Nino Benedictus
Minha querida;
Toda noite, por volta desse mesmo horário, estarei acendendo esse lampião e pendurando-o em minha varanda, na esperança de que sua tênue luz possa sinalizar a você o local onde estarei, ansiosamente aguardando pelo seu retorno. Se porventura; (vencido pelo cansaço, oriundo das inúmeras e intermináveis batalhas travadas ao longo desta minha longa e malfadada existência), ao chegar você me encontrar reclinado e adormecido em uma velha e surrada espreguiçadeira sob o alpendre, não se assuste. Pois é aí que, desde que você se foi, tenho passado todas as minhas longas, frias e solitárias noites até ao amanhecer, (acalentado apenas por um antigo e fiel toca discos, que ao som de Perfume de Gardênia, tocando ininterruptamente por horas torna as noites um pouco mais amenas). Atravesso as noites mirando ao longo da velha e empoeirada estrada sem fim esperando a qualquer momento vislumbrar sua bela, delicada, desejada e doce silhueta aproximando-se lentamente, mais e mais assim como que em câmera lenta e então fechar os olhos e poder sentir no mais profundo da minha alma o seu inebriante perfume de Gardênia, que causaria inveja em um belo e formoso jardim de flores. Sinto que a espera terminou, ela voltou, obrigado Senhor. Passe por mim minha querida, não precisa me acordar, adentre, a porta está aberta, sempre esteve. Descanse, desfrute da ceia que deixei preparada para este momento, recomponha-se da sua longa viagem, logo estaremos juntos novamente e desta vez para sempre. Não me acorde minha querida, por favor, não quero acordar....Porque se na verdade isto for um sonho, não desejo interrompê-lo. Deixe-me te peço, vivê-lo para sempre.