Nina PilarCéuCélia
No fio da minha voz, trago amargo o sabor do sangue e o lascivo sabor agridoce do néctar que alimenta a noite deusas prostitutas e as põem, aos gritos, aos arrepios dos desejos instintivos, como animais incontidos na luxuria, e na loucura do ardor pueril que desfalece os fracos, e fortalece a noite e suas solidões.
Nina Pilar
Minhas nascentes brotam da terra, sou água com sabor e cheiros dos jasmins, águas e terra misturam em textura suave, desembrulham-se em sabores, alinhavo-me, desenho-me em suas sutis danças e gestos, corrias abundantemente nos corredores das pedras, e, em silêncio, desenhava-nos em seus pingar sobre as pedras, como um bordado brocado de mil corais, azulejos, mosaicos prosaicos dançam mil véus corpos do alto a água vem chegando devagar, água sobre a água escorregando, formando imagens nos canteiros, musgos, conchas, lagos, rios, água fresca...
...agridoce coma vida.
Levas contigo minha canção
meu rosto
meu corpo
meu cheiro e o nosso rouxinol
que cantava em um só verso
em uma só rima
sete notas
sete estrofes
sete versos
levas um só coração
dentro deste corpo
já transborda de tantas dores
das tuas ausências
leva-me contigo
que pode poupar-me o cais no caos da espera
Nina Pilar
Ate acho que não sabes onde deixastes a alegria e quando encontrou-me a tristeza, parece ate que não sabes onde escondi a saudade, sabe aquela rua que cruza com a praça no alto do mosteiro, foi lá depois daquela praça verde cobalto, que deixei a minha paz, entre árvores, pássaros e borboletas e eu escondida-a não, mas não preocupe - se meu amor a culpa é só minha, foi por medo de olhar o sol que em breve nascerá...
Nina Pilar
Céu
OS RASTROS NA VIDA
Tudo passa
a juventude
nossos cabelos escuros
corpo firme
rostos lisos
os políticos
os corruptos
os honestos
ficam
nossas opções
nossas escolhas
nós em nós
e o que deixamos de fazer
com o gosto agrotóxico do que não tem pra lembrar
da vida que não teve as cores que queríamos
por medo
por distração
ridícula
por perder tempo com coisas que nem eram importantes
nem no passado
e nem hoje
e a vida tornou-se morna
vidinha mais ao menos
por isso escolhi o lado ardente do sol
o gelo cítrico das estrelas
a lua minguando
a vida em quatro rotas
sempre chegando deslumbrantemente
pra arrasar o dia que não foi...
Nina Pilar
Céu
Tudo passa
a juventude
nossos cabelos escuros
corpo firme
rostos lisos
os políticos
os corruptos
os honestos
ficam
nossas opções
nossas escolhas
nós em nós
e o que deixamos de fazer
com o gosto agrotóxico do que não tem pra lembrar
da vida que não teve as cores que queríamos
por medo
por distração
ridícula
por perder tempo com coisas que nem eram importantes
nem no passado
e nem hoje
e a vida tornou-se morna
vidinha mais ao menos
por isso escolhi o lado ardente do sol
o gelo cítrico das estrelas
a lua minguando
a vida em quatro rotas
sempre chegando deslumbrantemente
pra arrasar o dia que não foi...
Nina Pilar
A vida é impregnada de ontens, hoje e amanhãs todos cansados e cheios de lugares indeterminados, sem brisa, sem sol, e sem esperanças...
Nina Pilar
Não sei por onde anda a paz, e não sabes onde encontrar a alegria, quem sabe encostada na tristeza, parece que tudo gira sem compasso, onde será que deixastes a saudade, em qual rua perdi a minha paz, em qual lugar deixei chorando a minha alma, monstros com cara de duendes caminham lado a lado entre nossos jardins roubando nossos sorrisos, deixando-nos a margem dos rios que passam ao nosso lado, alimentando as ervas os alecrins, os rouserais, e as mangueiras, ensimesmados rostos dos medos que caminham entre nossos caminhos divididos, apoiando-se em nossas fraquezas caminham tão rápidas e tão destemperadas atormentadas e cheias de preguiças.
Nina Pilar
INCONFIDENTES PENSAMENTOS
Foste tu quem deste-me
a última noticia
deu tosse
falta de ar
e a cidade andava indiferente a sua saga
nos telhados a rosa dos ventos acoitava-lhe o vento
e os corvos engatilhavam suas danças
seus cantos agourento
era a morte anunciada nas cartas
escrito nas mandalas
quanta estupidez
será que ninguém viu que é a vida alheia
e nem sobra-lhe na sorte nem a duvida
de quem crer na sorte solta entre cartas
desesperada entre os continentes das mandalas
a sorte que lhe valha
e lhes resgate a vida de todo dia
sem que a morte faça-te careta
pinte-se de roxo
cante a dança de um pé só
abrindo a boca sorrateira em um sorriso de lado
aquele que abre uma meia boca
encarando-te afoita
pontada fina e profunda no coração quase fatal
para de bater na ladainha cata um trevo
no pomar de flores na madeira
puxa o bem me quer
soletra-te de rastelos os mapa inconfidentes
tanta dor estocada no final
que infinitos distintos percorrestes
prós jardins de luto arrastaste-me
em tua triste sina
diz-me cá entre nós
já que estamos a sós
tão fortemente a sós
entre tantos eu
da-me uma trégua filho meu
faz calar estas batidas retumbantes
aqui dentro onde a muito tinha uma sombra caustica de uma alma solitária e sem palavras
eu te farei esquecer o sangue que escorre nas minhas rimas
a alma que roubastes e deixas-te-a paralisada
nas enchentes catástroficas
fazendo-as parecer tão naturais
Nina Pilar