Mateus Jeconias
Fui ver o mar, respirar novo ar, sentir a brisa e chorar, chorar sem lamentar, apenas recordar e aceitar que o que tudo era, nada mais era que uma mera quimera!
No brilho de uma lágrima, o reflexo de um passado
Tão distante e tão presente, persistente, eloquente
Imune ao tempo, contrário a tudo que penso
Inalcançável às minhas mãos, mas residente em meu coração
Mas não, eu não tive medo de te perder
Tive medo de ficar perdido sem você
Queria que aos meus olhos foste só mais uma aventura
Mas aos teus olhos me rendi, e por eles o sentimento perdura
Contrapondo a razão a qual tentei desesperadamente me agarrar
Vivenciando na saudade a inerente dor de amar
E assim, sigo sem rumo, a deriva no mundo
Esperando no destino, uma chance de encontrar um novo caminho.
Hoje é só mais um daqueles dias
em que a falta de alguem me faz sentir sua falta.
É só mais um daqueles dias
em que a doce paz me traz amargas lembranças.
Apenas mais um dia,
mas amanhã tudo voltará ao normal
e todas as minhas incertezas certamente adormecerão
e esperarão a chegada de mais um daqueles dias.
Eu só quero não querer o que tanto quero, e esquecer que esquecer uma lembrança forte é a lembrança da qual não quero lembrar, para então esquecer que lembro sem a culpa do querer esquecer o que um dia me fez bem.
O egoísmo é intrínseco a natureza humana. Podemos apunhalar um coração sem compaixão, desde que os olhos da inocente vítima estejam voltados para a direção oposta. Somos deploráveis, manipulados por desejos autônomos. Escravos de nossas vontades, pensamos apenas em nossas satisfações e exigimos que os outros também o façam. A solidão nos faz amar qualquer um, e o medo de sofrer nos faz odiar a todos. Não nos arrependemos de nossos erros enquanto estes não nos fere. Mentiras, traições, humanidade.
Só há arrependimento quando as farsas são descobertas e o sangrar da ferida incomoda os olhos de quem fere. Confesso, não sei perdoar, jamais concedi uma segunda chance, porque se a primeira não fosse acidentalmente desperdiçada, ainda hoje estaria entregue aos braços de uma ilusão.
Tenho uma pequena preferência por pesadelos. Bons sonhos são como certas pessoas. Nos fazem bem por um instante, mas nos decepcionam quando acordamos e encaramos a realidade.
Saudade não é só a falta de alguém que está ausente, mas também, a falta da pessoa que somos quando este alguém está presente.
O que hoje sentes, amanhã será esquecido, e nas memórias distorcidas de sentimentos mal compreendidos, restará a falta de sentido, e desta falta, caracterizar-se-á a necessidade de ressentir o que só existiu em lembranças elaboradas pela frustração de não mais ter. Assim, a partir dessa necessidade, desformulará a realidade e passará a moldar sua percepção de acordo com o anseios de sua carência afetiva e existencial, passando a adequar o objeto de desejo às características de sua própria e original incompletude. A isso chamam amor, e defender sua pureza e incondicionalidade não passa de uma ingênua tentativa de negar suas fraquezas, medos, carências e frustrações.
"Me restam as memórias de um pretérito mais que perfeito, já que o nosso amor não pode ser conjugado em outros tempos.
Se a minha fé te irrita e o seu ceticismo me ofende, é porque não és tão cético e eu não sou tão crente.
O ignorante sempre acusa o outro de ignorância. Eis a melhor forma de identificá-lo. Alienado de si, julga-se entendido, tendo dito que o saber alheio está alheio à verdade. Porque a verdade, propriedade sua, tem um brilho particular, restrito ao seu olhar, e todo olhar que difere, o fere, porque remonta a monta infundada e frágil das opiniões que regurgita, acredita e credita, mas que no fundo sabe que o que pensa que sabe, não passa de vaidade, e que pela vaidade, mortifica, sacrifica a "verdade". Eis a razão que pela emoção é castigada. Eis a razão de uma opinião contrária parecer uma ofensa desmesurada. Pois é a discordância que o coloca em contato com a própria ignorância, e assim, tal como na infância, resta-lhe dizer: ignorante é você!
Tudo aquilo que me foge à compreensão tacho de loucura, bobagem, asneira. Afinal, é sempre mais fácil desvalorizar o que não compreendo a desvalorizar minha própria capacidade para compreender.