Memórias de uma gueixa
A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela... É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se fechou de vez.
Acho que ninguém pode falar da dor enquanto ainda a sofre.
Minha mãe dizia que eu era como a água. A água abre caminho mesmo através da rocha. E diante de algum obstáculo, ela encontra outro rumo.
O meu pai costumava dizer que a minha irmã era como uma árvore, que se agarra firmemente à terra com as suas raízes. Eu era como a água, que percorre o seu caminho sem que nada a detenha. Se encontrar um obstáculo, desvia-se até poder avançar novamente.
Não podemos esperar a felicidade. Não a merecemos. A felicidade é uma dádiva inesperada.
No templo há uma poesia chamada "Perda", entalhada na pedra. Ela consiste de três palavras que foram rasuradas pelo poeta. Ninguém pode ler "A Perda". Só senti-la.
O coração morre lentamente, perdendo as esperanças, como folhas. Até que, um dia, nada resta. Nenhuma esperança. Não resta nada.
Às vezes sofremos só ao imaginar que lugar adorável o mundo seria se nossos sonhos se realizassem.
É por isso que sonhos podem ser tão perigosos: queimam como fogo e, às vezes, nos consomem por completo.
A adversidade é como uma ventania duradoura. Não quero apenas dizer que ela nos afasta de lugares aonde escolheríamos ir, mas também arranca de nós tudo, menos o que não se pode arrancar, de modo que depois dela nos vemos como somos de verdade, não apenas como gostaríamos de ser.
Hoje em dia muitas pessoas parecem acreditar que suas vidas são totalmente questão de opções, mas em meu tempo nós nos víamos como peças de argila que mostram para sempre as impressões dos dedos de todos os que as tocaram.
O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia.
Descobri que a tristeza era uma coisa muito pesada.