Mend Zeidan
Então, quando eu acordei segunda feira, não era a mesma coisa. O dia já estava lá, pronto, já tinha nascido, e eu acordei atrasada pra esperar ele chegar. Qual é a graça de acordar e o sol já estar lá, e não ter mais cheiro de nada, e o dia ser só dia, que nem quando é dez da manhã? Eu senti falta de ter acordado mais cedo, como na virada de dia anterior. É tão diferente. Aí eu sentei e fiquei olhando pro céu, naquele dia (ou quase dia) e ele ainda tava escurinho, mas o vento já era forte, um forte suave, sabe? Aquela suavidade de brisa que vem com a madrugada. Aí aos poucos as cores foram começando a ficar mais claras, e no céu aparecia alguma coisa meio que amarelada e que eu gosto de ver nascer. Aí o cheiro de dia chegando foi vindo junto com o dia que tava chegando, aí eu fui tendo aquela sensação de que tudo tá em ordem, no seu devido lugar. A gente podia ver o sol nascer mais vezes. Só acho.
Andava com os olhos no chão, a cabeça nas núvens e o coração do outro lado da cidade. Andava imersa na saudade.
Deitou e calou o coração. Esperou que o cérebro também calasse, mas ele parecia mais frenético que peixe fora d'água. Entrelaçou-se por entre os lençóis, sentiu o frio da noite entrar-lhe nas narinas até quase ter a sensação de ardência e quis estar pertinho de uma fogueira. E lembrou do seu ultimo sonho. Tinha um dragão vermelho que cospia fogo. E nem era qualquer fogo, não, na veradade nas extremidades das labaredas tinha algo como gelo. Era, sei lá, um fogo gelado. E quis saber se sonhos são respostas para seu mundo externo ou perguntas do seu mundo interno. Quis saber se aquilo representava tudo o que vira no mundo até então, se eram perguntas às suas respostas ou respostas às suas perguntas. Mas, de repente, quis saber se era apenas uma vivência normal, como no mundo real,só que em um universo paralelo. É que já ouvira falar, em algum dia insano de sua minúscula vida, que existe um outro você, igualzinho, em um outro lugar, também igualzinho, fazendo coisas que na verdade não se sabe se são iguaizinhas às que você faz. Foi aí que pensou que a cada escolha que você faz, você deixa infinitas outras de lado, e se, a cada escolha que você faz e deixa outras tantas infinitas de lado, surgir um outro vocÊ - igualzinho, contudo diferente - o mundo deve ser um computador biológico absurdamente pesado. E, por isso, lento.