Mateo Alemán

Ninguém se julga como o julgam; penso de mim o que tu pensas de ti; qualquer tem pela melhor a maneira de tratar-se, por mais correcta a vida, por mais justa a sua causa, pela maior a honra e por acertadas as selecções que faz.

Nós, os pobres, somos como o algarismo zero, que por si só nada vale e faz valer a cifra que a ele se junta - tanto mais quanto mais zeros lhe forem acrescentados.

Para o amor e a morte, não há coisa forte.

Não há vasilha que meça os gostos nem balança que os iguale; cada qual tem o seu, e, pensando que é o melhor, é o mais enganado.

Quem não tem necessidades próprias dificilmente se lembra das alheias.

Quem quando pode não quer, merece que quando queira não possa e perca pelo malquerer o bem poder.

Não se conhece o bem enquanto não se o perde.

Deve-se dar a fortuna para não adquirir um inimigo; muito importa não o ter, e quem o tiver trate-o de maneira tal como se em breve tivesse de ser amigo dele.

Como ao bem ocupado não há virtude que lhe falte, ao ocioso não há vício que não o acompanhe.

Devem-se buscar os amigos como os bons livros, pois a felicidade não está em que sejam muitos, nem mui curiosos, antes em que sejam poucos, bons e bem conhecidos.

Para os aduladores não há rico tolo nem pobre discreto, porque têm óculos de vista larga com que se representam as coisas.

O vinho não embriaga tanto ao homem como o primeiro movimento da ira, pois ele cega o entendimento sem deixar luz para a razão.

Conselho cordato é enfrentar as adversidades com rosto alegre, porque com ele se vencem os inimigos e se dá alento aos amigos.

É mais fácil suportar as aflições de estômago cheio.

Onde a força oprime, a lei quebra-se.

Não há professor como o exercício.

O melhor remédio contra as ofensas é desprezá-las.

Nunca o olho do ávido dirá, assim como não o dizem jamais o mar e o inferno: a mim basta.

O desejo vence o medo, atropela inconvenientes e aplana dificuldades.

A alma triste nos prazeres chora.

Devem-se buscar amigos como se buscam livros

Acertar na procura não reside em que sejam muitos

nem extraordinários ,mas que sejam poucos,bons

e bem conhecidos...

A mulher, quanto mais olha a cara, tanto mais destrói a casa.

"Devem buscar-se amigos como os bons livros. Não está a felicidade em que sejam muitos nem muito curiosos; e sim poucos, bons e bem conhecidos."

Os hipócritas são como as tâmaras: o doce está fora, o mel nas palavras e o duro lá dentro, na alma.

⁠Vício terrível é o jogo e, assim como todas as águas correm para o mar, também não há vício que não se possa encontrar no jogador.