Naomicerveja
Será que sou tão difícil de ser amado alheiamente?
Será que algum dia vou ser amada e compreendida?
Porque não saber o que é compreensão dói,
pois eu só conheço a minha própria compreensão.
O amor, ele é quando beijamos ou quando admiramos?
Pois eu só fiz a admiração,
pois ninguém é capaz de beijar
um insalubre vaso vazio como eu.
A admiração só vem de mim, nunca alheia;
será que essa admiração pode vir
de alguém além de mim?
Porque eu tô fugindo disso,
será que é porque dói?
Correr é fácil,
mas e ficar?
É pedir demais?
Meu amor se foi, e minha vida foi junto.
Meu amor não possuía duas pernas,
e sim patas — quatro, para ser específica.
Quando ele se foi,
abriu um vazio dentro de mim
que nunca pude fechar.
Dias fingindo estar bem,
noites chorando por sentir culpa.
Isso me fez refletir…
Ele foi embora por minha causa?
Eu fiz algo?
Eu implorei,
clamei para que levassem a mim
em vez dele.
Ele era inocente,
doce e amoroso.
Fechar o corpo com terra sempre dói,
pois em seu corpo, agora há terra…
E no meu,
o sal liberado dos olhos.
O ódio mata, mas e o amor?
Sempre me falaram:
"O ódio dá câncer no peito."
Mas e o amor? Onde ele dorme?
Onde ele dá câncer?
Por que nunca se fala
da maior dor de amar,
mas se fala do ódio?
Eu não amo pessoas o suficiente
para deixar que toquem minhas cicatrizes,
pois sei que vão tocar
com mãos cheias de sal.
Todas as minhas feridas
foram por amar demais.
Ninguém fala como o amor mata
mais do que o ódio.
Pois o ódio nunca vem sozinho.
Antes de odiar, havia amor.
Antes de odiar alguém, você a amava.
Mesmo sem conhecer, você amava
por não conhecer.
Agora que conhece, odeia.
Então, quem mata não é o ódio.
Quem mata é o amor.
Ele é uma doença invisível para os intensos
e, para os superficiais, uma brincadeira.