Marli Ester Guimarães
Um sino badalando na cabeça
uma goteira embaixo do queixo
Mais uma, garçom
Que o soluço ainda não passou!
Me deixa cair
Estende a mão e me levanta
Carinhosamente me empurra
Não caio, me apoio
Me segura, mas me solta
Poderia ser um tango argentino
Mas era você maltratando meu coração!
Memória de elefante
Fome de leão
Brava feito leoa
Hiperatividade de um macaco
Lealdade de cachorro
Independência de um gato
Estômago de avestruz
Vixi! Acho que sou um mutante...
Ela chora
Finge que está tudo bem
Mente que é dor de cabeça
Inventa qualquer bobagem para não assumir...
É pecado? É crime sentir tristeza de vez em quando?
"Não sou obrigada a nada! Nem a ser feliz!"
O luto não é imperdoável. .. Chore o quanto quiser!
Mas deixe passar... a mágoa, a raiva, a dor
Nada é para sempre! "Graças a Deus! "
Sentimentos são perecíveis, se desfazem com o tempo...
E o tempo... melhor remédio não há!
Deixe me aqui com esta colcha de retalhos
Aos poucos vou unindo uns aos outros
Logo será uma bela colcha, dessas de causar admiração
Juntando cada retalho, meticulosamente combinados
Como quem junta as peças de um quebra- cabeça
Um a um... linha e agulha dançam no mesmo ritmo...
Na vitrola, um bolero argentino
E no porta-retratos, um soldado que nunca mais voltou.
Querida memória,
Vamos conversar?
Eu faço para a senhora uma lista do que preciso lembrar.
As demais coisas vamos guardar em outro lugar...
Poderia ser em uma caixa bonita com laços de cetim?
Ou em uma gaveta de uma linda penteadeira com puxadores de marfim?
E que tal em uma garrafa...dessas que se lança ao mar?
Pensando bem, Dona Memória, o melhor lugar para se guardar certas coisas é a sete chaves dentro de mim.