Monique Malcher
É primavera agora que escrevo, e penso nessas questões escondidas das flores. Só as beladonas sentem a frequência das letras de agora, de um sentimento de sempre. Na cama, somente eu, lutando com uma capa de colchão elástica. E quando três ou dois lados parecem sincronizados se desfaz um, dois, todos. O segredo é não tensionar tanto só um canto. Leva tempo. E aqui nessa cama quis encapar as feridas, mentir sobre os profundos, mas não tão profundos pensamentos.
Monstras somos nós, extraordinárias, visto que a monstruosidade é corpo diferente em movimento, feito de solidão. A monstra é linda e canta uma canção. A letra é dela dessa vez.
As mulheres monstruosas fizeram bruxarias no mar, deve ser por isso que chamam a luta de onda. Conchas trouxeram um poema que avisa. Monstras, animem-se, as que foram queimadas, seja por fogo ou por homem comum, voltarão. Quem foi queimada renascerá das cinzas. Lembre bem homem comum! Só as mulheres corcundas de carregarem tanta dor podem voltar, e voltam, todos os dias.
Gosto do inverno, mas tudo que gosto tem o poder de me tirar algo importante. Vou escolhendo com cuidado meus desejos, porque carrego o medo de perder.
Odeio me deixar saber o quanto gosto de pensar em romance. Esse romance que falo mal, não por hipocrisia, mas porque sei que toda vez me joga da montanha mais alta. Sou obrigada a juntar minhas próprias vísceras e dizer opa, foi só um arranhão, tudo bem. Então, é melhor seguir assim, uma mulher editada. Para que aos poucos me ame, com cautela. Tem partes minhas que é difícil de amar.