Nivanio J.B.
Todos desejamos ser fortes como se isto significasse uma possibilidade de nos livrar dos problemas e das dores inerentes à vida. Daí nos preparamos com antecedência para todo tipo de adversidade, em especial àquelas ligadas ao emocional, preenchendo os nossos corações com indiferença e individualismo e taxando de fracos aqueles que se revelam sentimentais e choram... O que é um erro, pois isto só nos torna frios e pouco dados às relações afetivas. Devemos ter em mente que, na vida, a força não é medida pela capacidade de se esquivar do golpes, mas sim de suportá-los.
Na vida, felizes são aqueles que recebem na alma todas as dores e, com choro e lágrimas, conseguem suportá-las e recuperar-se delas.
O tolo, julgando-se livre, não pondera bem os fatos e age com ímpeto, acreditando que todas as suas escolhas geram ganhos. O sábio, compreendendo-se prisioneiro das consequências, reflete sobre todas as suas escolhas por saber que elas também podem gerar perdas.
Dizemos que queremos expandir as nossas mentes e alcançar a verdade, mas na realidade só queremos aproximar a nossa inverdade das fronteiras do real.
Procuramos a verdade em vão, assim como o tolo que aspira a um objetivo que não pretende alcançar. Não nos importa a verdade, a menos que ela seja um reflexo da nossa ilusão.
Nós, humanos, precisamos da ilusão.
O passado não pode ser mudado. Daí a importância de se olhar para trás com os olhos de quem quer seguir em frente.
É na vida que ocorre a verdadeira junção e é somente em vida que as ligações amorosas ou de amizade podem ser desfeitas. A morte não passa de um desencontro no qual separa-se o abraço dos corpos... Apenas em vida se pode romper o enlace das almas.
Há nesta vida só incerteza.
E para a alma que só conhece a tristeza,
a felicidade pura é tão impossível como a certeza plena.
Tudo lhe sufoca, tudo lhe afoga.
E a pobre alma triste sofre,
sofre toda a saudade jamais sentida por quem viveu a despedida.
Quanta saudade,
quanta dor reside no coração de quem se pergunta:
"o que é que existe?"
Quanta tristeza.
Quanta melancolia embrulhada em papel fino.
Há nesta vida só incerteza, só felicidade imerecida.
Ai da alma que espera por ela,
pela tal felicidade.
Vive dizendo adeus, adeus.
NOITE
Quando a noite chega e me acolhe em seus braços,
Eu, como que buscando nela a minha outra metade,
Me entrego sereno ao aconchego de seus abraços
E no silêncio, a noite se torna a minha liberdade.
Incólume, atravesso as dores na solidão do quarto escuro
Sem temer as estrelas que mentem luz nas trevas do espaço.
Anoiteço solonento, me sentindo pleno de todo o futuro
E a noite - ó doce noite - sussura-me: "diz-me o que queres. Faço!"
E então, sem qualquer temor ou pensamento, encontro prazer na solidão.
O meu espírito se povoa de todos os poetas, artístas e gênios...
Me sinto fera selvagem e Deus... Me torno, enfim, a própria escuridão.
Tenho grandes sonhos, ao que me dizem: "és pequeno demais para torná-los reais".
Eu sei que não sou nada e que metade dos meus sonhos talvez adormeça na minha alma.
Mas, o que posso fazer se os sonhos são o que tenho de realmente meu?
Nos tristes caminhos da vida – nos quais tudo me parece tão inatingível quanto a presença distante das estrelas – são os sonhos, ainda que adiados e dilacerados, que me enchem de esperança.
Ao sonhar, deixo de ser pequenino e me torno do tamanho do mundo... Me torno do tamanho dos meus sonhos.