fumar à vontade nos restaurantes, em que só os doentes se preocupavam com a saúde, em que só as pessoas gordíssimas faziam regime e em que as mulheres se sentiam lisonjeadas em vez de chamar a polícia quando recebiam cantadas de rua chegarão um dia a compreender o que é a dignidade humana.

Inserida por rodkalenninfe

A linguagem das emoções humanas, usada para descrever as relações do homem com Deus — a devoção, o temor, o amor, o arrependimento, a esperança etc. — é toda constituída de metáforas e símbolos que, em vez de traduzir essas relações de maneira apropriada e fidedigna, não fazem senão assinalar, justamente, a fronteira entre o expressável e o inexpressável. O que vejo por toda parte, no mundo religioso, é no entanto um grosseiro antropomorfismo materialista que desespiritualiza a vida do espírito e a reduz ao jogo vulgar das emoções terrestres.

Inserida por rodkalenninfe

O fenômeno da culpa e do arrependimento é ali [na Bíblia] descrito com várias metáforas. Primeira: a metáfora policial. O pecador pega horror de si mesmo e, envergonhado, se esconde do olhar da autoridade. É o caso de Caim, no Gênesis. Segunda: a metáfora judiciária. O pecador é o réu que, perante o tribunal, admite sua culpa e pede clemência. Terceira: a metáfora médica: o pecador é o doente que exibe suas feridas ao médico, em busca de uma cura. Quarta: a metáfora paterna. O pecador é o filho que desperdiça o dinheiro do pai e ao voltar, arrependido, recebe mais presentes ainda (o Filho Pródigo). Quinta: a metáfora matrimonial. O pecador é a mulher adúltera que se refugia em Deus contra a ira da multidão. Evidentemente, o arrependimento, a confissão e a absolvição têm todas essas dimensões e muitas mais. Por que a Bíblia usa várias metáforas diferentes? Precisamente porque nenhuma delas é nem pode ser a descrição exata e literal de um mistério.

O pecador pode ficar tão envergonhado dos seus erros que desvia os olhos de Deus, foge de Deus. A ênfase unilateral no arrependimento como EMOÇÃO leva a isso. Pensar na confissão sob o aspecto da metáfora médica alivia essa emoção e previne esse erro. O doente, em vez de esconder os seus males, os exibe ao médico.

A metáfora que mais me ocorre, na confissão, é a da mulher adúltera. É tanta gente me acusando de pecados que não cometi, que, por precaução, vou correndo contar a Deus os que cometi. Ele não vai escrever nada contra mim no Punheteu Liberto.

O casamento não consiste em encontrar a pessoa certa, mas em amar para sempre a pessoa errada.

Imposto é sempre roubo. Podemos tolerá-lo e até pagá-lo, mas nunca respeitá-lo.

Conservadorismo NÃO É a doutrina cristã. É apenas uma ideologia política. Dentro dele há espaço para opiniões cristãs, não-cristãs e até anticristãs. Vamos obrigar um conservador judeu a declarar que Jesus é Deus, e expulsá-lo do conservadorismo se ele não quiser fazer isso? Vamos expulsar do conservadorismo todos os ateus? Vamos transformar o conservadorismo na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé?
Quando vão parar de confundir as opções políticas disponíveis com os modelos abstratos de sociedades hipotéticas, ou até com modelos de conduta cristã?
É por isso que não faço nenhuma questão de ostentar o rótulo de "conservador", e me declaro apenas um católico. Quando julgo as coisas pela minha fé, ajo apenas como indivíduo, não como porta-voz de uma corrente ou partido político. Tenho o direito e o dever de fazer esse julgamento, mas não o de dar a ele o alcance de uma palavra-de-ordem partidária