Michel Goulart
Um soneto a céu aberto
Da vida passando mal me lembro
Julho orquestra a geada lá fora
Pisco os olhos em dezembro
É o tempo maestrando a hora
Os planos que refaço em desgosto
São leões devorando a sobra
Entre meio janeiro é agosto
Desafiando o relógio e a obra
Livres são os amigos que partiram
Desacorrentados do ponteiro
Da prisão temporal eludiram
Silenciando o tic-tac sorrateiro
Sou náufrago no espaço-tempo
Rimando um teorema incerto
Em outro poema reinvento
Um soneto a céu aberto
O Invisível
O invisível sentimento de impotência
Carência, demência, sub-existência
Gosto amargo na boca, pena e dó
Que coça a garganta, corda e nó
O invisível está lhe observando
Abençoando, julgando e devorando
Eviscerado no conforto da nostalgia
No deja-vu singular d´outro dia
O invisível é a mascara do doente
Quente, indiferente, inconsequente
Asfixiado na verdade ou na mentira
É a hora do óbito que alimenta planilha
O invisível no caos da sua vida é pressão
Ação, reação, frustração e obsessão
Na sua partida inesperada e imprevisível
Aponto meu olhos para você, O invisível