Monovski
Todas se comportavam uma ora terapeutas outrora pacientes. Elas precisavam falar, remoeram coisas de tanto tempo atrás, que prendiam o fluxo do presente. Algumas não sabiam se encaixar, elas só sabiam que estavam navegando em um oceano sem bússola, mas as velas do barco eram sopradas intensamente por emoções que foram presas ao solo mas agora tendem a cair como granizo, em algum lugar elas iriam parar, só ainda faltava responder a pergunta: “Em terra firme ou num naufrágio?”. Outra já acreditava que a solidão lhe pertencia, pois como Nietzsche falava: “Na solidão, o solitário devora a si mesmo; na multidão devoram-no inúmeros. Então escolhe.”, já que não conseguia acreditar que as pessoas simpatizavam mutuamente, ouvia vozes da cabeça sussurrar que todos a odiavam e usavam de falsidade com ela. Mereciam ser ouvidas, todas.
Me deixe ao seu âmago e verei quem será, de fato, todos somos quem somos pelo acaso dos corações, de forma, sem que nós deixemos.
Loucura minha pensar-te, quero falar-te, dizer-te o quão vejo todos os universos paralelos, em um só compõem trilhas sonoras das quais meus ouvidos entendem, porém quero afastar-me dessa melodia, sou uma tragédia em constante evolução, não uma ópera da qual sempre está no repertório dos admiradores e apreciadores de tal, não sou e nem estou nessa melodia inebriante que consome os cursos, as linhas, as vozes que ascendem, apagam e ecoam em sua mente, em sua melancolia.
Sou o frio que te assola
ao sair do banho,
do âmago de tua madre
e do quentinho que te consola.
Vi naquela noite, aos meus olhos um rastro de luz que se era tão tocável, incrivelmente. Essa luz pode ser tida como aquela que te cega e o faz cair num abismo sem fim, mas sabemos nós, nós àqueles que suportam ideias, aqueles que temem, por todo sonho que se esvaiu em constante dor promovida pelo desprazer cotidiano. Era ela minha luz, que mesmo ainda cego, minha intenção era cair no abismo, de lá eu não veria mais nada e nem ouviria as murmurações e chiliques dos ignorantes, aqueles todos quais não tem alma em espírito, então só carne. Vi minha maravilhosa chama incendiando meu coração a tentar contra a dor que me fez amiga, cônjuge se preferir, convivíamos nós, todo dia, ela saboreava minhas reações e minhas ambições me deixarem, era tóxica e ciumenta, queria me ter totalmente, enquanto já eu, permanecia parada ao seu lado, por incapacidade de fazê-la me deixar.
Hoje me é ser, próprio, romântica, porque um dia experimentei a solidão, essa me fez aconchego, mas não me fez bem, digo, ela é tão deliciosa em certas partes e tão odiosa em outras, quem me dera lembrar do vil escarlate de seus olhos ainda cedo depois de tomar café, me diga, minha amada, se ainda lhe sou suficiente? Então por que não te bastei, minha flor graciosa? Me fiz jardim para ti, me fiz adubo, água, sol, jardineiro para ti e do que adiantaste? Ó tenha pena de minha alma, minha querida, eu lhe amo tanto que faria de mim quem sabe lá o quê? Fique comigo, te imploro, pois sei que a solidão amarga me fará perturbação, mas não digo tudo isto como reclamação por ficar só, mas por estar se esvaindo de meus braços, querida, como me é doloroso ver diante de minhas pupilas já cansadas e marejadas seu espírito junto de teu corpo sumindo aos poucos, na verdade, digo que tão depressa, para quê? Não gostas do que fui? Não gostas de meu solo, meus cuidados? Por que me fez sofrer desta forma? Sou um pobre rapaz que se apaixonou por uma dama que não estava preparada para amar, ó que confusa ela está! Pobre homem também será o próximo, até que a vil dama se torne mulher, desabroche suas flores e frutos do amadurecimento junto da juvenil paixão, te é próprio ser má com bons rapazes? Jogue fora todos os meus presentes para que nem por um segundo se lembre de mim, assim farei com a doce lembrança do teu amor e de teus beijos. Em algum dia, se nos esbarrarmos, já não me lembrarei mais de ti e nem me faça questão de não lhe falhar-lhe à memória, esqueça, basta!
Em um momento para outro qualquer, que não se parece tão somente ‘qualquer’, as doces palavras que já foram à mim soadas, se vão. Esta angústia que me afeta perante a formas espirituosas, me perseguem, então pergunto à Ti, Deus, que já me cansei de perguntar, mas o faço: “Por que deste mal incessante que me bate a porta todos os dias como um cobrador vil de impostos?” Que terei eu de fazer senão clamar por meu vivo Cristo, para que interceda pela minha alma pecaminosa? Direi à ele que me recolha mais que brevemente desta realidade turva de incertezas que me fazem questionar o quão me vale ser. Os impulsos do meu coração que irradiam pelos nervos dos olhos e se derramam como lágrimas salgadas que me acusam de vitimismo e cinismo, como se toda a culpa de tudo sempre fosse minha — talvez fosse mesmo. Como repreender este mal que me assola desde o nascimento? A maior parte de minhas poesias se estruturam neste mar de incertezas e dúvidas cruéis que me corroem, me puxam com vozes e forças obscuras me impedindo de prosseguir valentemente; tendo em meu coração a motivação e vigor de Calebe. Senhor, este será meu espinho? Minha cruz? Sinto-me cada vez mais sozinho, porém se o digo à alguém parece besteira. Como dizer aos amigos que se sente só com a presença destes? Pois não o fale. Sinto também que estes estejam logo contra mim, como se só estivessem esperando por um momento que eu caia e finalmente saia de perto. Em uma manhã os vejo usando máscaras, na tarde conseguinte percebo-os de longe reunidos, mas ao escurecer somem, assim se repetindo o ciclo. Expresso isto mesmo conhecendo minha personalidade que se faz tão extrovertida neles, mas me sinto realmente só. Não que eu queira uma âncora para me apoiar, mas não tem nem terra para se firmar, é um vasto mar; mar de incertezas — em um destes momentos havia pensado que estava num rio, afundando por achar que era um mar, mas agora realmente se parece com um mar.
Para mim, este até então é um peso. Peso este que não é nada além de besteiras.