Niezpet
Continuarei a me expressar, mas não sobre religião. Nosso povo é o mais alto expoente da necessidade humana de crer no além-do-natural e, não só isso, de tentar explicar o mundo complexo a partir de uma ideia transcendental, na busca por respostas para a existência. O não conformismo com o mundo real somado ao estado psicológico guiado pelo sentido metafísico, faz de Deus uma entidade querida pelos fiéis, e de mim alguém que não tem o mínimo interesse em ascender qualquer zombaria, mas em aceitar os fiéis como seres de fé e da religião missional.
Se há algo que me incomoda na Cristandade é a incapacidade de reconhecer a dignidade na divergência de pensamento sobre a metafísica. O dogma extirpa do pensamento - da maneira mais inocente - qualquer espécie de flexibilização e aceitação à crença diferente ou à não crença do outro. Não é possível ser dogmático e aberto à multiplicidade; o cristão ou é ingênuo ou hostil quando submete seus ouvidos ao ateu da religião que tem; é proselitista por natureza.
Perceba que são poucos os fiéis que se expõe às ideias e discursos que contradizem os seus: eles discordam por exclusão, sem que conheçam aquilo que discordam. Pouco importa saber o que o outro tem a dizer quando se tem a verdade; é isso uma ignorância inofensiva e, agregada à agressividade: estupidez. A estupidez cristã é, portanto, a agressividade a qualquer coisa que tenha uma diferença abissal com a ótica teológica que conduz seu pensamento.
O pensamento fixo na expectativa de resultado das ações estipula em "fuga" do existente, da realidade, da experiência imediata, da perspectiva movedora, da contemplação do esforço, auto-observação e introspecção; nos leva a um mundo sombrio de antecipação, marcado pelo desejo do inexistente depois, do lugar que não chegamos. O futuro só existe - na conjectura - até chegarmos nele, é quimérico ante a percepção temporal. Viver o eterno agora é valorizar o que se tem antes que o perca; desejando o que não tem como impulso pra vida, sem que seja objeto da inveja.
Todo princípio que inibe a Vontade é instrumento de repressão. A Vontade é, não para ser reprimida; antes, elemento fundamental da auto-reflexão, sua qualidade deve manter-se dentro das balizas da moralidade para o cultivo da harmonia dos indivíduos. Se o Bem não está na Vontade, é injusta. Sua virtude é definida pelo seu altruísmo ou sua fraqueza pelo seu egoísmo.
O que procuramos na leitura ou em qualquer outra forma de expressão é, na verdade, conhecer o que outros homens disseram a respeito do que acreditamos. No caminho, encontramos a sinonímia ou a divergência e decidimos, então, reforçar nosso próprio pensamento ou dar lugar à estupidez, por vezes ignorando fatos facilmente cognoscíveis; raramente assumindo equívocos. O homem lúcido, não inferiorizador da opinião alheia, reconhece a pluralidade de ideias como resultado do pensamento crítico, assume sua incapacidade de conhecer por completo, respeita as visões de mundo, não engana a si mesmo; se preciso for ele muda.
Eu sei quem sou. Não devo me sujeitar ao que pensam de mim. A maneira como me percebem é irrelevante ao encontro do meu autoconhecimento. Talvez se deva buscar uma imagem justa de si pelos outros, mas não que isso seja tudo, posso viver sem isso. Me percebo e, então, ganho autotransformação; penso nos que me julgam e não sou autêntico, logo me torno escravo da imagem projetada pelo outro sobre mim pelo medo de ser excluído do bando. Eles querem que eu não seja como eu. Conhecer a si mesmo é a mais nobre forma de resiliência das sentenças
Ninguém que pensa no estado psicológico, nos motivos e no comportamento de outro indivíduo sem que esse tenha relatado, o faz com precisão. Pense em alguém: imagine suas intenções e cairá no abismo da idiotice. Os mares da ignorância farão tsunami na sua cabeça. É tudo fruto da fantasia! Não passa de invenção! O psicólogo ouve o relato para então concluir, você interpreta sem conhecer. Que tipo de indução é essa sua?
Quando estamos na companhia de quem não temos confraternidade, uma hora parece mais uma eternidade e um minuto uma hora.
Não custa nada responder a uma pergunta idiota ingênua. Não cria dissolução, não ofende e ainda a resposta é rápida.