Newton Braga

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Canto de Glória

Qualquer que seja o teu destino;
quaisquer que sejam os rumos de nossas vidas
por mais desencontrados;
por mais que o não queiras
e eu não queira;
por mais que a sorte nos afaste;
por mais que as multidões e os quilômetros
se interponham entre nós dois;
por mais que tu me queiras odiar
e eu queira te esquecer,
tu hás de ser sempre, eternamente,
a amada do poeta.
Sofrendo e cantando
eu te diferenciei de todas as mulheres
e, com a minha arte, eu te levarei,
talvez não como tu és, mas como eu te criei,
através das distâncias e através das gerações,
na ronda secular das minhas emoções,
futuro adentro, terras além!

E então, certo dia, por acaso...

... e então, certo dia, por acaso,
nós nos veremos, de novo, frente a frente.
Cada qual estará algemado a outros destinos
e parecer-nos-á que andamos às tontas,
muito
tempo,
e que as estradas que julgávamos familiares e
imutáveis
eram mundos estranhos em que vivêramos
sonâmbulos.

Um pequenino detalhe qualquer, vago, impreciso
- o meu modo de olhar, teu jeito de sorrir,
um gesto, uma expressão, um desses quês
inapagáveis-
reacenderá, talvez, por um momento,
a memória de outros tempos e outros sonhos.

Sim: apenas por um momento.
Voltaremos logo ao presente, voltaremos
apressadamente a nós mesmos,
com teimosia e rancor,
com o sobressalto, o desamparo, o desespero
de quem, mesmo sabendo inútil, vão,
quer impor, com o cérebro,
o ritmo que o coração deva bater.

-E então cada qual continuará o seu caminho,
pisando firme, com decisão, obstinadamente;
-nenhum dos dois olhará para trás.

Na noite morta

A insistência desse violão:

(na noite morta, fria, estrelada,
como faz mal essa toada
triste, dolente, que erra no ar,
que vem direta, fina, doente,
envenenar a alma da gente!)

A insistência dessa saudade...