Marielena Fonseca
Hoje acordei de bem com meu próprio reflexo, sabe? Mesmo com o cabelo bagunçado, me olhei no espelho e não resisti: Você tá linda. Mesmo com a cara amassada: Você é perfeita. Mesmo sem ainda ter tomado banho, escovado os dentes: Poxa, eu sou louca por você. Mesmo que esse pijama aí não valha nada: Caraca, eu não te abandonaria nunca!
Pois é, tirei o dia todinho só pra me vangloriar. Se eu fosse um homem, morreria aos meus pés!
Hoje, na minha agenda de desejos, a primeira anotação foi: Serei feliz. Feliz o bastante. Redondamente feliz. Até dizer chega. Até não aguentar! E não é que deu certo?! Sabe aquele fdp que sempre passa e nunca me nota? Foda-se. Sem vaselina! Sabe aquele bom-dia que não era retribuído? Já tá no fundo da bacia sanitária. Sabe aquela música perfeita que me arrancava lágrimas? Lixo, lixo, lixo... Sabe aquele estresse que se apoderava quando eu não era escutada? Hã? Cadê? Sumiu! Gorda? Não, tô deliciosa, meu bem! Até tentei umas notas no violão, resultado: Minha voz é demais!
Até o me dei o luxo de me autopresentear. Vê se pode? É hoje que neguinho vem levantando a voz e eu tô só assobiando... É hoje que neguinho me olha da cabeça aos pés e se pergunta: "- O que é que aquela moça tem? - Sei não. Que tu acha disso? - Sei também não, só sei que ela brilha!" E eu vou continuar assobiando, dançando, balançando o cabelo, olhando pro céu e dizendo: Como a vida é linda. Como eu sou linda. Como sou feliz!
Ah! A vida é assim. A gente perde a inocência por bem ou por mal - na maioria das vezes é por mal. Sempre vai ter alguém que vai nos machucar - ou melhor dizendo: abrir nossos olhos. Ele não será o primeiro, jamais. Você se relacionará com outra mente, outro mundo, outra vontade! E é óbvio que você vai se machucar. E também fará alguém sofrer, MESMO SEM QUERER.
Você já percebeu que não há coisa que mexa mais com um homem que a indiferença?
Indiferença para eles significa falta de interesse, e não há coisa mais desgraçada no vocabulário masculino que uma mulher não estar interessada nele. Isso abala a masculinidade frágil de qualquer um. Homem é um bicho caçador, e pra mente peculiar de todos: sua presa tem que ser um alvo não tão fácil, mas sempre disponível.
Quer ver um homem pirar o cabeção? Finja não se importar com nada que ele faz. Ele tá vendo um jogo de futebol e você queria ficar a tarde com ele? "Então tá!" Diga que vai sair com as amigas e amigOS, e veja a reação... Você quer sair, mas ele não? "Falou." Ele vai pensar duas vezes... Amigos? Finja não se importar nem um pingo com a existência deles e ele vai preferir ficar com você. Ligações? Esquece, garota. Ele vai ficar imaginando o que você tá fazendo e vai ter sempre vontade de ligar pra saber, vai ser sempre curioso. Ele quer discutir a relação? Ria. Ria muito. E não tenha nada para 'discutir'.
Homem não reage a palavras, reage a ações. Quanto mais distante você estiver, mais perto ele vai querer chegar. Simples assim. É fácil ganhar um homem, pô. Basta fazer de tudo para perdê-lo.
"Vestir as calças" não dá, mas se portar como tal às vezes faz a macharada pensar um pouco.
Hoje me flagrei pensando em você. As circunstâncias me levaram a isso. E dessa vez eu senti vontade de escrever não sobre você, mas sobre quem eu era e quem eu me tornava quando estava com você. Quero falar sobre como você me fazia ser flexível: Eu sentia que podia ser uma brisa e ao mesmo tempo um tufão. Quero falar que sempre tive a necessidade de ser muitas, de ser múltipla, de ser pluralizada... Mas você me compactou. Você fundiu cada uma de mim numa só e isso me fez ser tão sua, entende? Essa liberdade de ser uma só e tornar alguém feliz assim, me prendeu a você. Eu tinha também aquela mania de vestir a capa preta e sair por aí achando que podia salvar o mundo; mania de construir icebergs em volta de mim mesma e viver um eufemismo inatingível... Tinha aquele alucinado apego pelos “quases”: Quase sou de alguém, quase amei, quase me machuquei, quase vivi aquilo de verdade. E aí eu encontrei você: Essência de amor e totalitarismo, cheio de extravagâncias amorosas. Você é e eu quase era. Mas aos poucos você foi escavando meu iceberg, descongelando cada calota polar que construí durante anos com simples palavras e gestos. E aí comecei a sentir o mar se inundar cada vez mais com a água do gelo derretido. E se inundou, causando a destruição do orgulho, da prepotência, da solidão, do sentimento de se bastar sozinha, que viviam ali nas margens do meu mar. Que fizeram morada fixa por tantos anos nas beiradas de quem era eu. E ficou tudo mais amplo, mais vasto. Tudo começou a virar sorriso, alegria, entrega. Aquela que fui – tão besta e sem fundamento – passou a ser tão sua e tão mulher, sabe? Você me fez experimentar coisas inexistentes na esfera em que eu vivia, e isso, como sempre, foi me prendendo tão mais a você! Comecei a me tornar um reflexo da maravilha que eu via em você. Passamos a ser uma extensão do outro. Passamos a ser alma e não corpo. Passamos a ser. E aí todo esse sentimento foi me obrigando a abrir as portas, as janelas. Me obrigou a quebrar paredes, o teto. E aí tudo se iluminava. Quero dizer que eu não esperava muito de você além de plantas rasteiras, ervas pequenas. Mas você me aparece com um baobá. E com toda a felicidade: Eu a rego, eu a podo, eu a faço crescer.
