N Arnaud
Através da janela da alma me encontrei, em meio a um emaranhado de rascunhos amarelados perdidos no tempo, carregados de paixão. Linhas e letras a vagar no pensamento, paralisando o momento e refletindo um passado a muito engavetado. Quem diria que um coração já ultrapassado e amarrotado palpitaria com tantas lembranças, trairia a razão por uns instantes de compaixão. É notável a grandeza de detalhes que sobressaltam aos olhos e caminham lentamente ao presente e nos coloca frente a frente com a realidade. Parece vago e remoto o longo espaço que separa a ingenuidade da maturidade que parecemos ter, e sem perceber provamos novamente a mesma delicadeza que nos arrebatava, agora porém com destemida imprudência de quem vê no tempo seu inimigo mortal.
Esse sentimento, suponho eu pela vaga lembrança só pode ser amor, tem feito eu viver plenamente cada instante......
Só entendemos a loucura quando nos tornamos os protagonistas de uma paixão, vivemos um delírio e a alma busca abrigo e aconchego. Fica difícil impor limites, já não sou eu, somos nós e estamos em tão sublime sintonia que não depende só do meu querer, juntos e sem controle nos perdemos. A busca incansável pela sensação do toque que se dá por inteiro e sem reservas, fica o sussurro das palavras insanas no auge do prazer....., lentamente e no mesmo ritmo voltamos a realidade e já não está tão perto, fica apenas o respirar ofegante tentando se encontrar.
Caminhando lentamente fica mais latente a dor, inconfundível sentimento de vazio que tua ausência deixa. A incansável busca da resposta por não ter-me feito morada no início da jornada, um passado já distante que não conseguiu apagar as marcas que foram poucas mais intensas. A cada passo sinto as pegadas deixadas para trás, evidenciando uma consciência sobrecarregada por um momento cheio de sentimentos mais inegavelmente ilícito ao pensamento, já não somos imaturos para quebrar regras no entanto nosso desejo vai além da experiência adquirida com as muitas primaveras, delicadamente a juventude volta a brilhar nos olhos e nos deixamos levar pela fraqueza da alma. Inevitavelmente o medo faz presença constante e perspicaz mas a volúpia perpetua e ficamos novamente a vagar nos nossos sonhos.
As relíquias que guardamos na alma servem para lembrar o passado, evitar que o presente seja meramente vivido e não sentido no seu esplendor sem anular os sonhos, naufragar os pensamentos e corromper os sentimentos, não deixar as falhas antigas serem repetidas, procurar dar um novo rumo aos contos e encantos que a vida proporciona. A lucidez partilha da mesma trilha que a insensatez, ambas se debatendo por prioridade, deliberadamente nos envolvemos com uma pitada de carinho, afeição e humor, sem no entanto perder o sabor que o momento traz. Assim lentamente vamos demarcando uma fatia do coração para explorar nossos mais profundos desejos sem reservas, sem cobranças, sem limites.
Quando desdobramos o amor, ele não cabe mais no peito, fica espremido e transborda pelas beiras e faz um bem tamanho dividi-lo...
Ditas e benditas palavras que acalentam, lamentam e curam, tem o poder da fúria, da lamúria e da luxúria. Muitas são jogadas ao vento sem o menor sentimento, tem as que se enchem de drama e as que vem e difamam. Há as que expressam fé, purificam e semeiam paz, aquelas que escondem a verdade no que dizem, e as que se corrompem antes mesmo de serem ditas, tem as que são pronunciadas com carinho e tem o poder de despir e acariciar a alma, essas nos tiram a calma. Nem sempre palavras são apenas palavras, muitas são sufocadas no coração e deixadas lá sem opção e outras arrancadas muitas vezes sem permissão. Sejamos cercados de doces e meigas palavras, pois as com veneno não se tem antídoto.
Quem diria a calmaria de um coração que ama, mesmo com drama e tantas tramas, nem mesmo o conflito de ser ilícito tira a leveza inebriante do momento, tão marcante sentimento que se traduz em minúcias. Tem a notável capacidade de tocar meu íntimo, me transporta e nem se importa com o caos que causa, todos os sentidos são aliados para uma perfeita conspiração é assim se dá a nossa inevitável conexão. A cada instante atamos mais o nó, vulneráveis a carregar com cuidado a alma um do outro com a delicadeza de não arranhar a fina proteção que nos impomos.
Nas reticências da vida deixamos muitos atos, fatos e relatos pelo caminho, bagunçamos e falhamos e sem méritos ficamos nem mesmo nos acertos. Parecemos comida insossa, sem teor, de um paladar já costumeiro. Nem mesmo o reflexo sem nexo nos traduz, sem brilho, sem vida, sem luz e assim nos embriagamos de tédio e fazemos desse momento uma repetida cruz. Já não sou mais alma que acalma, beleza que inflama e presença que faça a diferença, me tornei o não sei quem de alguém...e assim quase que inevitável as reticências consomem as palavras, se perdeu os motivos, os conflitos já não geram atrito e o tanto faz se fez constante. Já não sou mais eu, o nós se rompeu, caminho vagando invisível procurando decifrar onde chegamos, onde nós perdemos, remendar já não é possível há muitas brechas, rupturas sem volta é assim fico eu no anonimato de meus dias sem tons.
