Miriam Keiko Morukawa
Sei que as pessoas estão pulando na jugular umas das outras. Sei que viver está cada vez mais dificultoso.
Mas talvez por isto mesmo ou, talvez, devido a esse maio azulzinho, a esse outono fora e dentro de mim, o fato é que o tema da delicadeza começou a se infiltrar, digamos, delicadamente nessa crônica, varando os tiroteios, os sequestros, as palavras ásperas e os gestos grosseiros que ocorreram nas esquinas da televisão e do cinema com a vida.
Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados.
– E eu não sei?
Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados.
Às vezes é tudo muito mais do que consigo aguentar. Muito mais caótico. Muito mais difícil e muito mais exigente. Parece que o nível sobe sempre. Parece que o desafio é sempre maior. E parece que nunca vou ser capaz. E depois paro e olho bem para dentro. Olho para o que sou e dou o meu melhor. E acima de tudo entrego-me à vida com intensidade e esperança. Sabendo que lá na frente tudo fará sentido. Nos momentos em que doí, nem sempre consigo agradecer a experiência, mas depois respiro fundo e avanço com uma coisa de cada vez.
E sei, que sempre, tudo se refaz.