Neirilane Lima
Nunca mais ouvi o sino daquela igreja bater. Era 07:00, chovia. A rua estava em silêncio. No céu cinzento não havia pássaros, apenas um imenso cobertor sem cor que cobria as árvores.
Aquele momento fez tudo parar, me permitindo lembrar que o que encanta é o toque, depois o silêncio. Dois extremos: um desperta, o outro faz sonhar.
Meu amor é amarelo. Cor do sol, fogo. Arde e queima a pele. É vermelho. Sangue latino, corre nas veias, dilata, contrai, bombeia tudo aquilo que já não é meu.
Quem te descobriu?
Oh terra vista
Tão linda tu és
Transbordas beleza
Com toda a sua natureza
Homens, rios, luz
Sol, selva, mar
Nação guerreira, gente que faz
Felizes são os seus filhos
Que mesmo em plena escuridão
Levantam cedo e vão à luta
Alimentam-se também de sonhos
Clamam por justiça
Zelam por punição
E que esta não seja apenas para os desfavorecidos
Mas alcance a autarquia
Os plenários e as bancadas
E quem sabe um dia os culpados sejam condenados
Para assim fazer valer cada folha que cai
Cada nascente que vai
Todo sol, todo o luar
Que nasce, inebria
Fazendo quem chega às cinco regiões do Brasil
Comemorar em cada chegada
E prorrogar cada partida
Sem fazer dela jamais uma despedida.
Eles foram os primeiros
Habitaram, trabalharam, cuidaram
Fizeram renascer
A flora, a fauna
Moveram, cresceram, prosperaram
Os seus filhos são luz
O seu suor sagrado
Andam juntos
E até hoje vivem e sonham
Nos quatro cantos desse Brasil
Todos os dias é o seu dia
Eles não são diferentes
São iguais
Hoje é apenas mais um
A comemorar rio, canoa
Peixes, raízes
E por que não?
Evolução, sabedoria
Realidade, inclusão
Formação, globalização.
Amo pessoas de olhar bonito
Que movem os seus pés
Sorriem com riso de alma
Cumprimentam sereno e tão somente
Os que mantém a cultura
Fortalecem a voz do outro com o silêncio
Propõem diálogos saudáveis
Recordam os valores
Trazem consigo saberes, intenções
Sustentam reflexões
Vão além dos credos, das classes
Dançam e fazem dançar
Estão presentes mesmo sem ser para ficar
Que têm que partir sem saber para onde ir
São sós, estão sós
Choram, flutuam, voam
E inocentemente tristes
Me fazem sorrir
Numa boa.
Seu olhar é pleno
Mesmo em dia nublado
As gotas d'agua lubrificam
Tornando límpido o que estava "barro"
Decoras o mundo
Com esse rosto céreo
Seus cristais...
Intensamente fúlgidos
Me olham
Se veem
De dia invadem o nosso lugar
À noite tingem a lua
Ditam frases ao novilúnio
Dobram as nuvens
E por mim flutuam.
Um girassol para as camaradagens desarticuladas.
Quem sabe um dia
A vida nos permita
Entre essas idas e vindas
Trocarmos nossos telefones
E amanhã então
Estejamos juntos alí
Andando...depois descansando
E se cansarmos
Em algum lugar
Sentar para descansar
Depois novamente caminhar
Dar nós em paralelas
Sem ter hora pra voltar...
O amor que sinto é cobiçado
Livre, ele segue independente
Firme, às vezes enfrenta seu próprio inconsciente
Tem luz própria
Assim ilumina a ingratidão que lhe condena
Caminha sem trepidar
Desafia o seu desandar
Sobe, desce vales sombrios
Onde constantemente é surpreendido
Pelos desafios
Perdendo o olhar que um dia lhe sorriu
Desacredita, desabona
Mas se consola
No que restou talvez
Da insensatez dos desejos incontidos
Das loucuras dos "querês" proibidos.
