Max Weber
Por mais que a vida tenha um sentido, só conhece o combate eterno que os deuses travam entre si, ou, evitando a metáfora, só conhece a incompatibilidade dos pontos de vista últimos possíveis, a impossibilidade de regular os seus conflitos e portanto a necessidade de se decidir a favor de um ou de outro.
Somente quem tem a vocação da política terá certeza de não desmoronar quando o mundo, do seu ponto de vista, for demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para o que ele deseja oferecer. Somente quem, frente a todas as dificuldades, pode dizer "Apesar de tudo!" tem a vocação para a política.
Há atos humanos que, considerados isoladamente, são impregnados pela nossa sensibilidade valorativa com as cores mais deslumbrantes, mas que, pelas consequências a que dão origem, acabam fundindo-se na cinzenta infinidade do historicamente indiferentente, ou que antes, como geralmente sucede, entrecruzando-se com outros eventos do destino histórico, acabam mudando tanto na dimensão como na natureza do seu sentido, até tornar-se irreconhecíveis.
Poder é toda a chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros.
A idade não é decisiva; o que é decisivo é a inflexibilidade em ver as realidades da vida, e a capacidade de enfrentar essas realidades e corresponder a elas interiormente.
A palavra política significa elevação para a participação no poder ou para a influência na sua repartição, seja entre os Estados, seja no interior de um Estado ou entre os grupos humanos que nele existem.
As pessoas raramente reconhecem as oportunidades da vida, porque muitas vezes elas estão disfarçadas de trabalho.
Às vezes, nossa vida é colocada de cabeça para baixo, para que possamos aprender a viver de cabeça para cima.
Mas, o trabalho e a paixão fazem com que surja a intuição, especialmente quando ambas atuam ao mesmo tempo. Apesar disso, a intuição não se manifesta quando nós queremos mas quando ela quer. Certo é que as melhores ideias nos ocorrem (...) quando nos encontramos sentados em uma poltrona e fumando um charuto ou (...) quando passamos por uma estrada que apresente ligeiro adive ou quando ocorram circunstâncias semelhantes. Seja como for, as ideias nos acordam quando não as esperamos e não estamos sentados à nossa mesa de trabalho, fatigando o cérebro a procurá-las. É verdade, entretanto, que elas não nos ocorram se, anteriormente, não houvéssemos refletido longamente em nossa mesa de estudos e não houvéssemos, com devoção apaixonado, buscado uma resposta.
Em uma democracia as pessoas escolhem um líder em quem confiar. Então, o líder escolhido diz: "Agora calem a boca e me obedeçam." Pessoas e partidos não são, então, livres de interferir em seus negócios.
As ideias nos chegam quando lhes apraz, e não quando queremos. As melhores ideias ocorrem da forma que Ihering descreve: ao fumarmos um charuto no sofá. Não obstante, elas certamente não nos ocorreriam se não tivéssemos pensado à mesa e buscado respostas com dedicação apaixonada.
Há duas maneiras de fazer política. Ou se vive 'para' a política ou se vive 'da' política. Nessa oposição não há nada de exclusivo. Muito ao contrário, em geral se fazem uma e outra coisa ao mesmo tempo, tanto idealmente quanto na prática.
Especialistas sem espírito, sensualistas sem coração; esta nulidade imagina haver atingindo um nível de civilização nunca dantes alcançado.
Não é verdade que o bem pode seguir apenas o bem e o mal só o mal, mas muitas vezes o oposto é verdadeiro. Quem não vê isto, é de fato, um bebê de política.
Nenhum sociólogo, por exemplo, deve pensar-se bom demais, mesmo em sua idade avançada, para fazer dezenas de milhares de cálculos bastante triviais em sua cabeça.
Os dominantes. os possuidores, os vencedores, os sãos, em síntese, o "homem feliz" raramente se contenta pelo simples fato de possuir a própria felicidade. Ele necessita também ter direito a tal felicidade. Quer ser convencido de "merecê-la" e sobretudo de merecê-la frente aos outros. E quer portanto ser também autorizado a crer que os de menos sorte receberam equitativamente apenas aquilo que lhes cabe. A felicidade quer ser legítima.