Milena Demetrio
Eu não consigo imaginar a graça da minha vida sem você. Parece que não faz sentido. Afinal o que é meu riso sem teu sorriso? O que sou eu sem você ou o que é a minha vida sem nós? Você chegou pra tumultuar, mas se você não tivesse chegado eu teria te procurado, e te encontrado e teria feito você chegar. Quem sabe só pra ficar. Ficar pra sempre, só pra constar. Eu não consigo achar graça na minha casa ou na minha rua, nessa cidade ou em qualquer poema sem você. E eu já tentei, é sério acredite, todos os deuses são prova de como eu tentei… Mas o que acontece é que você faz parte de mim como nunca nenhum ser conseguiu fazer. E por isso é que você merece tanto esses tapas que eu te dou às vezes. Você conseguiu fazer da minha vida sem graça, sem calor ou cor virar um quadro bagunçado e engraçado como do Picasso. Um quadro bonito, diga-se de passagem. Aquela praça nunca seria a mesma sem nós dois aos beijos no escuro, fugindo do mundo. Eu acho, não, eu tenho certeza de que ninguém conseguiria trazer o brilho que você colocou na minha vida. Eu tenho certeza de que a minha vida não faz sentido sem você.
Fazia tempo que eu não dormia tão bem com alguém quanto eu dormi com você. Nem deu tempo de perguntar se você dormiu bem também. Você dormiu bem também? Eu acho que meu corpo se encaixa perfeitamente nos teus braços. Você beijou minha testa dormindo ou eu tava sonhando? Eu lembro quando tu segurou minha mão. To irritada sabe? Queria estar com você.
Sonhei com um cara que eu nunca vi na vida e acho que nem vou ver. Não lembro direito do rosto dele, a única coisa que eu lembro é o toque do celular e a cor dos olhos, meio verde? Talvez. Sonhei com um cara que eu nunca vi e acho que nem vou ver, no sonho ele era meu e de certa forma, eu não queria acordar.
E ai eu tive um surto criativo e a culpa era da tua ausência, do mesmo jeito que a tua presença me dava razões pra escrever.
“Me leva nas costas? Agora pra esquerda, não a sua esquerda, a minha esquerda. Vai mais rápido. Não, pera, me dá aquela flor? Ok, você me ergue e eu pego.”
Te denuncio. Te denuncio como fugitivo. Te denuncio como fugitivo do meu coração, então meu bem, quando der, volta pra tua prisão.
Eu nunca quis te deixar ir embora. Eu queria ter perdido as chaves naquela sexta-feira só pra te fazer ficar. Mas o que é que adianta te forçar a ficar do meu lado? Te deixo ir, te deixo livre, mas também te deixo com a certeza de que a casa é pequena, mas cabe nós dois.
Éramos nós dois num colchão no chão ouvindo The Police, e eu me perguntei, porque raios o tempo tem que passar tão rápido?
Na maioria das vezes eu tenho algum querer, alguma frase que vem do nada quando você esta caminhando na rua com alguém. Normalmente eu tenho um querer, do tipo “eu queria estar em Nova Iorque” ou “eu queria um frango frito”. Mas ontem a noite caminhando do teu lado em silêncio, cada um com seu cigarro, eu não conseguia pensar em nenhum querer. eu não queria nada. Eu tinha você, tua jaqueta de couro e nossos cigarros, pra mim naquele momento o mundo estava completo.
Eu gosto do ácido, do forte e do sem açúcar. Eu gosto de gente ácida, que não tem medo de falar o que pensa e ser quem acha que é, gente forte que supera as dificuldades sem tratá-las como o fim do mundo e de gente sem açúcar, porque simpatia demais me causa diabetes.
Eu odeio quando to contando um problema pra alguém e ai a pessoa começa a se compadecer e dizer ‘vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem’ e dai a pessoa vai se compadecendo, e se compadecendo e de repente eu é que to abraçando a pessoa e falando ‘vai ficar tudo bem, não se preocupa, eu vou ficar bem, sério!’
Porque tanta gente se pergunta porque? Era pra acontecer e fim, já era. Segue em frente cara, e relaxa, o que é teu ta guardado, quem foi embora já foi e o futuro reserva surpresas bem mais interessantes.
Um ensaio sobre o preconceito
Fico pensando em como algumas pessoas conseguem se manter em um época de pensamento distante, vivendo num mundo inventado por elas, onde consideram particularmente o que é certo e o que é errado. É engraçado como alguém consegue odiar alguém por seu jeito de ser, vestir ou de amar. É isso mesmo, odiar alguém por sua forma de amar. Toda forma de amor existe, mas nem sempre é compreendida. “Que falta de respeito esses dois de abraçando” “essas meninas não tem jeito, perderam totalmente a vergonha” porque? Porque as pessoas pensam assim? É preciso de fato um casal gay se esconder por que a sociedade não acha ‘certo’ que eles se amem? “Não da pra dizer que ela não é lésbica, ta na cara” e desde quando lésbica tem que ter um tipo de cara? E qual é o problema de amar alguém que seja igual a você? São questões que a gente levanta depois que conhece as pessoas, quando percebe que homossexual é um ser humano como qualquer outro e que isso não é uma ‘doença’ não tem como ser ‘curado’, quando deixa as vendas do pensamento medieval para trás e começa a encarar a vida como ela realmente é, o que não parece ser tão fácil para certas pessoas, porque em pleno século XXI tratar homossexuais como pessoas doentes e excluir elas da sua ‘sociedade particular’ é demonstrar como algumas pessoas se recusam a evoluir. Opinião é uma coisa particular, é claro, mas quando a sua ‘opinião’ ultrapassa os limites de direitos das outras pessoas, você esta sendo apenas mais um animal andando pelo mundo. Não concorda com homossexualidade? Não seja gay. E fim. Afinal de contas ninguém precisa sair gritando aos quatro vendos que é hétero para ser feliz ou aceito. Tenho amigos gays que são tão preciosos quanto os meus amigo héteros e a eles dou todo meu apoio e força, sempre. E a você preconceituoso, apenas me poupe do seu egocentrismo, porque o mundo é muito maior e abrangente do que a sua pequena mente consegue compreender.