Você é frágil, mas não é um brinquedo
Canta para encantar
Dorme cedo, contigo me faz sonhar
E de manhã sorri pra mim
Visita meu jardim
Constrói meu camarim
Simplesmente me faz dançar
Nas belas tardes
Oh tardes eternas
Cheia de tulipas amarelas
Perto de ti já não me sinto tão donzela
Te olho, em ti me decalco
Sua expressão é minha emoção
O seu colorido, mexe comigo
E em cada linha, cada passo
Por ti perco o passo
E feliz em ti, me embaraço.
Quando você entornar as suas águas
O que ainda não nasceu
existirá.
O que estiver repousado
vai jornadear.
O que ainda não floresceu
brotará.
O que estiver sem início
vai surgir.
O que ainda nem formou
vai se apresentar.
Num belo palco
com plateia e holofotes
Dando o melhor só para te ver passar.
Ainda hoje andando pela rua me deparei com um motor homes antiquíssimo.
Apesar de ser um objeto deteriorado pelo tempo, ele ocupava um espaço naquele lugar. Mesmo não iluminando mais, os seus faróis eram originais e estavam alí.
A placa apesar de ilegível, ainda o identificava e permanecia no seu lugar específico.
Suas janelas por osmose viviam abertas. Através delas corria o vento, a corrosão do tempo.
Os pneus apesar de desgastados, ainda o sustentavam.
Conquanto "ele" chamou-me a atenção por seu detalhe singular, por seus cortes únicos, pela segunda capa que o protegia: A poeira.
Assim devemos seguir...
Apesar do descontrole dos dias e da mudança do tempo, ora produtivos, outrora temíveis devemos estar observando, sendo observados e deslumbrar a quem nos olha.
E mesmo que para muitos estejamos passados de fase, ultrapassados no ciclo de vida, digamos:
Muito prazer! Eu existo!
Cores...
As flores de maio
Já tingiu
Realçou o branco
Deu vida ao preto
Passou a dor do luto
O amor por si só, vai superar
Já já te farei o meu bem
Conversas, risos, casos
Besteiras, delongas
Cumpra a pena da altivez
Resgate o seu sorriso
A ele diga: Sim!
Torne a vida fácil, não frágil.
Vou com você
Não tenha medo
Segure minha mão
Acalme seu coração
Pode sorrir
Você vai ver
Tudo vai florir
É só ir lá
Entrar, ficar
E o amanhã?
Ele já está
Chegou para ficar
Me deixou perceber
Que será muito bom contigo estar
Por isso levante
Apresse o passo
Se perca, se encontre
Se enrole nos laços
Se veja diante
Do meu abraços
Você é quem traz
Uma sensação de paz
Jardim, pomar
Cavaleiro em seu movimento
E o cabelo da moça
Esvoaçando ao vento
Oh brisa suave
Por mim se abale
Chega mais perto
Me convide para um "acalme"
Ao cair da noite
Na companhia do cais
Por ti os barquinhos balançaram
Nublou mas não descoloriu
O dia escuro surgiu
Sem "colos", sólidos, frios
Pardais se encontraram
Enfeitaram a paisagem
Mas dali, logo se ausentaram
Voaram ao norte
Trouxeram o cinza
Caiu a tempestade
Mudou todo o clima.
Nessa foto colorida
Sem camisa, me revelas
Tão menina, tão donzela
Mais intensa, mais mulher
Me conserto
Desconserto
Com os teus botões
Já não sossego
Quando vejo o que por trás
E esse pelo tão voraz
Desse homem nada frágil
Vento leva, vida vai
Viva a via
Que me leva
Sua magia
Me atrai
Esse cheiro que irradia
Docemente me refaz
O domingo passou
Segunda, a chuva presenteou
Com ela mais uma chance
De limpar os vidros da janela
Do lugar onde mora o coração
Que a correnteza desobstrua os trilhos da alma
Firme a brancura dos risos amarelos
Enrugue a pele dos intolerantes
Expulse a sujeira dos tratantes
Que nesse dia que começa
Os gritos sejam tempestuosos
Os passos triunfantes
Brilhem os olhos "coloridos"
Vejam em breve o fim glorioso
De todo esse esforço acometer
Os tolos que no poder
Insistem permanecer.
A verdadeira arte não agrada, eleva.
