Mariana Navarro
"Aliás, é preciso muita coragem para me amar. Eu mesma não me amaria, não me cuidaria, não me namoraria. Imagina amar uma criatura tão complicada, chata, e com uma cabeça tão louca como a minha? Eu não me aguentaria! Imagina todas aquelas manias chatas que eu acho em mim mesma, todos os olhares, e meu jeito, imaginam mesmo, alguém se apaixonar por isso? Por mim?"
"O que eu costumo ver de tão especial em mim é o meu jeito de pensar, o jeito como eu decoro cheiros, sobrevivo de sentimentos, sinto olhares, vejo beijos. E assim sou eu, não queira me mudar. Sim, eu sou mutável e adaptável. Eu mudo por mim. E… Falando em mim, como é bom se amar, não acha?"
"Meu coração batia forte quando ele ligava pra mim, mas batia diferente na ligação de meu melhor amigo, assim como bateu quando encontrei um velho colega, tanto quanto bateu quando conheci meu vizinho gato, e até hoje bate pelo carinha da terça, o entregador da segunda, o bonitão da balada de domingo, o estranho do shopping de sábado. E todo o resto. Como posso dizer amar uma pessoa, se amaria outras dez mil se as conhecesse? Mas a gente nunca conhece."
"E pensei numa coisa, que me fez repensar. Será que a criança que eu era teria orgulho da pessoa que eu sou hoje? Lembro-me de que era uma criança petulante, mas era muito verdadeira. Eu não conseguia ver o errado, o falso. Saudade disso."
"Afinal, o que aquela criatura sabia sobre perdas? Nunca perdeu uma mãe, um pai, um rim… Talvez já tenha perdido um amor, mas por favor, não queiramos comparar."
"Parece exagero, mas é que você, poxa vida, só você conseguiu pular o muro de dificuldades que levantei em volta de mim quando as palavras dor, saudade, ausência, falta e despedida fizeram de mim uma menina de lata."