Ninna Gagliardo
Dizem ser a vida um jogo de cartas marcadas; nunca soube entender esse ditado.Acho que é porque eu nunca fui boa nisso, não somente de não compreender ditados, mas nunca fui boa com as cartas. Poderia jogar poker só pelo ato de blefar, persuadir, ludibriar, envolver, seduzir, todavia, quanto às cartas eu não saberia dizer, talvez nem saiba quantos naipes um baralho possui.
Na verdade acho que a vida observa o baralho “novo” e em ordem de cada um, embaralha todo ele e espera que nós possamos ou organizá-los de volta ou jogar com o que temos, com o que restou e com as cartas disponíveis.
Há como sentir-se como a Alice no país das maravilhas, no momento o qual as cartas do baralho discutem no jardim enquanto ela observa. Pode-se preferir um outro jogo, não um tabuleiro marcado e pré-destinado a um caminho ou rota, preferir uma mágica, a surpresa, o diferente, o inusitado o original.
Não obstante, existem cartas embaralhadas, às vezes curinga, carta importante saltada diante das outras cartas, eu novamente diria: não sei jogar, você saberia, você ousaria?
Temos que aprender a jogar (a viver) com as cartas que temos, com as que não temos, com as que vamos ter, e com as que perdemos (jogar com o baralho/vida incompleto) mas temos que aprender. Não há manual, mas há VONTADE e a atitude provém daí.
Que tal um poker agora?!
Das Mutações Variadas
Ela não gosta de cheiro de cigarro;
Ele não gosta de quando fala sério tirem sarro;
Ela opta nos restaurantes por sentar nos cantos;
Ele não paga as contas pela internet e prefere ir á bancos;
Ela usa maquiagem, mas não gosta de batom;
Ele de tarde prefere o silêncio e na madrugada escuta um som;
Ela espalha pela casa copos d´água por onde passa;
Ele está ficando frio, não consegue mais ver cor nem graça;
Ela não adora mais o tom de violeta que pintou sua janela;
Ele trocou o granulado do café e açúcar por canela;
Ela prefere agora as anêmonas do que as rosas;
Ele ainda gosta e faz canções em verso e prosa;
E por não estarem mais confinantes e por não serem mais confiantes,
por tudo ter afundado, por optarem em juntos serem calados.
Não seria de outro jeito, quando tudo foi imperfeito;
não foi ele que preferiu partir, foi o amor que deixou de vir;
E quando não há mais ternura, o que enfim perdura?
Decidiram tentar novamente, dessa vez mais conscientes.
Mas agora ELE não gosta de sentir nela o cheiro do cigarro e ELA não gosta de quando fala sério que ELE tire sarro, ELE nos restaurantes se esconde nos cantos, ELA para não ficar em casa não usa a internet e vai aos bancos, ELE prefere ELA sem maquiagem e lhe comprou um conjunto de batom, ELA ficou em silêncio pois não gostou e não emitiu nenhum som.
ELE espalhou garrafas de cerveja pelos cantos por onde passa, ELA ficou fria e não vê nele cor nem graça; ELE deixou ainda mais violeta aquela janela; ELA não suporta mais ver a pia suja de canela; ELE nem sabe que as anêmonas são rosas, ELA não aguenta mais suas canções em verso e prosa.