Cativas com tuas doces palavras minha cansada alma, ensina-me de novo a sentir a leve sintonia que palpita no coração, meu respirar manso te sente, te acolhe. Vem furtivamente moldando os traços já quase apagados do meu contido desejo, arranca de mim lentamente a solidão e ilumina meus sentidos. Percebo quase que tarde um pulsar latente no peito, um amarrotado e ainda vivo anseio de amar, por vezes verte sandices dos lábios, toscas palavras usadas como barreira para esconder o medo, mas tua ternura se projeta como lança e me desequilibra. Não temos a tão desejada liberdade para nós conduzir aos braços ternos e aconchegantes um do outro, temos tão somente o sonho audacioso que transborda de puro amor.
Há alento em te imaginar tão perto, mas o coração inflama e reclama, parece sentir o drama da falta de razão. Me conduzo na constante busca de respostas que bem sei quais são, não me atrevo no entanto a decifrar meu pranto para não lhe dar vazão. Vou levando assim meus dias, sobrecarregando a alma aflita, para evitar que o erro se repita a expor o coração, porque metade de mim é alma e a outra vem a ser razão.
Norma Arnaud
Me jugas assim aflito no que ainda não digo, me traduz sem esfera, sem espera, se fecha, se cala e nem me ampara. Nem percebe que o grito contido esconde um conflito, teme o que considera incerto e nem ao menos se aquieta, estamos de lados opostos fazendo cada qual seu drama, sem notar tece um emaranhado de pensamentos que por vezes arranha, essa hostil agitação perturba, deixa visíveis lacunas que meramente vem preenchendo de dúvidas, dá a sentença sem prova, tira-me o direito à defesa e assim indefesa fico eu com uma vaga lembrança do que aconteceu.
Nem tudo me excita, nem tudo me incita e nem tudo levita, o que me desnuda e arrepia vai além do toque é efêmera e descompassada a palpitação que consome, a boca que me toma assim sem nenhum pudor e arrebata os limites que se tenta impor, vai tateando cada centímetro do que era meu se tornando teu quase involuntariamente, não há mais restrição em demarcar território nessa devasta ânsia em possuir, já nada me pertence pois me tomaste a alma sem resgate, já não possuo o que me mantinha segura, agora sou fadada a estar em tuas mãos, pois é nelas que me entrego. És agora o guardião do que me é mais valioso, minha lucidez nem sei em que momento a perdi ficou fragmentada. Domina meus sentidos e meus desejos já os conhece bem, me mantém refém de tuas inebriantes citações e nessa ilusão que me consome já me possui sem ter. Norma Arnaud
Às vezes nosso dia amanhece mas a alma insiste em flutuar, não se alinha com o momento, persiste em sonhar, um remoto e longínquo pensamento paira à beira do caminho não deixa a angústia amansar, e nas batidas confusas do peito vai o coração a delirar. De repente os olhos transcendem a tênue barreira do tempo e aos poucos a realidade aflora com cheiro de presente e com gosto insosso de empatia. Difícil saber se a alma pesa pelo excesso de sentimentos ou pela metade que me falta.
Muitas vezes nosso desejo é imenso em dançar na chuva, mas não queremos nos molhar, arriscar é preciso mesmo que arranhe a alma, cicatrizes a gente disfarça, o tempo nos ajuda a ficar sábios nessa modalidade, o que não rola é persistir na constante tristeza que emoldura a face de rancor. Banhar-se de alegria pode afastar aqueles que não nos querem o bem, demonstrar altivez desarma o negativismo e garante a paz de espírito, pois é das pedras deixadas no caminho que nos propulsiona a pulos mais altos.
A sensibilidade nos aproxima mais do caos e também nos remete aos devaneios que no delicado momento embriaga a alma de tormento.
