O Preço da Perfeição (série)
O poder de voar. É com isso que sonhamos. Não há sensação melhor. A verdade é que você só voa por um ou dois segundos antes que a gravidade retome o que você tentou roubar.
Com o tempo, você aprende dois truques pra sobreviver quando há problemas sob os holofotes. Primeiro, nunca pare de sorrir. E segundo, é importante poder distrair as pessoas com outra coisa.
Sempre tem algo doendo. Em alguma parte do seu corpo há dor, causada por um esforço maior do que qualquer um deveria fazer. Mas fazer parte de um corpo maior tem poder.
Você paga um preço pra aprender a voar. Roubam sua infância, sua família, te deixam com amigos que torcem pra que você rompa o tendão de Aquiles. E eles nunca te deixam crescer. Então, se você quiser aproveitar, tem que ser criativo.
O balé é como um pacto perverso. Depois de todo o seu esforço, dor e sacrifício, quando anda entre os mortais, você se torna um deus. Você é um resultado perfeito e adorado do melhor que o corpo pode fazer.
Todos os dias alguém controla o que você come, o que você veste, como se mexe e quem toca. Você está preso na montanha-russa com seus piores adversários. Mas o que mais ninguém vê é que os rivais são os únicos que te entendem, que te aceitam como você é e te desafiam a dar seu melhor. Não há outra maneira de dizer. Eles são sua tribo.
Primeiro você escolhe alguém para o sucesso, depois ele é levado ao extremo, às trevas. E então chega o momento da compaixão, e ele volta aos holofotes. E quando você é o escolhido para dar essa volta por cima que todos esperam, só tem que responder uma pergunta quando todos te olharem desejando o delicioso próximo ato: O que é que você vai fazer?