Matias Aires
De todas as paixões, a que mais se esconde é a vaidade: e se esconde de tal forma, que a si mesma se oculta, e ignora: ainda as ações mais pias nascem muitas vezes de uma vaidade mística, que quem a tem, não a conhece nem a distingue: a satisfação própria que a alma recebe é como um espelho em que nos vemos superiores aos mais homens pelo bem que obramos, e nisso consiste a vaidade de obrar bem.
"A vaidade nos ensina, que as ações heróicas se fazem imortais por meio das narrações da história."
"De tôdas as paixões, quem mais se esconde, é a vaidade: e se esconde de tal forma, que a si mesma se oculta."
"O heroísmo, e a nobreza, eram qualidades pessoais, e não hereditárias; uma, e outra dependiam de ações heróicas, e em ambas era necessário o requisito do poder."
"Não há maior injúria que o desprezo; e é porque o desprezo todo se dirige, e ofende a vaidade; por isso a perda da honra aflige mais que a da for-tuna; não porque esta deixe de ter um objeto mais certo, e mais visível, mas porque aquela toda se compõe de vaidade, que é em nós a parte mais sensível."
"A razão não nos fortalece contra os males, que resultam da vaidade, antes nos expõe a toda a atividade deles; porque induzida pela mesma vaidade só nos mostra que devemos sentir, sem discorrer sobre a qualidade do sentimento."
"Os químicos discorrem eruditamente sobre a matéria da petrificação, entretanto, até o presente, ninguém conseguiu com sublime engenho ou com segredo raro confeccionar uma mínima porção de pedra de qualquer espécie ou gênero."
Só a vaidade é constante em nós; em tudo o mais a firmeza nos molesta: com o tempo e a razão vimos a perder uma grande parte da sensibilidade no exercício das paixões; porém o exercício da vaidade não se perde com a razão nem com o tempo. O nosso gosto debilita-se, altera-se, muda-se, e também se acaba; a vaidade sempre persiste e dura.