Nél Marques
Chega!
Preciso voltar ao mundo,
que pertenço, que existo, que respiro.
Preciso andar descalço nas sendas
sem perigos do sitio da avó.
Preciso dos sons, poemas, lágrimas
que a solidão moldou.
Transforma o coração de um homem em barca grande.
Preciso sumir de tais sombras,
levar minha face a um canto oriundo.
Tirar o choro profundo que afoga meus sorrisos.
Acabou...
Acabou.
A luz, a vela, o arroz.
Ainda existe fome.
A roupa suja está.
A doença abraça o corpo do cachorro pobre e magro.
O meu também.
A vontade de vencer até a pia.
O copo d’água já não sai do cano.
Na dor de não ter planos, metas, sonhos...
Quando aparece o choro,
mato a sede com agua de mar.
A ausência do pai é o inferno.
O excesso de Deus é loucura.
De tão sábio, pirar não demora,
pela hora, pela hora.
Acabou o gás, a água o lençol.
Só a fé persiste.
Ela queima em minha fonte.
As palavras que possuo são presentes,
de almas que precisam ser ouvidas.
Sou apenas a caneta que vai e vem no papel.
Mataram o poeta, ficou a tinta,
com marcas de um choro incompreendido.
03/04/07
Com você ao meu lado.
Talvez devêssemos rever,
Nossos sonhos que adormecem sós.
Procurar nos sinais do dia,
chances onde só exista lembranças.
Precisamos olhar nos olhos
e não cair nada de dentro.
Lutar com a luta branca da paz,
de ganhar o troféu ao seu lado.
As montanhas nos deram seu ar puro,
o mar, braças de caminhos e ondas.
Nos ventos, armamos nossas asas
e nas cavernas, fogueiras e calor.
Venha fazer parte de mim.
Novamente sorrir ao sol.
De dia e de noite tudo igual,
amor, mais que natural.
Sozinho, sempre acompanhado,
de sua lembrança boa,
violão com vinho e amigos,
destino traçado com carinho.
Pessoas vem e vão
Procurando ávidas o que encontrei.
Na manhã lhe preparo o café
e tudo novamente recomeça bem,
com você ao meu lado.
Não há tempo.
Não há tempo pra vaidade,
não há tempo pra oração.
Só há tempo pra tristeza
que transborda do coração.
Não há tempo pra alegria,
nem de noite e nem de dia.
Não há tempo pra mais nada,
só em chorar de madrugada.
Não há tempo para os que nascem,
muito menos para os que morrem.
Só há tempo dos olhos cansados,
procurarem mais tempo pra chorar.
Não há tempo pra pianos,
foguetes, violão, aurora.
Só há tempo de acender uma vela
pra minha alma que foi embora.
A Formiga
-Sou a formiga mais genial de minha geração!
Ela disse a mim.
Ri, como se caísse em penas.
-Sou o Deus que mais os homens amam!
Ri, pois nunca amei ninguém.
Eu quero atenção! Eu quero atenção!
Fabrique um boneco, arrume um cão!
-Não posso parar agora!
-Tenho que entregar á tristeza,
mais seis litros de lágrimas!
-E á solidão, rascunhos com dúvidas.
-Ei, psiu, é a formiga de novo!
-Fale formiga, o que esqueceu aqui!
-Nada, só ia perguntar-lhe como por esses lados!
-Só mudamos de tamanho e número de pernas mas você, tem uma vantagem!
-O mundo é bem maior!
-E as estrelas? Retrucou a formiguinha.
-Não apitam nada!
-Mistério é só mistério, não enche barriga!
Vamos lá no sol que as nuvens estão a passar.
E fomos eu e a formiga universalizar pensamentos no calor da manhã.
A faca.
O papel não aceita mais minha tinta.
Não entende esse pecado de tentar em vão.
Fraco e sem dedos nas mãos vou tremulando a faca...
Deleite para o fim da dor.
A Tom Jobim.
15 anos sem Jobim.
Realmente, tudo que é bom, tem fim.
Tanta coisa ruim pra ruir
e vai se embora meu maestro.
Cancionar, harmonizar o sol de Copacabana.
Eita saudade corroída pelo tempo,
eita tormento, piano com pano.
Consigo ouvi-lo quando em silêncio, ponho-me
na enevoada manhã dessas montanhas.
Estrangulo com as mãos, o pecado do ócio.
A ansiedade dessa cidade.
O tribunal de inquisições formais.
As bruxas de hoje não usam vassouras,
usam a mídia para se locomover.
Cansado dessa euforia do tempo,
de passar gota a gota pelo relógio,
coloco um vinil de Jobim e pronto!
Agüento mais um tempo até o disco acabar.
Alma danada.
Hoje tentei despir minha alma dos pecados.
Fiquei sem ar e não parava em pé.
O que me sustenta os são erros e medos,
parabéns para você que tudo que faz, da certo.
A única coisa certa que vou fazer é morrer, é morrer.
Mas por favor, deem uma checada,
que essa alma danada,
adora pregar peças.
Túmulo de pesares.
Pensa, pensa, pensa,
túmulo de pesares.
Produz sua dor em mágoa,
pra mais tarde em paz, chorares.
Busca, busca, busca,
filho do desprezo e do escuro.
Busque encher seu embornal,
de todo mal e costure os furos.
Não perca um grão de desesperança,
que faz falta pra essa velha criança.