Amo meus amigos gays <3 (They’re so fluffly i’m gonna die!)
“Estão sozinhas porque querem”
Porque todo mundo fala isso quando a gente reclama que não tem um namorado? É como se as pessoas pensassem que é uma escolha pessoal feminina viver num mundo cheio de cafajestes. Eu heim.
A pior parte é que eu faria uma loucura de amor. Sou o tipo de pessoa de se apaixona incondicionalmente e perdidamente sem meias palavras ou sentimentos contidos. Sou do tipo que se entrega sem pensar no amanhã. Eu me casaria hoje sem ter certeza de nada se meu sentimento fosse correspondido. Por mais que haja uma casca que me envolver protegendo quem eu realmente sou, no fundo eu sou só uma pessoa apaixonada. Apaixonada pra sempre. Eu faria uma loucura de amor, mesmo que não fosse amor de verdade, mesmo que fosse por uma fração de segundos na eternidade.
Eu me casaria com você, e é estranho por que eu te conheço faz um mês. Não casaria amanhã, mas sabe, eu me casaria com você, e pra quem não tinha casamento em planos, isso é um grande avanço.
De repente né, quem sabe. Quem sabe o que pode acontecer. Quem é que sabe por que a vida faz a gente esbarrar nas pessoas.
Eu imagino como vai ser a tua cara quando ler minhas poesias e não se encontrar em nenhuma delas. Talvez nem te importes. Mas, aproveita por enquanto, nesse espaço de tempo em que meu coração ainda ta batendo por você, porque quando ele se distrair, até um papel de bala vai virar poesia pra mim, meu bem.
Eu já te fiz todos os discursos que eu poderia ter te feito sobre como eu sou a pessoa ideal pra você. Muitas vezes nem eram discursos falados. Muitas vezes você até reconhecia. Mas, pra você eu não passei de uma aventura certo? Como cruzar a porta do guarda-roupas e ir parar em Nárnia. Então, vou logo avisando que esse é meu último discurso sobre como eu sou a pessoa ideal pra você, sabe porque? Por que não tem mais força aqui dentro sabe. Eu sei que sou uma amante das causas perdidas e tua amante. Mas cansa. Cansei. Este é meu último discurso sobre como sou a pessoa ideal pra você, admitindo o fato de que a ‘pessoa ideal’ não existe e que você vai ler e logo esquecer.
Era uma vez uma menina que roubava coisas. Não há nada de especial nela, ela não ganhou um livro e nem a morte se interessou por sua história. Mas ela adorava roubar coisas. Ela roubava brincos, chaveiros, esmaltes e livros. Roubava tudo o que não precisava. Certo dia a menina que roubava coisas resolveu roubar um coração. Ela surpreendeu a si mesma com o desejo absurdo que lhe sucedera de roubar um coração. Mas tudo bem, roubar coisas era fácil certo? Não haveria problema então em roubar um coração. Ela saiu a procura de um coração para roubar numa tarde de março. Fazia frio e ela estava de vestido. Ela procurou muitos alvos, ela até encontrou alguns, mas nenhum deles era o tipo de coração que ela procurava. Sempre fora muito especifica em seus roubos, ela não era uma gatuna, era uma artista. Escolhia suas peças com muita precisão e fazia o que fosse preciso para apanhá-las. Aquele coração estava sendo um impasse. E ela se perguntava ‘santos deuses porque raios é tão difícil encontrar um coração que me agrade para eu roubar?’ Talvez tenha sido a sua mais longa procura. Ela quase se arrependeu de tentar roubar um coração. Ela quase voltou a roubar coisas. Coisas eram tão mais fáceis de lidar, entende? Lembrou-se de como era sua vida antes dessa obcessão por um coração aparecer. Ela até que era feliz. Cada roubo era quase um tango no teto, mas ela ficava satisfeita com pouco. E agora esse maldito coração que ela procurava não lhe aparece nunca. Veja bem, para ela a dificuldade não é encontrar um bom coração que se encaixe no que ela procura, pessoas com corações que combinam com o dela ela acha aos montes, para ela a real dificuldade é encontrar uma pessoa que não tenha sido assaltada antes dela chegar, para ela a dificuldade é encontrar uma pessoa que ainda tenha um coração para roubar. Todos, todos os seus alvos sem exceção já haviam sido assaltados antes dela chegar, e ela pensada ‘raios, como posso eu ser tão lenta? Sempre chego atrasada!’ Ela seguia procurando em cada sala, meio fio, esquina, boteco, terraço e gaveta, alguém com um coração ainda não furtado. Nunca se soube se ela conseguiu encontrar alguém que combinasse com ela e permitisse que ela lhe furtasse o coração, mas há boatos que ela ainda corre pelas ruas nas manhãs, tardes e madrugadas, destrambelhada, embriagada, alucinada e desesperada a procura de um coração livre para furtar.