Murilo Félix
Revolução ociosa
Ocioso:
Preconceituoso, dita e edita.
Silencia,
Fala, não cala, não mente, não sente.
Espera.
Prefere, refere, te fere,
Te pede e repete, te perde
Suscita, incita e imita.
Não milita, irrita.
Iguala, compara, dispara não cala
Não mente, não sente, fala.
Ocioso, generoso, bondoso.
Iguala, desiguala, assume, some.
Critica, cria, recria, estatística, ouço.
Sociedade, ocioso, mais o bolso.
Tenso, penso...
Abismo imenso,
Futuro, seguro, dispenso
Liberdade, igualdade, fraternidade onde?
Quase Vinte (2007)
Em vinte eu hei de gritar:
Quantos anos acabo de completar?
Sou quase vinte e se for pouco é só esperar
Para quase cinquenta
Que ouvi dizer
não tarda em chegar
São quase vinte
de vinte em vinte
vou contar
Pra chegar nos quarenta
é só mais vinte
o problema seguinte
na hora cera
vou-lhe contar.
Tendências (2008)
O homem tende à tristeza
A tristeza tende à morte
o sorriso à lagrima
e a lagrima à felicidade
O bicho tende à mata
A beleza tende ao horror
A vitória tende ao fracasso
E a certeza tende à dúvida
Os físicos tendem infinitamente à verdade
E todo ser tende ao paraíso
As coisas simples tendem ao complexo
E até o amor tende à pureza
As mães tendem ao sacrifício
E os filhos tendem à liberdade
Reis tendem ao trono
Pessoas tendem à vida
que tende à morte
que tende ao fim(?)
São quantas tendências
que nem intendo
apenas tendo tendo tendencias.
Vírus (2009)
Quem os viram?
que é vírus?
onde é vírus.
Porque me deitastes?
porque me calastes?
pobre vírus
não tens onde morar.
Quem os viram?
será mesmo que viram?
és mesmo um vírus
ou deixastes de ser agora
ou me matarás a qualquer hora
Deixa-me, vá
Vá viver em sua paz
não seja um parasita
para nos dois: Liberdade.
A queda (2012)
Era possível sonhar eternamente e unicamente com um grande e infinito sonho
Nas margens do paraíso, com vozes de anjos e na presença de Deuses
Um sonho comum a aquele que acredita em si, na fé que lhe conduz
Era possível simplesmente sonhar e sorrir, um profundo e verdadeiro riso
Com a alegria de um sonhador eufórico e completamente iludido.
Sendo, ainda, possível atravessar por estes vales, morros, estradas e montes
As barreiras e empecilhos casuísticos que nos afetam enquanto vivemos
E se saber viver, devemos sonhar aquele lindo sonho, eterno como deve ser.
Nessas praças desertas onde encontramos a si, e dizeres sutis e uteis ao patamar de mim
Quanta tristeza, destreza a de vir no fim? A verdade e a certeza podem ser assim
E tão obscura a noite, o céu e a vida, com tantas e quantas perguntas, o que és tu futuro?
E digo a ti, com lastima de não compartilhar-te a mim: é um céu noturno e obscuro
Então, diante do que restou dessa pequena história, essa minúscula cena, encenada sem ensaio.
O que será de nós? O que houve de errado? Quantos fins encararemos, isso nunca acaba, nunca encerra, viveremos eternamente o vago e vazio céu obscuro da incerteza.
Pelos 2 anos
Te agradeço amor por esse segundo inverno juntos
por cada instante e por toda consideração
agradeço hoje e ontem por esse amor constante
pelas graças e pela gratidão.
Hoje, feliz e agradecido, digo o quanto te amo
E tanto amo que, mesmo distante, te amo
E como ti, amo constante.
E por ser tão bom e sincero esse amor incessante
É que para te ver feliz te escrevo
Te amo tanto e é bom te dizer isso
E repetir e simplesmente reiterar
Que ainda que nada mais haja por dizer ou comentar
Ainda que nos encontremos e esgotemos os dizeres, casos e contos
Remeter-me-ei a este clamor sincero
De minha alma e meu coração
E em exclamação avulsa e confidente
Com sorriso e tom alarmante
Te direi, tranquilo e claramente
Que te amo ontem, hoje e sempre.
O crucifixo do tribunal (2016)
Na defesa deste injustiçado
lancei a cruzada das provas
dos argumentos cabíveis
e dos preceitos constitucionais
Da sentença improcedente
o impulso recursal
para mais alta instância
para o mais distante tribunal
apresento defesa eminente
e passo a sustentação oral:
-Caros ministros
nada mais de jurídico digo,
vejam bem aquele crucifixo
nada há nele aqui de divino
é um atestado de nossa incompetência
de nossa incapacidade de julgar
da falibilidade da justiça humana
da presunção da culpa
e, sobretudo,
da negligência pessoal.
O risco da rima ( 23/09/2016)
Rimar é arriscado como bomba
pois, se digo a palavra “céu”
alguém de longe a me toma
e rima a palavra com “mel”
Rimar é um perigo
já quase sem amigo
sento triste e desolado
aí vem a rima ao meu lado:
Rimo amor com dor
(que é a rima mais rimada)
e com flor e com cor
e rimo chapéu com
anel e com cordel
E se a rima rima
com clima e clina
penso em um galo
que rima com talo
que tantas árvores tem
que só não tem uma rima
E é um risco danado
rimar descuidado
nesse mundo desvairado
dos jogos de dados
que nunca cai no seis.
Por isso rimo com cuidado
rimo com soldado
e por fim, amigo rimado
rimo outra vez.