Milton Oliveira
O fato é que Deus
Insiste em olhar
Para o homem no sertão
Para o homem do campo
Para os bêbados de ilusões
Para a mulher que lava a roupa
Mas que canta.
Musa
Ela é de veneta
Feita de ventos
Penso
Que ela é o outro
Lado de mim
Ela é de silêncio
Feita de ecos densos
Penso
Que ela é o avesso
Do meu lado mais tenso
Ela é de música
Feita de instrumentos
Eu sou tão seu fã
A escuto por dentro
Ficou no escuro tateando a própria alma
Ela parecia encanta com o novo, com o futuro
E o escuro lhe trazia uma paz imensa
Ela sabia que usava um vestido azul
Com flores e nuvens brancas, no escuro
Aquilo lhe trazia uma alegria terrena
Bebeu água como fosse a mais doce
E cantou cantigas de sua infância
Mesmo no escuro parecia ser feliz
Ficou no escuro o tempo suficiente
Para saber dos seus medos e desejos
Coisas que se entrelaçam entre si
Ela tinha os olhos mais claros do quarto
E enxergava luz nas frestas dos seus poros
Ela tinha uma vida e uma rosa rosa nas mãos
O quarto era uma metáfora em seu espírito
Ela tinha coragem de lá estar, sozinha
Mas dentro de si havia um parque de diversões sutis
Duas Palavras
Eu não passo de uma palavra
Você é o melhor som da minha vida
Eu não gasto uma palavra
Você é o amor e mais nada além disso
O que temos com isso?
O que temos já nos basta
Eu não passo de um silêncio
Você é o melhor eco que possuo
Eu não passo de um grito
Você é o amor melhor que tenho
O que temos, além disso?
O que temos já nos chega
Eu não passo de um momento
Você é o melhor do meu pensamento
Eu não sou o que apresento
Você é o meu grande amor amigo
O que temos depois disso?
O que temos já nem faz sentido
Somos duas palavras
Eu e você
Somos duas palavras