MindEvade
Madrugada de domingo... uma e meia da manhã. Meu corpo pede por uma noite bem dormida enquanto vomito estas linhas. Deito, o corpo adormeçe. Olhos fechados, imóvel. Mas o sono não vem. Não me reviro na cama, nem me movo, mal respiro... e o sono não vem. Sinto as palpebras pegajosas e asperas, e cambaleando venho até este canto para escrever estas palavras. É como se eu estivesse em um estação, esperando um trem ou algo assim. Fico alerta, ouvindo tudo... cada carro que passa, cada sirene, gargalhada, gota de chuva. Me levanto, ando pela casa, ligo a tv, assalto a geladeira, mas nada me traz o gasto da energia mental acumulada.
Sonhei que acordei com você.
E nos entrelaçavamos... caricias, beijos, linguas...
Aí acordei.
De volta ao meu totalitarismo liberal, onde faço o que quero...
mas só no horário comercial.
Leve e sutil angústia que me embala nesta hora
como uma navalha sobre a pele.
Não chega a ferir mas faz questão de me lembrar
que sempre estará lá.
Esperando...Esperando...Esperando...
Aliança.
Ela não marca meu dedo.
Estou sempre mudando-a de lugar, p´ra lá e p´ra ca. Principalmente no sol, ou enfiando-a em um bolso (junto com o resto da mão), cobrindo-a, evitando que ela brilhe.
Tudo é motivo para não usa-la. Em casa, bicicleta, rapel (se ainda o fizesse), kart, piscina... É como se eu estivesse sempre testando, para ver se ela ainda sai. Para ter certeza que ela não esta grudada... presa no meu dedo para sempre.
...eu estava passando por uma comercial quando vi uma mulher linda. Uns 30 anos, cabelos claros (não loiros), bem séria, de óculos escuros. Ela esperava no meio da pista para atravessar... bem em cima da faixa amarela.
Não pensei duas vezes. Abaixei o vidro, parei bem ao lado dela, atrapalhando todo o trânsito, e disse:
- Você já encontrou o amor da sua vida???
Ela desmontou... e abriu um lindo sorriso para mim...
Neste momento... exatamente neste momento... eu acordei.
Ela chega cedo, sorridente, dizendo bom dia. Senta-se... a esperar o dia terminar. Fica ali, só olhando, sem dizer nada. Sabe que já estou acostumado, como uma amante que chega na véspera do fim de semana e vai embora nas primeiras horas da segunda-feira. Tento fingir que ela não está ali, me distraindo, ficando ocupado; mas o tempo vai passando e sei que ficarei com ela, que ela está pacientemente à minha espera.
Junto com ela chegam os amigos fieis, daqueles que estão sempre em minha volta, e acreditam me conhecer profundamente, como quem admira um daqueles ridículos ovinhos pintados a mão, sem se importar com o que tem dentro. Possívelmente faço o mesmo com eles... não os culpo.
Pra piorar, ou melhorar, nesta semana a Syco (apelido que eu dou a psicologa) teve que mudar o dia para a quinta-feira, ontem, que é a vespera das sextas, que é a vespera dos metódicos fins de semana, que levam a igualmente metódicos dias de trabalho. Esta Syco tem sido diferente. Me manda eMails, recados pelo celular... quase que uma terapia 24/7. Procura os meus fantasmas e os explora, me empurrando de encontro a eles.
Me agarro às novidades como uma criança à um novo brinquedo. Há alguns meses tem sido o ciclismo, aquelas breves duas horas quase que diárias de dor literalmente escrota que eu, apesar disso, tenho valorizado mais do que um banho de espuma, no sentido absolutamente próprio da palavra.
Agora já são 11 horas da manhã. E ela continua alí, quieta e sorridente. Enroscos os dedos, balanço as pernas, me contorso na cadeira... inquieto... incondicional... Fujo para o banheiro, lavo o rosto, a vejo no espelho...
- Boa noite! Como será nosso fim de semana?, ela diz...
Não digo nada...
- Será do jeito que você quizer... leia um bom livro, saia com seu filho, gaste energia, encontre seu espaço... relaxe...
Continuo sem dizer nada...
- Te vejo semana que vem...
Na lua cheio penso em fugir...
Na lua nova penso em morrer...
No resto do tempo tento me manter distraido.
E só.
"Te amo...", ela fala baixinho no meu ouvido enquanto nos despedimos, depois do apressado café da manhã, numa morna manha de 5ª feira. "Eu também. Mais do que você imagina...", digo. Sem pensar nem nada. Simplesmente saiu. Tudo soa como um banho quente, daqueles que arrepiam quando você entra e não sente mais vontade de sair. Ela para um lado, eu para o outro. Como sempre. Não olho p´ra traz, só ando... em direção a rotina, em direção ao que sempre faço... sigo a mesmice. Subo. Sento-me aqui para escrever estas débeis linhas, que irão me angustiar num futuro distante. Vejo a cara do meu filho estampada na proteção de tela... Suspiro... Suspiro sem parar... Todos vão chegando, escondo estas linhas... Brinco com a aliança... Debruço sobre a mesa... É hora de regressar... ... Já passou... estou de volta.
