NandaaGoncalves

Encontrados 8 pensamentos de NandaaGoncalves

"Quando a Chuva Fala"

Cai a chuva, em verso manso,
como quem canta um velho canto,
que embala a terra em doce transe
e lava o tempo do seu pranto.

O som que faz é quase abraço,
um sussurrar de acalentar,
batendo leve no telhado,
como se a vida fosse ninar.

E o cheiro... ah, o cheiro vem
como lembrança de outro dia,
de pés descalços na infância
e alma limpa de poesia.

Cheiro de chão, de folha e vento,
de coisas simples, sem demora,
de tudo aquilo que é eterno
e cabe inteiro numa hora.

A chuva chega sem pedir,
mas deixa tudo mais bonito.
O som, o cheiro, o existir —
num instante infinito.

Inserida por NandaaGoncalves

⁠"Entre o Tempo e o Destino"

Amanda corria entre flores no chão,
José com um riso, coração na mão.
Infância moldada em tardes de sol,
Promessas na alma, sem papel ou anzol.

Na rua de pedra, juraram se amar,
Mas a vida é vento, e o vento é o mar.
Vieram partidas, vieram adeus,
O tempo fechou os olhos dos céus.

Cidades distantes, caminhos cruzados,
Sonhos calados, corações adiados.
Mas mesmo o destino com planos tão seus,
Não apaga amores escritos por Deus.

Anos se foram… até que um dia,
Na mesma cidade, de volta à magia,
José a reencontra com o mesmo olhar,
E Amanda sorri, como a recordar.

Sem dizer nada, o abraço falou,
Que o tempo passou, mas o amor ficou.
E ali, sob as folhas do velho jardim,
Começa o agora, sem fim, sem fim.

Inserida por NandaaGoncalves

"⁠Primavera em Verso"

Desperta a terra em doce alarde,
com flores dançando em tom suave,
o vento canta, a vida arde
num verso leve que não se acabe.

Borboletas traçam no ar
desenhos livres de esperança,
o sol sorri só de espiar
o renascer da temperança.

Os campos vestem-se de cor,
os ramos brotam sonhos novos,
o tempo abranda sua dor
e pinta o céu com traços roxos.

Primavera, estação do peito,
onde tudo encontra jeito
de florescer sem ter receio —
até o amor, num simples beijo.

Inserida por NandaaGoncalves

Cansaço Invisível

Carrego um peso que ninguém vê,
um nevoeiro denso dentro da mente,
um grito calado que não se desfaz,
ecoando em silêncio, eternamente.

Pensamentos correm, não sei pra onde,
me perco entre eles, sem direção.
O corpo presente, o espírito ausente,
a alma em queda, sem explicação.

Sorrisos ensaiados, olhos cansados,
respostas automáticas, gestos vazios.
Acordo cansado, durmo inquieto,
num ciclo sem pausa, frio e sombrio.

Queria um descanso que fosse profundo,
não só do corpo, mas do mundo em mim.
Um colo, um tempo, um recomeço,
onde eu me encontre — e diga: "enfim".

Inserida por NandaaGoncalves

Quase Nós

Éramos dois rios que queriam o mar,
mas corriam por margens opostas.
Dois tempos que nunca se encontram,
duas almas quase dispostas.

Nos olhos, havia promessa.
Nos gestos, carinho e abrigo.
Mas o mundo — cruel em seus mapas —
não traçou o mesmo caminho.

Faltou tempo, sobrou sentimento.
Faltou coragem, restou lembrança.
Vivemos no eterno “e se...?”,
no espaço entre o medo e a esperança.

Não foi falta de amor, eu juro.
Foi excesso de mundo, talvez.
Fomos poesia sem rima no fim,
história que o destino desfez.

E mesmo longe, ainda sinto
teu nome sussurrar no ar.
Fomos quase. Quase tudo.
Mas o quase não sabe ficar.

Inserida por NandaaGoncalves

Chuva em Paranaguá

Cai a chuva sobre os telhados antigos,
molhando histórias que o tempo guardou.
Paranaguá veste seu cinza mais belo,
como quem chora, mas não se apagou.

O cais repousa em silêncios molhados,
barcos dançam ao som do trovão.
Nas calçadas, passos apressados,
corações lentos em contemplação.

As ruas refletem faróis e saudades,
espelhos d’água de um tempo que foi.
O cheiro da terra se mistura à brisa,
e cada gota parece dizer: “depois”.

Depois da pressa, vem a lembrança.
Depois do adeus, a vontade de ficar.
Na chuva mansa de Paranaguá,
há uma paz que sabe esperar.


Espelho de Culpa

Ele sorri diante do espelho,
não pra se ver, mas pra se vangloriar.
Se algo quebra, ele aponta o dedo:
"Foi você quem fez tudo desmoronar."

Finge afeto com palavras doces,
mas por trás, só quer dominar.
Cada lágrima que ela verte
é motivo pra ele se justificar.

"Você que é sensível demais",
ele diz, com voz de professor.
Mas é ele quem joga com a mente,
quem planta o caos e finge amor.

Torce a verdade até ela ceder,
inventa um drama pra se proteger.
E se ela grita, ele se cala,
fazendo o mundo nela não crer.

Ela carrega culpas que não são suas,
vestida de desculpas que ele costurou.
Mas um dia, o espelho dele trinca
e ela, enfim, se libertou.

Inserida por NandaaGoncalves

Páscoa em Silêncio

As flores renascem, a mesa se enfeita,
mas há um vazio entre os talheres.
A cadeira vazia diz mais que mil palavras,
emudecendo os risos que já foram plenos.

A Páscoa chega com promessas de vida,
de recomeços, de fé restaurada.
Mas dentro do peito, uma cruz invisível
carrega lembranças mal cicatrizadas.

O som das crianças, tão doce, tão leve,
não alcança o canto onde a saudade mora.
E os sinos, que tocam chamando alegria,
ressoam em ecos de quem foi embora.

O coelho não veio, o ovo não importa,
se a ausência aperta feito espinho.
A ressurreição é para os fortes — ou santos —
eu apenas caminho, sozinho.

Mas ainda assim, entre sombras e dores,
uma vela insiste em não apagar.
Talvez Páscoa seja isso, no fundo:
esperar a vida… mesmo sem enxergar.

Inserida por NandaaGoncalves