Miriam Alves
Gotas
Mesmo que eu não saiba falar a língua
dos anjos e dos homens
a chuva e o vento
purificam a terra
Mesmo que eu não saiba falar a língua
dos anjos e dos homens
Orixás iluminam e refletem-me
derramando
gotas
iluminadas de Axé no meu Ori
Cuidado! Há navalhas
As palavras de concessões
são navalhas
retalham minha pele
diluem meus sentimentos
soltam-nos ao ar
feito partículas poluidoras
não diluídas
Palavras de concessões
são mordaças
aveludam os sons do passado
ensurdecem sentimentos
forçam minha negação
pressionam o meu ser
Navalhas querem podar
nas veias
o jorro das emoções
ligando-as nos tubos de mentiras virulentas
As navalhas das concessões
quebrar-se-ão, quebrar-se-ão
no fio lento
da minha dura vivência.
Facas Filadeiras
Estou sobre pontas de facas
A orgia dum tempo
apaga meus
espaços.
Nas pegadas de minhas lembranças
pontas movediças
trituram
meus ossos.
No lastimar das ações
mãos retesadas charqueiam
minha língua de fogo.
Na parada da brisa
firo-me em cacos de vidros
querendo arrancar de mim
velhas amarras.
Ah! Equilíbrio Biolouco!
Ser Pessoa (1)
Nego as forjas
as armaduras
lapidadas na aparência
bruta da lama
Nego as máscaras
indiferentes
forjando distância
Nego o resguardo do
silêncio.