Ney Dias
Sobre o que quero em minha lápide...
Desculpe a desatenção
Mas pouco me importa o que lá estiver
mal penso nisso
Lápide, enterro
Velório
Se houver bem
Se não, bem também
Problema de vocês vivos
Isso tudo será pra vocês
Conflito
Eras tu conflito
Claro
Eras eu conflito
Claro
E entre as liberdades
Foram forjando correntes
Não as más
Não aquelas correntes...
As macias
As que queremos usar
As que brilham
Eras tu
Eras eu
Somos os conflitos
Que queremos ter
Uma tristeza residia em meu corpo um inquilino tão fiel que passava despercebida.
Como aquele móvel inútil que toma espaço mas não incomoda o suficiente para ser retirado do recinto.
Em um grupo de pessoas, unidas, em uma doutrina que defenda um deus ou um ideal, a única certeza é que a verdade será morta.
Mentiram pra mim.
Me disseram: preguiçoso!
Mas isso não sou, nunca fui na verdade.
Só que meu corpo se recusa a fazer o que essa vida mesquinha me oferece de opções.
Nascer, crescer, orar, multiplicar, orar, envelhecer, orar, morrer.
Oh! Felicidade pronta!
Por que não me cabe?
Se assim será.
Que assim seja.
A Poda
Tive um breve pensamento sobre a poda!
Por que podamos uma árvore?
Geralmente por que o crescer livre dela não cabe em nossas expectativas, talvez, o espaço que lhe foi destinado seja menor que ela possa alcançar.
Ou simplesmente sua beleza natural não nos agrada, e moldados, com tesoura, afim de que ela passe a ter uma imagem mais agradável aos nossos padrões.
Mas, ela não para!
Terá que cortá-la sempre, pois, é seu natural crescer, alcançar mais espaços, mais folhas, mais luz...
É uma luta de padrões ou/e necessidades.
E quando não houver mais como manter esse "equilíbrio" (a árvore ceder). Cortar é a solução. Afinal, não dá pra manter alguém que insiste em não caber, insiste em não se adequar as nossas expectativas. Opa alguém não, desculpe. Estávamos falando de poda de árvores...
Deixa...
Perdi o apreço pela vida.
Não!
Calma!
Ninguém aqui está falando de morte.
Apenas de apreço
Carinho
Sabe aquele a mais
Aquele gostinho de quero mais
quero muito, quero tudo.
Então perdi
Se tenho que seguir
que seja
Vivemos
Viveremos
Se viemos
Fiquemos
Mas
Desculpe vida
Segue aí ao meu lado
Sigo aqui no meu canto
Junto estaremos
Vidinha
Mas por ti
perdão
Perdi o encanto
Se a poesia soubesse o tanto que a ignoro.
Se visse o lixo cheio de rascunhos amassados que tenho no peito.
Já havia ha tempos pego suas malas e partido.
Já desisti de coisas antes da hora.
E já investi muito tempo em coisas que nunca dariam certo.
E aprendi que ainda farei muito isso.
É impossível perceber a diferença entre um e outro antes da perda.
Agradeço com veemência todas as pessoas que deixaram seus afazeres para estar em meu velório, há tempos que não os via, vida bem corrida eu sei!
Pena que não os vi.
Quase fui um bom aluno.
quase fui um bom colega de classe
quase consegui bons amigos
quase consegui um emprego jovem
e quase me dediquei e ele.
quase cresci
e assim vieram os amores, quase fui um bom namoradinho...
e depois quase fui um namorado especial.
quase me marginalizei.
a vida às margens do correto quase me matou.
os bons empregos vieram, e quase valorizei isso.
e o amor veio, quase fui um bom marido.
quase fui um bom pai.
quase...
quase me recuperei, quase seguindo uma nova doutrina de vida.
a separação chegou e quase foi tudo bem.
com o tempo, me apaixonei, quase foi muito legal.
me apaixonei outra vez, quase foi muito legal de novo...
e depois quase foi mágico, quase dura...
quase me recupero da frustração...
hoje aqui quase consigo sorrir e ver minha vida por inteiro.
quase aprendi com meus erros e quase valorizei meus acertos.
consegui entrar pra faculdade sem pagar nada...
Quase fui...
quase tenho alguém comigo que me ama...
quase posso bater no peito e dizer vivi quase que intensamente tudo o que poderia com ela...
Foram tantas profissões...
e quase fui muito bom nelas!
e o quase homem que me transformei... quase triste...
se pergunta!
Onde errei?