Noi Soul
Dá medo
A vida dá medo
Ainda mais quando se pensa
Que é apenas esta chance
Única
Irrevogável
A vida dá medo
E é um caminho incomparável
Parto. Partir. Terminar e começar. Separação. Início e fim.
Parto. Repartir. Doar e Receber. Renovação. Não e sim.
Parto.
Eu parto
Eu parti
Eu re-parto
Eu me re-parti
Parto
Eu pari
Eu me pari
No dia do parto
Em que, enfim,
Te conheci.
Minha pele é minha dona
E eu sou presa dela.
Minha pele é mais velha do que eu
Mas eu sou mais antiga que ela.
Se estivermos dentro
da ampulheta existencial,
o quanto de areia já ultrapassou o funil?
Isso conta? Se não conta,
o que conta, então?
Talvez a experiência seja
o que de mais enriquecedor tenhamos
como seres viventes
neste grande relógio
da vida.
Somos os ponteiros?
Somos os números?
Somos a areia que escorre?
O tempo passa por nós ou nós passamos por ele?
Se o tempo existir…
Se existir a tempo…
Talvez o nosso propósito
… seja dançar!
Assim o tempo não passa
e nem nós.
Tudo fica suspenso, tudo se torna real.
Dançar significa viver.
Viver o extraordinário do agora,
o único instante que pode, de fato, nos pertencer.
sem sombra para qualquer ausência
a dúvida do inventor
sou luz para a decadência
e pó de quem me criou
conheço-me sob os gessos
escaloneio as moedas d'ouro
e nada peço
só esperneio
não abuso da vontade
sou intensa e sou o meio
o muro a ser vencido
o embaraço
o escanteio
escrever é meu maior pecado
e meu melhor refúgio
escrevo de mim
sobre o eu que ainda desejo descobrir
Quando ela chega, emudeço
é o silêncio sagrado da criação
rasga o véu de qualquer distância
rouba-me da própria distração
cinge seus lábios em meu peito
ancora-se sem pudores em mim
e tudo o que vejo, escrevo
quando ela chega enfim…
Paredes erguidas sobre as cabeças
a arte não pode parar!
Olhos curiosos fitam em surpresa
os dedos, as mãos, a tinta a pintar!
O espelho gosta de mim
e quer esconder-me os meus próprios defeitos
Sou ele ou sou eu quem me vê através do reflexo?