Dê-me segurança e te darei amor. Porque, mesmo sendo indizivelmente complicado de se explicar, pra existir a tal reciprocidade, eu preciso me ancorar em certezas.
As pessoas, mesmo sabendo do preço descomunal dos blocos de concreto, preferem erguer muros absurdamente inquebrantáveis. Vai entender! Tão mais fácil viver, não guardar dentro da gente essa doença contagiosa do Mal do Coração Culposo: aquele sem intenção de amar. É crime, viu?
Todas as manhãs visto minha capa preta e saio por aí na esperança de fazer as pessoas enxergarem que nem todo sentimento bonito precisa ser repelido.
"Saibam lidar com o que conquistam!" é o que sinto vontade de gritar na janela todas as manhãs. Mas requer tanta entrega e as pessoas só sentem medo!
Notei que ultimamente tenho esperado demais de você. E me decepcionado na mesma proporção. Qual o teu problema, ein? O que você vê de tão maldoso em se entregar um pouquinho mais? Que medo infernal é esse de amar? Se jogar sem medo do abismo... Por favor, para de olhar tanto para os próprios pés, para de calcular cada passo e presta mais atenção na estrada ao redor, presta atenção no que está perdendo. Porque, tipo assim, você sabe que está perdendo, sabe sim, só não consegue aceitar que nem sempre os outros conseguem acompanhar seu ritmo. Eu tento, vivo tropeçando, as vezes caindo e levantando, mas estou tentando, oras... E o que recebo, por favor? Essa inconstância, essa mania de oscilar entre correr e caminhar... Mas acontece que tem hora que a gente cansa. Fica ofegante, sabe? E quer sentar, tomar uma água de coco, pôr um óculos de sol no rosto e aproveitar. Eu tô nessa fase agora. Só querendo relaxar. Dá pra você entender isso? Sei que não é difícil. "Relaxar", esticar as pernas, dar uma trégua pro coração, dar sossego a tudo no mundo. Aí, de tão boa, vou tentando te lembrar que nem sempre desacelerar significa perder o passo, mas você não aceita, não é? Então eu fico por aqui... Sentada, mas não te esperando. E quando me levantar e começar a correr, não será atrás de você, e sim da minha felicidade. E aí, quem sabe, cansado fique você de tanto tentar fugir e se esconder.
Por favor, para de olhar tanto para os próprios pés, para de calcular cada passo e presta mais atenção na estrada ao redor, presta atenção no que está perdendo.
Então eu fico por aqui... Sentada, mas não te esperando. E quando me levantar e começar a correr, não será atrás de você, e sim da minha felicidade. E aí, quem sabe, cansado fique você de tanto tentar fugir e se esconder.
Um dia eu tomo vergonha na cara e aprendo que a porra do amor é um investimento de vida e não uma teoria cheia de burocracia emocional que a gente debate numa mesa de bar.
"Até certo tempo eu sabia reconhecer uma dor se aproximando a léguas. Meus pastores alemães internos ladravam em sinal de alerta ao sentirem o cheiro de encrenca no ar. Hoje eles já não são tão eficientes assim. Estão velhos demais, dormem profundamente."
"E se felicidade é tudo aquilo que eu construí sem perceber e sem ver, me atrevo a dizer que sou feliz. E SOU porque felicidade é estado de espírito e não mero acontecimento. Quem ESTÁ feliz não é completo. Lavo a alma toda manhã e acredito piamente que a felicidade é minha parceira. Estado de comunhão. E gosto dela assim: Não movo montanhas pra merecer, ela existe em mim. Sou apenas redondamente feliz. E ai daquele que achar ruim!"
Pior que sofrer de um mal, é não saber de onde ele vem. Mal do coração a gente nunca sabe de onde vem. É estranho quando sua alma gêmea se transforma numa algema e te prende às partes inconstantes de um sentimento refutado. Pior é quando a gente sabe que acabou. Tomar ciência do próprio ponto, é se saber incapaz de usar vírgulas. E certos textos só precisam de ganchos, sabe? Sempre achei absurdo as histórias que acabam num ponto! Parece que elas não tem outra saída, senão amargurar. E amores com pontos finais não apetecem a minha alma! Prefiro aqueles sentimentos maduros que abusam dos parágrafos, exclamações e sempre ligam outras histórias a ela, essas sim, merecem muito o meu respeito! Reconheçam suas continuidades e façam ela valer a pena!