Murilo Melo
Não pedi pra me escutar, não bati a porta com força, não me joguei no chão. Não chorei, não gritei, não fiquei chateado, não bati pé e nem rasguei retratos. Pra que fazer tanto barulho? Que tu vá de uma vez, nunca me pertenceu.
Eu tenho uma capacidade incrível de me apaixonar por quem eu não devo. De sofrer por quem me despreza. De pedir perdão mesmo não sendo o culpado. Eu tenho essa mania de fazer questão de não ser o certo. De querer mais do mesmo. De sofrer em dias de sol. Eu tenho essa mania de botar todo mundo no coração. O negócio é que eu não sei amar na medida certa.
Saudade, olha aqui, não adianta fazer birra, bater pé ou se agarrar nas minhas roupas. Muito menos ficar presa às coisas que ficaram no meu quarto, isso não vai dar em nada. Saiba que as coisas ficam bem, uma hora.
Você não é louco e nem está ficando, você só respira esse ar poluído, e convive com essa gente que nem sabe quem foi Anne Frank. Você só se queixa dessa escuridão, mas é você quem tapa seus olhos, e ninguém consegue abri-los.
Nenhuma multidão me consegue fazer sorrir, nenhum chá de camomila me tranquiliza, nenhuma gracinha de amigos me faz melhor, nenhum porre nos finais de semana já me faz bem. E por tudo isso, por tudo que eu idealizei esse tempo todo, sinto que adoeço aos poucos. Por parcela. São parcelas relativamente pequenas, mas intensas, raivosas. São como agiotas. São parcelas de momentos, memórias, sentimentos, coisas que eu jurei e pensei ser para sempre e não foi.
Você me acorda todos os dias, às 6h17, com um torpedo incrivelmente lindo. Eu releio por horas, mas no fundo me sinto triste. Porque é difícil, horrível, chato, pesado, penoso, sem pé e nem cabeça te ter apenas em simples palavras. A gente podia muito mais.
Veja bem, não é usando óculos maior que o rosto, roupas largadas, fumar cigarro, gostar de um escritor morto há 20 anos e amar cafezinho que vai te fazer ser culto. É preciso muito mais, meu bem. Não confunda literatura de verdade com esses produtinhos mercadalógicos para preencherem os vazios de quem não tem o que fazer. Eu realmente tentei, mas não consigo conviver cercado por tanta gente ignorante.
Porque eu tô conseguindo tudo o que eu sempre quis. Tudo o que eu pedi baixinho a Deus antes de dormir. E não precisei invejar ninguém, passar por cima de ninguém, mentir e muito menos tratar mal ninguém pra conseguir isso. É que eu sempre tive caráter e força de vontade. E, acima de tudo, aprendi que o que é meu chega na hora certa.
Tu vens e perguntas se esqueci das palavras ditas, dos afagos trocados, dos beijos não dados na primavera. Pois se tanto sinto, mas nada digo, como é que podes me compreender? Meu bem, tu não entendes meus lábios trancados. É preciso me encontrar no vazio, me ouvir no silêncio, me ler nas palavras não ditas, malditas, benditas.
Já tive medo de não estar agradando, de tentar o que não conseguia, de pensar antes da resposta, de ser reprovado por um grupo. Tive anseio pelas gotas de chuva no inverno e sol bem forte no verão. Tive medo de me perder no escuro, de me trancarem em algum canto e eu nunca mais sair. Já tive dias de preocupações e noites sem dormir, momentos que deixaram meus olhos inchados de tanto chorar. Vieram também noites que apaguei e dias que não vi chegar. Outros passaram tão rápido, e eu chorei de felicidade. Parecia ser uma vida agitada, mas sempre era a mesma. Sempre, sempre, até o dia que você apareceu. A partir dai fiquei mais perdido que antes. Mas de uma maneira diferente, viva. É você que muda minha vida e todos os meus dias.
O que dá mesmo é vontade de gritar: “psiu, imbecil, oi, é você, volta aqui. Você não percebeu que sou completamente apaixonado por você? Caramba! Eu sou o único cara capaz de fazer você feliz. Será que você não vê que somos parecidos em tudo?" Mas daí você não tem coragem o suficiente e a única coisa que consegue dizer é: “Tô bem sim e você?”.
Esse choro às vezes é bom, senhorita.
Só assim você aprende e para de ser simpática com quem não merece.
Amarra o laço de fita amarelo na cabeça e pensa que é mulher. Faz birra que só. Cadê o pote do açúcar? Sinto falta de sua doçura, menina.
Quem falou do verão, sem ter visto seus olhos brilharem mais do que o próprio sol, falou sem saber o que era.
Desse dia confuso só sobrou o silêncio e os cacos na pia. O vento assopra o que não se escuta, a torneira pinga saudade… Não há de faltar água. O gosto vindo das pálpebras, você sabe, é salgado.
Embora eu quisesse sair gritando com essa gente que me enche o saco, dizer tudo o que está entalado na garganta e sair dando as costas pra todo mundo que me faz mal, eu vou me segurar, tentar ser forte e um pouquinho mais educado. Afinal, tive que aprender a viver de aparências com essa gente cretina.
Então eu solto o trecho daquela dos Los Hermanos, enquanto eu observo você encher a xícara de café. Você ri pelo canto dos lábios, não diz nada, canta baixinho também, de um jeito quase inaudível. Eu sei a razão desses olhos brilharem toda vez que escuta essa. Foi a que tocou quando a gente se beijou pela primeira vez.
Você não gosta de literatura, diz que rock é chato e faz pouco caso do Fresno. Você gosta dessas coisas que eu nem considero tão importantes assim, vive com o celular na mão, e ri de um monte de besteira que eu acho um saco. Você não é bonita e nem inteligente. Inclusive já falei milhares de vezes pros meus amigos que você é uma perda de tempo. Não sei, não, eu nem te amo e, mesmo você sendo tão diferente de mim, eu vivo sentindo por demais a sua falta. Eu sei, é no mínimo estranho tudo isso.
Eram mais que amigos. Às vezes se beijavam, às vezes diziam que se casariam. Mas tudo não passava de brincadeira-de-garotos-bobos. Quando chateados falavam inglês. Outra hora, em espanhol. Eram cúmplices, companheiros, piadistas, bêbados literários, marrentos e comentaristas de plantão. Ninguém nunca tinha visto uma relação tão verdadeira quanto aquela.
Não cobra muito de mim. Não ache que vou retornar ligações. Não pense que vou te mandar SMS antes de dormir, nem aposte que posso ser quem você sempre esperou. Eu sou caro, complicado e, para incluir no pacote, costumo dar prejuízo.
Eu ficava acompanhando a direção de seus olhos, e achava a coisa mais linda do mundo quando delicadamente eles encontravam os meus.