Murillo Cabral Silva Fonseca
A noite desabrocha no horizonte
E, então, as estrelas se ascendem no céu;
Trazendo consigo a saudade dos seus olhos,
Trazendo consigo a lembrança dos lábios seus.
Chorosos, meus olhos se erguem
Às profundezas do horizonte,
Buscando encontrar
Um sentido na vida.
Entretanto, nada tenho.
Todavia, nada ouço.
Porém, nada recebo.
Contudo, nada encontro.
Podes manifestares donde viestes? Digas o que fazes nesta esfera azulada! Para que desígnios te aventuraste, espezinhando esta uliginosa estrada? Instante algum, sublevando vista aos astros, te perguntas sobre a tua essência? Sabes, ao menos, definires existência? De certo não seja esta senão uma grande festa que, à guisa mesta, à miríades molesta? Porventura, às vistas de escassos, poderia esta ser tida por flava folha combalida, por fúnebres fôlegos outonais compelida? O que me dirias se to indagasse a significância de vida? Seria esta abrolhada floricultura cujas amadas Epidendrums são Orquidáceas de amarguras? Assim sendo, o cultor delas tu serias; e, como incumbência do ofício, terias de aguares, temperares, cuidares destas acerbas orquideazinhas e, tão forçoso quão, semeares hodiernas florzinhas, agricultares novas ternuras em teu chão.
Aos espíritos adocicados, a permanência vivencial – uma odisseia sideral – seria um pulquérrimo espetáculo, um imensurável sidéreo sustentáculo; sarapintado de pirilampos fulgurantes, jubilosos, cantantes. No entanto, em qual nebulosa teremos sido forjados? Quiçá no oco abismal ou rebentos de um nada astral? Oxalá pudermos deslindar! Poderia isto ser antes de meu findar, pois feliz iria eu zarpar, por poder conjecturar em qual porto minha nau se ancorará.
Chamarias de rio, a vida? Tu, ó rio, oriundo das entranhas renhidas, pelos teus álveos tenazmente caminhas e nos despenhadeiros pelágicos te definhas. Já tu, célere vida, assemelha-te com o rio, pois, de origens incompreendidas, pelo corrimão da existência te escorregas, perdendo-te em turvas águas desconhecidas.
Por meio das pupilas minhas – das janelas dos olhos meus – o existir parece-me murchas vinhas, congênere a um ergástulo abarrotado de numes cativos, encadeados por devaneios destrutivos. Escravos golpeados, quebrantados, arruinados pelos ásperos e pontiagudos combates enfrentados: estáveis infortúnios, irremediáveis despedidas, constantes infelicidades, esperanças ressequidas.
Mesmo no orbe de ermas planícies existem nuvens para exaurir ensolarados raios que insistem ferir carmins corações no eterno devir. Assim são palavras – nuvenzinhas pintadas – que de longe surgem para fazer-te sorrir, trazendo consigo gotinhas – pinguinhos de chuva – a desertos florir.
Eis, então, que to trago, em cada palavra, um floquinho de água para de ti extinguir todo desamor, toda mágoa, toda dor, toda névoa do teu existir. Que tais fadas aladas – de algodão emplumadas – possam, do deserto de ti, um adornado jardim fazer surgir. Estas palavrinhas singelas são, pois, lágrimas de velas que em meu âmago, por compaixão, queimam por ti. São ainda – como escrito, mas ainda repito – gotinhas de chuva a ressequidos espíritos que, um dia nascidos, encontram-se aqui.