Nina Rocha
ESCOLHA
Já preferi noite como casulo por assim dizer
por saber o recomeço ,final de tanto prazer
Já fiquei atenta e louca tentando a reflexos ver
buscando eternizar o espanto de ao sonho pertencer
Hoje escolho por caminho o que era antes morrer
Pois fundido em cinza frio se desfez o meu viver
Agora crescem musgos feios mas frescos e previsíveis
Onde antes eram formas de ser quase inesquecíveis
E meu mundo hoje pálido sem luas sombras ou estrelas
Vai me dando a meio insana mas comportada forma de vê-las
E fico assim meio que morta com medo vou me esconder
Não vou me lançar no abismo de ver antes do amanhecer
Do que ficou
Aprendi a duras penas
Saudade é só e apenas
Vontade passageira
E nessa dor ligeira
Pensamos ser tormento
A dor que é momento
Mas curada a ferida
Fica de trôco a vida
Estrada a nossa frente
Sem cores ou repente
Só solo duro e vero
Por hora o que mais quero
Nas vidas que por vir
Promessas de sorrir
Rejeitarei de pronto
Não quero sonho tonto
Só quero o meu canto
Sem sonho ou acalanto
Pesares não terei
Sem sonhos viverei
(10/09/2009)
O Feitor
Açoita-me o pensamento noite e dia sem descanso
O suor correndo o rosto pareceu humano pranto
Trouxe cores e imagens embutido em riso manso
Sem camisa mostrou serviço e também um corpo branco
Manteve-me o rosto mirado no retrato encantado
De um moço que me olha sobre o braço debruçado
Enquanto pintava outros ,muitos,todos enfeitiçados
Amoras,flores,horizontes,caminhos,árvores,gatos
Mas chega o dia de descanso ,seu trabalho compensado
Fala rindo ao seu senhor:-Já vou indo ,vou feliz e volto renovado
Vou correr com os pirralhos,fazer bagunça,cortar galhos
Sem exausto ir dormir nem acordar como galinha
Abraçar minha patroa adormecer de conchinha
Isso é vida meu amigo!Não o que aqui faço!
Mas ele volta como sempre,pra semana tem trabalho
Açoitar meu pensamento todo dia , seu regalo
9/10/2009
Do sótão
Ausência fere,dói mata
Fica um frio a corroer
Deixa alma prêsa,ata
Faz pensar que vai morrer
Sinto o cheiro dos incensos
Que acendia pra encher
Esses mais tristes momentos
E das lágrimas verter
Hoje invisto no sorriso
Nesse sótão nem mais vou
Riso incerto impreciso
Que conserva o que passou
Dessa ausência fica o elo
Que ainda habita a mão
Tolo belo e amarelo
Quase infame sem razão
Vôo em novos horizontes
Sem mais triste escuridão
De montanhas verdes montes
Mas não vou sozinha não.
De longe
Sou o próprio verso
Crio minhas vontades,meu universo
Só eu vivo e lugar nenhum me habita
Meu desejo me consome e me dá vida
Quero o que tens e o que te amedronta
Queres o que tenho e me faz tonta
Serão deuses nossos algozes?
A mim parecem demônios ferozes
Criam distancias vazio no espaço
Jogo vago de frio carrasco
Precisos ,afins ,seres calados
Riem quando jogam os nossos dados?
Já não verão meus olhos ?
Já não verão meus olhos os que a ti pertencem
Nem meu fel teu riso
Mas perseguirei o teu olho com o meu
Pertencemo-nos outrora
E tempestades se anunciaram
Pertecemo-nos outrora
Agora me vou...
Mas perseguirei o teu olho com o meu
Levo a melancolia molhada,parceira
Eu vinda de ti e agora sem rumo
Diga teu olho:terá luz o meu?
SOLIDÃO ACOMPANHADA
Solidão acompanhada
Boca que se move muda
Surda e tola gargalhada
O som inútil a mente afunda
Presente alí nesse instante
Só assiste como um monge.
