Nahuel Rodriguez
“Reloj”
Cada ponteiro, segundo que passei...
Sentirei mais falta do que faltei
Sentirei mais falta do que não pensei
Mas se eu inverto o ponteiro das minhas faltas
E fizesse com que minhas faltas não fossem faltas
Não sentiria o aroma do prazer
Não sentiria os ruídos do tempo
Não sentiria as texturas do vento
Não sentiria o que senti um dia...
Um musgo brotando em meus poros para nascerem algumas palavras do meu coração.
“Paciência”
Não quero interjeições
Mas sim as outras palavras inteiras
Que seguem
Que voam
Frases com raízes
Puras e cheias como o aipim
Suaves e ternas como as peras
Inclinar-me á um lago
E procurar-las entre as pedras
Sentir o frio entre meus dedos
E manusear letra por letra
Segura-las como uma pedra qualquer, jogá-las na água
Para ver se tocaria duas vezes no espelho
E refleti-se em minha vida a favor do intenso.
“Nós”
Somos simples como arroz e feijão
Estranhos, como rato e leitão
As vezes ocos como os cocos
Inteiros como as mudas
Curtos como o tempo
Mas puros como o amor.
“Escuro”
Caminhei provando os passos
Caminhei sentindo abraços
Caminhei sentindo amor
Ouvia as pedras sendo pisadas
Sentia a chuva ressecada
Andei em rumo ao nada
Joguei-me no mar, submergi
Procurando respostas nas areias finas
Entre as algas pequeninas.
“Jardim”
Colhendo palavras pintadas
Reconhecendo as borboletas e a cor suave das violetas
Alimentando seu coração poroso, com pólen de músicas
Encontrando as diversas cores em nuvens de flores
Nos jardins de gnomos
Aonde todos nós podemos encontrar nossos sonhos de novo.
“Musico”
Vendendo as entradas
De suas doces palheta - das
Conduzidas lentamente
Cantando que o amor não mente
Sobre as margens do entardecer
Na superfície do céu até as cores do amanhecer
Em suas melodias e doses de harmonia
Encontrando um caminho prematuro
Longes de dor, extensos de amor.
“Ansiedade”
Minhas mãos úmidas
Alerta a seca dentro de min
Alerta o que não veio
Desperta o que esta por vir
O estomago murcho
Procura soprar o incapaz
Procura inspirar algo mas
Algo como um trevo ou uma sorte qualquer
Que escute uma pequena surdes ou que me traga a paz mais uma vez.
“Atalho”
Na segunda quadra
Tropeçou em seu cadarço
Lembrou de quando esteve sozinho dentro de sua mente
Como as uvas quando viram passas escolhidas manualmente
Na primeira quadra
Caiu
Sentindo-se como uma rolha quando é consumida pelo vinho
Sentindo o cheiro azedo do próprio caminho
Na terceira quadra
Andou seguro
Mais queria o doce, o vôo
Continuava pequeno ao enjôo
Ralou tempo
Picou fé
Moeu a má maré
Voltou às quadras
Encontrando o cheiro do mel
Voando com as mariposas no céu.
“Pontos”
O tempo derrete
Os olhos te tragam
Rastros de amor se apagam
O puro amor leva o céu
Só lembrarás de algumas letras delicadas no papel
Não!
Viajarás longe novamente, ao lembrar do sabor das pequenas palavras de sua boca.
“Amor”
Minha, do tempo ao intento
Amada de frutos, de galhos
Tingindo-me cada vez mais pensamentos
Amor inocente que o tempo não recicla
Fosco que de momentos inspira
Simples, que o próprio complexo se retira.
“Noitinha”
A luz da lua fina filtrou
O que o sol não escovou
Restinhos de sons que ficaram
Em um clima vesgo e triste
Fechei meus olhos naquela noite
Abri minhas mãos ao sereno noturno
Ergui meus braços solitários
Fiquei em pé na areinha branca
Respirando fundo o horizonte
Inalando alguns hibiscos
Junto com o velho pólen de amor
Enquanto o vento me buscava e a terra me observava.
“Estrato”
Nuvens de cabeça
Caminhos na contra mão
Pressa nos sapatos
Amigos de refrão
Flores no fogão
Calor entre a escuridão.
“Só”
Com paciência nos pés
Apareceu-me do jardim encapuzado
As breves folhas que caiam do telhado
A brisa curta que descia ao chão
As pálpebras abrindo e fechando na lentidão
Um amor úmido de dentro, que aquecia meu coração.
“Louco”
Abri trilhos de um colchão duro e adormecido
O céu me consumia e engolia cada cacho de tecido
Meus pés corredores atingiam a sombra dos meus ouvidos
Esperava repor os meus sonhos coloridos
A cada pintura de casas e trigos
A cada escrita de um verso enlouquecido.
Revivendo
Esquentou a luz do dia com a natureza fria
Na ausência dos risos dos teus passos
Na plumagem suave dos teus beijos
Citando equações de pequenas palavras
Fazendo com que cada brasa de uma lenha acolchoada, vire cinza escura
Ardendo em cada cílios dos seus olhos
Queimando toda a coloração do seu corpo
Revivendo mais uma vez o vazio.
Segundos
Estimulei o recuo imaginário
O tempo soprou ao contrário
Escuro e arejado
Com a lanterna na mão
Iluminei poemas, traços tortos de saudades no chão
Dias brilhavam e outros afogavam
Em letras, arpejos em sintonia
Notas secas, outras úmidas de pura alegria
Percebi o frio daquela loucura...
Então me encontrei no seguinte.