Nando Parrado
Naquele instante, todos os meus sonhos, suposições e expectativas de vida evaporaram no ar rarefeito dos Andes. Sempre considerara que a vida que é verdadeira, natural, e que a morte era simplesmente o fim dela. Mas lá, naquele lugar estéril, compreendi com uma terrível clareza de pensamento que a morte era a constante, a morte era a base, e a vida não passava de um sonho breve e frágil. Eu já estava morto. Já nascera morto, e o que eu achava ser minha vida era apenas um jogo que a morte me deixara jogar enquanto esperava a hora de me ceifar. No meu desespero, senti uma necessidade aguda e súbita da ternura da minha mãe e de Susy, do abraço forte do meu pai. O amor pelo meu pai crescera no meu coração e percebi que, apesar da irremediabilidade da minha situação, a lembrança dele me enchia de alegria. Era impressionante: apesar de todo o seu poder, as montanhas não eram mais fortes que o meu apego a papai. Elas não conseguiram destruir minha habilidade de amar. Tive um momento de calma e clareza, e dentro dessa clareza de pensamento, descobri um segredo simples e aterrador: a morte tem um oposto, mas ele não é apenas a vida. Não é a coragem, a fé ou a vontade humana. O oposto da morte é o amor.