Melhor ter solidão do que nada.
Melhor só ter uma estrada,
do que procurar nos caminhos já percorridos,
sua morta amada.
Solidão dos pensamentos.
A pior solidão que existe, de dia, a noite ou a todo momento é a solidão dos pensamentos.
Mesmo repleto de virtudes, sorrisos e gemas, correntes de ouro o prendem a realidade, lavando de suor, os sonhos.
Ser repleto é ser completo, só com os pensares que povoam o ar.
Um poema sobre o amor.
Várias vezes ouvi falar,
de ler, cansado estamos.
A maior escola que herdamos,
é o querer do mundo em amar.
Nos olhos, na manhã observo,
olhos universais, verdades metafisicamente testadas,
acaba com o pouco que tenho
de aliviar meu mundo correto.
O certo é não perder a vista.
A vista da montanha, à vista.
Ganhou meu coração não com parcelas,
Comprou, pagou em espécie, há vista.
O cheiro do almoço, costela com cominho,
eis onde vim parar.
No tempo da vó Alzira, do tutano,
no tempo da saudade de fulano.
Gostaria de saber que sinto,
exprimo a solidão e o afeto que a palavra tem em mim.
Saudosa poesia que invade,
tal os olhos da amada.
To dear Sue.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus,
como acontece toda hora,
uma presença grandiosa e bela,
bela ninfa, esplendorosa aurora.
A caminho da Alemanha se vai,
aquela que tocou meu coração.
Meu refrão, minha canção, meu bolero.
A poesia, a trova, a canção.
Como faróis num mar sem fim,
seu sorriso ilumina a manhã,
uma saudade boa, uma fina garoa,
é o pensar que em minha alma assanha.
Querida e bela Sue,
Onde estará dentro de mim?
Num barco qualquer, bem longe no mundo,
torcendo os desejos, arranco do fundo,
forças que não possuo para continuar.
Estrela da manhã,
aura estelar grandiosa.
O acaso trouxe você,
a vida te leva a voltar,
para seu lugar, para seu lugar.
Borboleta errante.
Eu vi borboletas voando em duplas.
Depois de um tempo, só uma voltou.
Bem vinda borboleta ao meu mundo
De possuir o céu,
de voar sem rumo,
de amar o prumo da vida,
de ter a esperança perdida,
de encontrar nesse quintal mundano,
a outra borboleta que errando,
foi com o vento passear.
Brisa implacável.
Olha quanta coisa se perdeu,
olha onde escondeu a solidão.
Nunca foi morada tal esfinge,
tão nobre és teu coração.
Veja quantas noites nós choramos,
tristes, desolados, separados.
Sou mais que a bela borboleta,
que perdeu uma asa na brisa implacável.
A arte emana.
Passa por mim, passa por nós, pega você.
Isolado em seu mundo, ator maior moribundo, poeta.
Sub-quarto só e liquido, tendo ainda a grandeza de ser inteiro, completo e só.
Fruta da estação atual.
*Monologo da tristeza.
Tristeza, traga de longe sua luz,
escura luz de pensamentos.
Pétalas que nadam na solidão dos penares.
Navegam sobre o doce e sereno mundo único.
Longe.
Bem longe das referências de toda essa gente.
Tristeza.
Fruta da estação atual.
Doce, saborosa, textura simples como favo de mel.
Estrelas fazem doer, lágrimas de orvalho, uma chuva de saudades que vem sacar o sono e doar pequenas gotas de sereno no canto dos olhos.
Ah! tristeza!
Sina de beleza ímpar, lenço branco e cândido que cobre a vergonha alheia.
Fruta boa!
Tenho um bom pé no fundo de casa.
Enquanto existir alegria, estarei contente.
Consequentemente, irmã do riso,
contido fim que sempre enrosca.
A brisa, abraçando levemente as mãos,
carrega-as para os olhos e interrompe a luz.
Selam chances, desviam para outros mares.
Tudo.
Tudo é tristeza.
Tristeza boa é tristeza completa.
Áurea solidão.
Meus pensamentos são,
como poeiras em raio de sol.
Na matinal manhã que desponta, quem tem olhos, que veja,
passar por sobre nossas cabeças,
a áurea solidão.
Eternidade.
A cidade amanheceu cansada, velha demais para continuar.
Prédios sussurram as igrejas que a nobreza do tempo, acabou.
Amanheceu e banhou-se no mar, a sombra da belíssima construção.
O cavalo corta a rua com seus cascos calejados e cansados de fendas e buracos.
Para, respira, bebe a santa agua e prossegue, cansado como a cidade.
Olhares perdem-se com as poeiras de eras, centenárias cenas, casas grandes e pequenas, bordado longo, calmamente elaborado.
Tijolo por tijolo o tempo desfaz, uma saudosa brisa curva-se sobre telhados e janelas.
É a mesma de vidas atrás.
Só os personagens mudaram.
A cidade vai dormir cansada para acordar disposta a brilhar por mais um pouco, na eternidade da memória.
Borboleta errante.
Eu vi borboletas voando em duplas.
Depois de um tempo, só uma voltou.
Bem-vinda, borboletinha, ao meu mundo.
De possuir o céu,
de voar sem rumo,
de amar o prumo torto da vida,
de ter a esperança, perdida,
de encontrar nesse quintal mundano,
a outra borboleta que errando,
foi com o vento, passear.