Não quero esquecer os abraços
Nem tão pouco as palavras
Quero lembrar a cada instante os olhares
E devagarinho me entusiasmar com o afago
Deixar na penumbra as dúvidas
E sentir tão somente a carícia que me envolve
Transpor a sombra que oculta a distância
E fazer valer a doçura que paira no ar
Palpitando o coração ainda está
Divagando o pensamento ainda fica
E a pele inflama ao lembrar teu toque
E se consome com a tua ausência
Dilacera a alma minha fraqueza
Não me condene pela eloquente forma de ver a vida
Meu pudor me priva mais de mim
Do que de ti mesmo
Só me desnudei pelas beiras
Me falta ainda uma porção de mim para mostrar. N Arnaud
Nunca me julgue simplesmente pelas palavras ditas, meu coração é maior em extensão, cabe-lhe não somente linhas mas também uma porção de tudo que me encanta. Tente me dominar pelas beiras da minha fraqueza que é meu despertar e assim terá o tudo da minha alma. Não queira me tirar de mim se não for por inteira, pois de metades estou, cultive o que de melhor há em mim a outra parte somente eu sei lidar. Terá no entanto que tatear lentamente as gavetas empoeiradas se tiver muita curiosidade em me abrir. Enfim, aos anjos amigos que emprestam seus risos e seus ombros; nos alfinetam para acordar para a vida e muitas vezes são o doce que nos move, a esses, meus beijos e abraços com muito carinho.
Fui pressionada pela alma
A expor o que ali não cabe mais
Nada foi planejado
O inesperado e inevitável
Traduzir de que forma
Não tem medida
Não é palpável
Insano
Imprudente
Inconsequente
Latente
Talvez engano
Já no início condenado
A ficar guardado
Não foi um mero desejo
Teria o tempo rompido
A distância reprimido
Insensato um coração dependente
De que forma ponderar
Ultrapassa o limite
Imploro a razão
Não me peça sensatez
Me dá apenas o prazer
De viver essa paixão.
N Arnaud
Diga-me como expor com clareza o que vai na alma, palavras parecem vagas e um tanto sem efeito nesse contexto caótico da vida, há sentimentos enraizados que necessitam ser demonstrado na sua plena forma sentido, não é só o prazer que clama mas a sutileza de um sentimento puro e terno que o tempo perpetua. Não contesto que as palavras rascunhadas em um papel marquem e deixem no tempo lapidado o eterno, mas o que me cabe no íntimo transcende as linhas e vai além, transborda até parece que o coração ficou pequeno para tanto ou demasiadamente grande para carregar.
Olhe as flores no jardim, deixe a alma fluir, esquece o medo, ampare o coração nas mãos, a sensibilidade jorra como sangue e te alimenta, não há nada mais puro que um olhar que acalenta, que palavras que curam feridas e atitudes que semeiem bondade. Há no ser algo profundo e inexplicável, nem todos se tocam, se encontram, se exploram, mas está ali só esperando ser cultivado.
Fiquei aqui a pensar no que te escrever, tão simples e complicado, me tirou o prazer de te presentear, mas pensando bem nada seria perfeito, poderia parar num armário solitário, camuflado para não ser percebido. Será que meu coração seria um bom presente, mas esse já te entreguei até minha alma já não me pertence. Acho que meu presente para você vai ser minha constante presença em tua mente, vai ser a lua em noites claras, ou às vezes o mar revolto para deixar teu coração acelerado quase fora do peito, me verá na brisa suave do rio que tanto te acalenta, prometo ser um presente não tão durável, palpável mas me manterei cravado em teus pensamentos e se por um motivo qualquer me arquivar em teu peito estarei numa prateleira bem visível. Que Deus te permita continuar por muito tempo fazendo a diferença na vida das pessoas da tua vida, que o dom de tuas palavras continuem trazendo a paz e serenidade, que tua alegria contagie quem tem o prazer de ter você, enfim que as estrelas sejam teu guia e que o bom Pai te de saúde infinita. Parabéns e muitas felicidades amor. Tua sempre Astarte.
Meu olhar já carrega as marcas de tudo que foi e o que ainda virá, já não traz mais leveza, o brilho dos olhos já não encantam, no entanto só peço que a alma não desbote, que os tons inspirem e que a alegria transborde, que tenha pureza, clareza, que a cor lhe seja viva até o fim. Que ela saiba carregar com delicadeza meu coração nos braços, que acalme meus medos, acalente meus pensamentos agitados, tire com cuidado os espinhos que machucam a fina camada que a protege. Que cultive a sabedoria de amar apesar de tudo, que saiba florir mesmo sem afeto. Que seja protetora e meiga e não me venha a escapar a vida, que eu me apaixone por mim a cada instante, que não me debruce em mágoas e me afogue em ressentimentos. Que em minha alma tenha uma constante melodia a embalar meus sonhos, que seja bondosa e não me deixe em nenhum momento esquecer os sentimentos, os carinhos , os momentos.
Queria ser para você mão que acalenta em noite solitária, aquela que te prende com palavras de carinho ou mesmo frases em desatino assim sem nexo só para te ver sorrir. Aquela que toca teu rosto e tua alma ao mesmo tempo, sem ter que ir embora. Queria olhar em teus olhos e poder ler teus pensamentos, te sentir através deles, te mostrar o meu amor. Queria caminhar a teu lado na chuva, ser colo nos dias de tormenta ou tornado nos momentos de tédio. Agitar tua vida, desalinhar tuas horas e mesmo assim tentar ser um céu para você, embora sabendo que sou um mar revolto.