E esse vão se faz gritante
Enxerga um mundo de longe
O corpo sempre cercado
Mas a cabeça lá...distante
Em meio a todos abrigado
O riso falso destoante
DÚVIDA
As vezes amo poemas
As vezes temo
Têm poder assustador
Libertam
Prendem
Abrem olhos
Vendam
Machucam
Acarinham
Lembram
Anestesiam
Mostram caminhos
Criam atalhos
Matam
E fazem renascer
Brotam
Secam
Apagam
Iluminam
Iludem
Desmascaram...
As vezes amo poemas
As vezes os temo
Sou poema
Me amo.
E as vezes...
Tenho medo de mim.
Tenho medo da escuridão que o amanhã traz nos bolsos
Espero os dias melhores, quentinhos ,salgados..eles virão
Não nasci cega não sei andar assim a tatear os rostos
Quero minha prainha lá no meio das casuarinas...o verão
Programo as coisas que farei ,até coreografia nova montarei
Uma mochila maior para as noites de risos estórias, lampiões
Só não quero a escuridão de agora e chega de lamentações!
11/10/2009
Ao meu pai-
Vem de novo!
Meu primeiro pensamento hoje cedo foi meu pai
Não se passa um só dia que não venha a me lembrar
Olho que em mim tudo vê,e o melhor de mim extrai
É meu par,sorriso, graça ,mão segura de apertar
As mãos enormes _ Lembrança que com o tempo não se esvai
O meu colo preferido ,vem a lágrima secar!
No dia que tu partistes levou o que o amor extrai
Vem contar tudo de novo,o que adorava escutar
Estórias mil vezes ouvidas, vem de novo! Proseai!
A quem possa ler um dia este triste lamentar
Não pense palavra seca que ao coração não vai
É saudade do meu velho, impossível de afagar
Mas que dói bem mais que parto, é amor que se vai
26/10/2009
Amor -perfeito
O poeta eternamente tem que sofrer!
É seu castigo,seu açoite pelo poder
Penso que utopia é amor- perfeito
Sem passar por dor ,sem um defeito
Já dizia um poeta quase amante
Se não sofre o finge fazer o farsante
Das poucas verdades que conheço
Pode ser meia(?) verdade mas delirante
Amor- perfeito nunca haverá só aparente
Só a dita flor assim o é e morre rapidamente
Clamamos por ele,seu sabor, ser enganados
È vida e sem o saber somos assim afortunados
De amor
Minhas formas pertenceram a um poema de amor
Cada parte mergulhada em tinta da pena do autor
Os meus pés tão machucados da viajem anterior
Minhas pernas decididas só sentiam o sabor
E segui no passo lento sem tirar do vento a cor
Ao passar por mim dizia:Entro ti ,sou sedutor!
Caminhei por todo o tempo ,senti cheiros ,o torpor
Fui tudo que desejei e nem assim desci do andor
Tive o corpo desmembrado em cabeça corpo e dor
Mesmo assim eu fui feliz e não guardo nem rancor
A quem me veja deitada mão cruzada a decompor
Mas não sabem do meu eu que está vivo sem bolor
Sou principio ,meio ...fim?Ou quem sabe o condor
Que do alto tudo vê e bem sabe tal valor
divisor........
05-10-2009
Meu segredo
Poderia dar o cristal que me corre a pele
Talvez assim a luz que flue,levasse a dor
nudez de alma,vozes,luzes, a minha repele
tesouro guardado sem valor, meu cobertor
Fizesse assim talvez sendo o que não sou
Matava um pouco mais o interior
Secando a flor assim sem agua, estou?
Deixando o vento toda raiz expor
Mas não....não vou mostrar
Me quero assim a ver o que passou
De longe ,sempre longe a adiar
Meu fim meu eu que talvez mudou
Penso no tempo ,se vai ou se vem
e eu aqui, meus cristais engolidos
tempo não vai nem vem ,as vezes,só retém
Cristais eternos,molhados e coloridos
Me deixo ver ,mas por mim mesma sem medo
O que escorre é meu mesmo conheço o gosto
Não me movo ,non ti muovere,é cedo
Fico assim ,eternizando meu segredo
19-11-2009