Miriam Da Costa
Oh! Saudade!
Pousaste o olhar
na janela dos meus olhos
e fizeste da minha alma
o rebordo de uma fotografia.
Me aprontei para acolher a Primavera
deambulei pela cidade
flanei pelo campo, pelo bosque e pela praia
e no aguardo de respirar o nascer das flores
inalei o despertar de uma dor amainada
foi então que tirei a poeira do olhar
abri a janela da alma
e querendo abraçar a vida
cruzei os braços e me apertei num abraço...
E as ondas , como sempre,
irrompem impetuosamente
na mesma proporção que o cenário
- esse meu alinhamento vertebral de versos irracionais -
permanece sereno e pacifico
no horizonte frenético da inspiração...
Perguntei ao Pai Oceano
o que era o silêncio
e Ele me respondeu com o rumor das ondas...
Perguntei a Mãe Selva
o que era o silêncio
e Ela me respondeu com o farfalhar das plantas...
Me pergunto se ainda hà ouvidos
que ouvem
o poema que a chuva declama
e os meus olhos
com uma marejada de versos
me anaguam a alma
me enxaguam o rosto
derramando-me poesia...
Por muito tempo
estive a ler uma saudade
que o tempo nunca se cansou de me escrever
e hoje jà nao sei muito bem
se leio a saudade de um tempo
se é a saudade que se escreve no meu tempo
ou se é o tempo que lê a saudade escrita
em todos os meus tempos...
O que me faz ficar horrorizada
nao é o horror humano em si mesmo
mas sim
a horripilante espetacularização do horror
e a aptidão da humanidade a se acostumar
com a quotidianidade e a banalização do horror.
nesse meu cenário
componho versos e melodias
preparação adequada pra todo sentimento contido
e pra toda emoção refreada
eu ,completamente, toda mergulhada
no tudo, incompleto, de mim
recolho o perfume das estrelas maduras
que caem no meu jardim de verdes divagações poeticas
a delicateza do que sinto é demasiadamente forte
que sem piedade açoita o meu sonhar e o meu viver
então me liquefaço na poesia
que irriga a vergôntea das minhas tardes
e orvalha as petalas das minhas madrugadas...
Ela chegou devagarinho, mas gritando tudo aquilo
que o coração sussurrara inumeras vezes
naqueles instantes em que as orelhas
estavam demasiadamente entretidas para escutar...
e era estranho o fato que nada mais apunhalava, cortava e feria como antes,
apenas doia, ardia e magoava delicadamente.
Um desalento vigoroso se agarrou naquela tela guache prateada do anoitecer...
era uma dor forte, bonita, profunda, calorosa e cheia de luz
que chegou arrombando a porta trancada
para iluminar outras telas, outras dores e outras inspiraçoes...
lá no fundo ela tinha tanta doçura
e tinha tanto medo de ferir
as feridas expostas que se escondiam ...
Palavras alastrando-se pelo chão ...
a caneta convida o caderno … explosão
quando transborda a inspiração
eu nao sei estugar
o lirismo è o meu caminhar
a poesia é o meu pulsar
Entre fios de letras soltas
e trapos de linhas livres
remendo palavras
envoltas no manto
bordado da poeira de poesia...
Estiro os meus versos umidos
no estendal da noite
galgo as poças das expressões singulares
no eirado deserto e mudo
o olhar goteja letras silentes
o silencio transborda gotas de palavras acanhadas
querendo virar frases poeticas
ensopada a caneta estrondosa
se ajoelha diante da folha prateada
implorando o fim da poesia encharcada…
Entre os suspiros e os soluços das palavras
escuto a vida com a audição de pertencimento
dos verbos e advérbios do viver e do sonhar
que pertencem ao meu olhar de poetica pertença.
A hipocrisia das datas celebrativas
Todo dia é dia de algo
porque todos os dias
a humanidade esquece de tudo
e sobretudo de todos.