100 emails... 100 mensagens... 100 telefonemas...
só o nada.
só o vazio.
só a mais nítida falta de fé e arrepios sucessivos.
Tudo que me resta de esperança é saber que...
talvez...
de vez em quando...
muito raramente...
eu consiga um momento onde eu sinta que realmente estou
vivo.
Haaa... os sonhos
os malditos sonhos...
Que fazem você viver
o que não viveu em vida;
e depois se tranformam em
torturantes lembranças de
algo que não aconteceu...
Acho difícil encarar as possoas idosas. Evito olha-las de frente, de modo que percebam minha análise. Fico olhando de relance, imaginando a vida que levam, que levaram. Imaginando se são, se foram, covardes e acomodados como eu.
...
Agora estou no barbeiro. Tem um daqueles velhinhos ao meu lado, falando sózinho (algo sobre bolo de mandioca, ou sei lá), deixado para cortar o cabelo pela filha, ou neto. Ignoro-o. Como todos. Porque fazemos isso? Em poucos anos serei como ele. Ainda mais cansado, inútil, senil e desligado da realidade, como quase todos os idosos. Com sorte não me lembrarei de tudo que não vivi. Provavelmente não me lembrarei sequer do que vivi, dos amores que tive, do stress, da vida corrida, das (poucas) bocas que tive o prazer de beijar. Só restarão lembranças em fotos digitais não reveladas, que provavelmente não poderam ser lidas em lugar algum.
Que a vida me leve antes...
Tento me manter concentrado, focado. Mas minha mente divaga. Insiste em andar por onde não quero. Quando percebo já estou com os mesmos pensamentos, com as mesmas vontades. É uma coisa meio que natural, não consigo evitar.
Manter os pés no chão acaba se tornando uma coisa consciente e forçada, é com se eu estivesse sempre tendo que manter um veleiro em seu curso. Se eu me distraio, ele é levado pela corrente, pelo vento, para onde bem entende. E isso, mais a minha irredutível inconstância, torna a tarefa muitas vezes complicada. As vezes me pergunto o motivo disso tudo. Fico a me questionar se não seria mais fácil simplesmente parar de tentar controlar tanto tudo isso e deixar a vida seguir o rumo que bem entender. Mas não consigo, fico pensando no futuro, no que será da minha vida se eu a deixar correr livre, sem todo este controle. Será que eu seria mais feliz? Até existe felicidade na minha vida agora... digo, existe momentos felizes. Não acredito que a felicidade seja um estado de espírito como muitos tanto defendem. Ao menos seria uma coisa muito idiota se fossemos felizes todo o tempo.
Agora, imagine isso o tempo todo. Imagine que você acorda com esta sensação, passa o dia com ela, trabalha, almoça, janta, brinca com os filhos, conversa com os amigos, joga, corre, pedala... tudo. Todo o tempo com essa sensação tênue lá no fundo. Sempre lá. Fora as musiquinhas deprimientes que estão sempre tocando na minha cabeça o tempo todo... um saco!!! Quando percebo já estou cantarolando...
As vezes acho que estou é possuido...
Pra mim, os bons sonhos são piores que os pesadelos.
Bem piores.
São pedaços de vida não vivida, de desejos irreais, que certamente irão me torturar durante os próximos dias.
Imaginem a seguinte situação (vou tentar escrever rápido, antes que tudo isso se dissipe);
Qdo chego perto dela, e nos abraçamos, me sinto morno... feliz... estasiado. Com o cheiro, com o toque, com a pele macia, com tudo...
Isso, pode-se dizer, sempre foi assim. Já há anos. Hoje, casado, com um filho lindo e com uma família cheia de regras, a angustia me consome. Na maior parte da semana, nem a encontro, não a vejo, só nos falamos por telefone e eMail, sobre as mais diversas futilidades. Em algumas ligações sempre sobra um "te amo" de lá p´ra cá... ignoro. Digo o mesmo, mas no fundo no fundo ignoro. Autopreservação. Obviamente, o que gerou estas debeis linhas foi nosso curto encontro de alguns poucos momentos. Enquanto escrevo tudo isso os arrepios se sussedem, um depois do outro, sem parar... é inacreditável como tudo isso pode levar a uma reação física. Meu estômago parece revirado, e os arrepios não param...
Mas já está passando. Sempre passa. Depois tudo que volta meio que ao normal. Tudo vira apenas fantasia, explorada em alguns poucos momentos solitários diários.
"Normalmente, a resposta mais obvia também é a resposta certa."
Minha manhã acabou. De agora até o fim da tarde ficarei assim...
E a noite nunca promete.
Imagine um grão de areia. Neste grão de areia tem mais partículas (protons, neutrons, neutrinos, etc) do que a quantidade de grãos de areia à até 3 metros de profundidade, de todo o deserto do Saara.
A daí?
Viu?
Você é idiota.
Tempo, criatividade e dinheiro.
Junte os três e conquiste QUALQUER mulher.
Se não deu certo, é porque faltou um (ou mais) dos três.
Lembre-se que o tempo envolve paciência.
Se você realmente quer, não desista.