Assim como o amor é uma arte
Desvendando os mistérios da vida
O ser humano capaz de amar
Elevado está
Músculos, vértebras
Corpo, alma
Por isso, não ame para agradar
E sim para reconstruir-se
Enaltecer-se
Se perceber como uma semente
Que cai, morre, é absorvida
E quando menos se espera
Desenvolve, germina
Novamente recriando o seu percurso de vida.
Pois sei que nunca foste o "acaso"
E sim aquela grande fase
Que traz consigo recados
Contos, linhas à parte
Logo que abri o passaporte
Havia um convite seu
Assim parei, sorri
Senti você intrigado por mim
Não sabias que já te percebia
Preferiste continuar sem acreditar
Respostas, propostas, apostas
Aquele filme Hollywood
Lançamento
Repleto de fundamentos
Grande clássico
Digno de aplausos
Foi o tão esperado lançamento
E é assim o final de cada etapa
Cada vida segue seu passo
Quem sabe o solene dia virá
Para relembrar a abertura das bilheterias
A emoção do seu fiel público
A gloriosa estreia do seu grande elenco
Sem palco, poltronas, cortinas
Apenas duas vidas recordando o que não lhes foram apagados pelo tempo.
O Shampoo Sempre Termina Antes
Justamente! Primeiro é preciso lavar, massagear, eliminar a sujeira, aliviar o peso da moleira, para só depois condicionar e confortar os poros, pois para respirar o ar benéfico precisamos estar de coração limpo e com a alma leve.
Ninguém jamais conseguirá adentrar no mundo dos sonhos sem antes conseguir eliminar as crostas da alma. É imprescindível passar por uma limpeza caprichada. O contrário é antiestético, séptico.
Então, vamos deixar escorrer pelo ralo tudo o que nos causa esqualidez, ardência e pruridos, para que assim tenhamos mil razões para prosseguir em busca dos nossos objetivos.
As Duas Grandes Potências: O Amor e o Ódio
Sentimentos que lutam para sobreviver
Mesmo aos pedaços dentro de cada ser
Então nos resta saber
De qual deles se esquivar
Qual nutrir, alimentar
Ou como ir embora e disso tudo se livrar
Quando procurar a chave
Para enfim libertar
Essa coisa que pulsa, queima, entontece
Que por vezes os nossos nervos estremece.
Dominando os meus sonhos, ele vem
Com seu toque suave
Firma seus largos ombros
Pega em minha mão
Esse amor é discreto
Maquiagem suave
Cheirinho de talco
Alecrim, champignon
Não sei quem mais sabe
Que por trás da minha imagem
Ele vive a entoar
Aquele clássico Mozart
O ritmo mais inspirado do meu coração.
Contemplar e Viver ou Desesperar-se?
A paisagem é a mesma faça chuva ou faça sol, mas o que vale a pena mesmo nessa vida é aproveitar o que há de melhor nos "riscos eminentes". E eu prefiro mesmo é contemplar, sabe? Às vezes, viver desafiando os medos, as fragilidades e os possíveis desmoronamentos nos torna bem mais atentos e dispostos a não mudarmos de lugar, mesmo quando o anúncio das tempestades sobrevêm.
O Que Vem de Ti
Você, lindo menino
Botânico, tão natureza
Decorado ambiente
Fino, colorida estampa
Contigo segue o baile
Me convidas para uma dança
Mas não sei dançar
Aproveito pra te olhar
E me vejo em ti
Nessa íris caramelada
Mel, amêndoa, laranja adocicada.
Amor em Lugares Submersos
Ao mesmo tempo inspira e assusta
Como um suave toque
Que de repente se torna forte
Necessário, preciso
Na determinante braçada final do competidor
Aquilo que não se conta
E ainda nem está escrito.
Ele delirou sem ter febre
Quando olhou no espelho
E viu a imagem da sua fada
Era noite, quando ela iluminou a sala
O seu reflexo tinha pressa
Te trouxe uma frase escrita
Um beijo, descrevia um certo cuidado
Flash de coração envolvido
Marcas de pneu, gritos incontidos
Anos, viagem, passado
Luar, sessões, cinema
Batom, sorrisos
Sinceras lembranças, saudades
O minuto final chegou
Ela enfim, partiu
Cantando aquela canção
Deixando aquele vão, as coisas, o então...