Murilo Gomes
Paixão do passado
Ela esgueirou-se tardiamente de uma fenda do passado
Tomou-me por completo ao entrar no caminho de sua destra
Alastrou-se tal qual incêndio avassalador em seca palha
Mostrando a força contida da paixão, mesmo afastado
O coração atingido como o dela, por mesma balestra
Com flexa de veneno ardente que por eles se espalha!
Sua beleza reacesa muito mais que em meus olhos
A opulência de estar mostrando-se em imago
Suas cores de Danaus que ofuscam os abrolhos
E a suavidade de seu vôo destilando paz ao âmago!
A vida deste vislumbre porém é efêmero
É como o apogeu da dama da noite ao mero acaso
Sua beleza em brevidade se entrega em brilho aurífero
Mas pela natureza momentânea finda-se em rápido ocaso.
Quem és tu que deixa-me em constante conflito?
Tolhe-me a paz ao vislumbre de mero sorriso
Inquieta-me com suas frases todas não ditas
Nos olhares e gestos tão ricos de expressões
As pausas quase sonoras hesitantes de continuações
Das quais resultam sufocadas sensações inauditas
Faz-me sentir o que havia esquecido
Desperta-me o que há muito estava adormecido
E entorpecido, deixo-me guiar a esmo
A despir-me e refazer-me de mim mesmo
Romance que enaltece
Ardor que permanece
Querer que só aumenta
Urgência tórrida e violenta
Espontaneidade vivida que ascende
Loucura prazerosa que transcende.
Paixão do passado
Ela esgueirou-se tardiamente de uma fenda do passado
Tomou-me por completo ao entrar no caminho de sua destra
Alastrou-se tal qual incêndio avassalador em seca palha
Mostrando a força que continha, mesmo afastado
O coração foi atingido e, também o dela por precisa balestra
E na flecha, veneno ardente contido que por eles se espalha!
Sua beleza não mais encasulada reacesa à se ver e sentir
A opulência mostrada no esplendor completo do imago
Trazendo cores vívidas de Danaus à minha apreciação consentir
E a suavidade de seu primeiro voo destilando paz ao âmago!
A vida deste vislumbre porém é efêmero
É como o apogeu da dama da noite ao mero acaso
Sua beleza em brevidade se entrega em brilho aurífero
Mas pela natureza momentânea finda-se em rápido ocaso.
Em suas agradáveis palavras escolhidas
Um convite implícito feito à me deleitar.
Nas repetidas e obstinadas sutilezas
De sua leveza e delicadeza preenchidas
Fez-se notar e impôs a mim aceitar
Que não te ver, tu ojerizas.
O convite é tentador, porém não é literal
Se tomado sem cuidado e com imprudência
Não se percebe nas palavras não ditas a incumbência
De transpor o óbvio e adentrar em seu âmbito visceral
Para quem dá um passo além, o tudo sem resistência
Pois o que os olhos não conseguem ver é o fulcral
Não mais "Toma-me" esim "Decifra-me"
Não mais "Invada-me" e sim "Desfruta-me"
Destilaria seu sabor tenro e encorpado se não o fizesse?
Concederia suas notas intensas e destoantes se não deglutisse?
Não, pois seu sabor, a quem preparo não houvesse
É demais ao terreno homem que não se permitisse.
Esta personalidade tão prazerosa
Tem posse de sim um paradoxo
Onde a relevância de seus desejos
Não se saciam em leves gracejos
Mas em prazer nada ortodoxo
E quem a vê, assim como eu a vi
Como eu, em sua liberdade senti
Entende sua face tão doce, mas muito poderosa.
E ao vislumbrar as maravilhas reclusas de sua timidez
Fui envolto de grandioso torpor, embevecido de sua personalidade
Já não podendo sair de ti, pois me acomete a languidez
Desejando que jamais me devolva a sobriedade.