Matheus Henrique Chaves Diogo
A lucidez é algo mais penoso ao homem que a loucura, pois atrás dela que ele esconde seus mais sinceros sentimentos, os verdadeiros. Os sábios tem insônia ao refletir sobre ela, os ignorantes a tomam como um orgulhoso escudo e os tolos assim com eu apenas sofrem...
"Ilusão... ó funesta ilusão... beberagem dos fracos e tolos. Ingrata tal como é, ousas ser teimosamente impetuosa. Deixa-me! Ao menos quando entro pela porta do bar, fique do lado de fora, de goles em goles não mais penso em ti. Mas sei que quando sair, lá estará você a me esperar!"
Amiga
Eu preciso de uma amiga, alguém pra me ouvir reclamar da vida
acho que você é perfeita para o caso... acho...
mas onde estas?
Minhas lamentações já não cabem em mim
sou ingrato comigo mesmo, tudo é uniforme e de aspecto fúnebre
ora Deus... o que é a vida, senão lamentações
e mais lamentações, erros e mais erros?
Me pergunto, onde estás? me pergunto diariamente... por anos eu perambulei, já deveria ter morrido sozinho, há muito tempo. Onde as pessoas malvadas vão quando morrem? vão para o céu onde voam os anjos?
Mas o pesadelo continua.
Nada sabemos da alma senão da nossa, afinal quem precisa agir quando se tem palavras? a mim faltam palavras e ação... sente-se comigo, encoste a meu lado, sou realeza no país dos fracassados. O que diabos estou tentando dizer, devo diminuir a bebida? talvez sim, mas não.
Talvez eu ainda tenha jeito. Além dos mais preciso servir de exemplo pra próxima geração.
Um exemplo a não ser seguido...
São Paulo
Bebi vagarosamente o último gole de café enquanto olhava a garota da mesa ao lado, após um longo tempo decidi sair, aquela fria garoa cortava a carne de meu rosto feito navalha, insultava à todos que fugiam em busca de abrigo...
Lá fora a metrópole pulsava, com seus muros gritando obscenidades, conforme eu caminhava junto a marginal sentia o pútrido odor do rio, não pude deixar de pensar que toda aquela sujeira é um pouco de todos nós...
Todos somos um pouco loucos e inocentes, decadentes e gloriosos...
estamos presos nessa metrópole artificial mecanizada pulsando alucinadamente. Enquanto eu passava, os observava ali parados, absolutamente nada a perder na selva de pedra... vejo neles um pouco de mim...
Formas e retalhos de quem um dia foi alguém, alguém com família e amigos. Tínhamos algo em comum, um dia todos fomos crianças, tínhamos sonhos e se não fosse uma mulher que muito me amou eu talvez também estivesse ali entre eles, seria mais um.
Aguerrido
Diga não a desistência!
Diga não a renúncia!
Diga não ao abandono!
Diga não a deserção!
Diga sim a paixão!
Diga sim ao amor!
Diga sim a amizade!
Diga sim ao apreço!
Diga sim, mas não apenas diga, diga e vá!
Ninguém
Ninguém pra lhe dizer boa noite
Ninguém pra lhe dizer se cuida
Ninguém pra lhe dizer até amanhã
Ninguém pra lhe dizer bom dia
Ninguém pra falar que te ama...
Você pensa nela ao se deitar, mas ela pensa em ti?
Você se importa com ela, você a quer, mas ela sequer sabe?
Um ninguém, um nada e um nulo totalmente invisível aos olhos.
Longas noites de insônia pra combater a ilusão.
Longos banhos quentes pra combater os pensamentos frios.
É estranho ser assim, mas é assim que é.
Intenso
Sem meias palavras
Sem meia-boca
Sem meio quilo
Sem meio-fio
Sem meio-termo
Sem meia culpa
Só a meia noite...
inteira e intensa
até o meio dia...
Jeito
O meu jeito sem jeito
Da boca as palavras não saem direito
Murmuram em meu peito
Ah... como queria eu.
Queria que as palavras saíssem com jeito
Jeito fácil, jeito simples
Sem muita sofisticação ou requinte
Que apenas saíssem... de seu jeito!.
Esperança
A esperança não é uma certeza
Não é um dado da consciência
Não é uma virtude
A esperança é uma sensação
É uma paixão
É um sentimento
É a dor
Melancolia
Excitação
Euforia
o devaneio
A esperança não se pensa, se sente
É a vontade de agir
É o que te faz levantar de manhã
E enfrentar o mundo de frente
Como a luz que brilha ao fundo do túnel
Moça
Ei moça...
É, é com você mesmo que estou falando!
Sabe esse seu sorriso?
Ela é a minha inspiração favorita
Como palavras, versos
poesia e expressão
afinal pra que se tem um coração?
Já fui ao fundo do poço
assisti lado B da vida,
assim como dizem por aí sabe?
renascer das cinzas...
A doença que me mata é a mesma que me acalma,
já não sei bem o que é o certo
e que é o errado?
Vaso
Tinha um vaso em cima da mesa,
em cima da mesa tinha um vaso
e nesse vaso havia uma semente,
uma semente nesse vaso
Essa semente eu cultivei
cultive para que florasce
cultivei por mim mesmo
pra solidão
que no peito arde
Essa semente
desse vaso
que eu podei e reguei
por todos os dias
flor se tornou
Uma linda flor
solidão já não mais havia
apenas alegria
cuidei dela por todos os dias
Eis que um dia,
não mais flor havia
apenas galhos murchos
e cores cinzas
A dor no peito voltou
assim como a flor murchou
Só
Eu sei, estou só,
mas agora é real
não há esperança...
Ninguém mais por perto
Não há mais nada a ser dito
nada mais a ser compreendido
as palavras se perderam no tempo
E o que restou? o que poderia restar?
Estou indo pra casa,
é uma viagem sem volta
pra dentro de mim mesmo
me enterro vivo
Eu sei...
agora estou só
as palavras foram levadas pelo vento
E não há mais nada a ser dito, nada.
mais a esperança repousa sempre,
no final..