Mariana markes
Quem é Alice?
Mais uma noite em claro, mais um sonho desperdiçado. Pergunto-me o porquê da solidão que me abraça diariamente, meus olhos semiabertos, meus lábios ressecados e por fim, meu coração ensanguentado, sinto-me inferior a ti quando te vejo passar.
Amar-te-ei por mil anos e por mil anos vou sofrer a dor de não ser correspondida, quem me mandou nascer Alice?
Carrego esse fardo em minhas costas, você é o meu fardo e agora, as minhas costas doem.
– Alice Shared.
Meus dias são exatamente iguais, todas as manhãs eu me perco em meio ao aglomerado de pessoas ao meu redor, apenas procurando por você, mas aonde você está?
Depois que você me deixou cair, passei todos esses anos recolhendo os meus cacos e, incrivelmente, eu ainda não encontrei todos eles.
Breu
Enquanto a insônia me ataca, meus pensamentos transformam-se em punhais que insistem - todos os dias - em perfurar o meu crânio.
Enquanto carrego o fardo da sua ausência, lembro-me de que tudo o que tenho são só fotos e memórias, fotos daquilo que nunca fomos e memórias daquilo que nós nunca seremos. Seus olhos eram como estrelas que nunca couberam no pequeno céu que eu tinha a oferecer, por isso fiquei por tanto tempo no escuro.
Você desapareceu da minha vida sem mesmo estar nela e isso fez com que eu inventasse uma história melancólica perfeitamente elaborada para algo que nunca existiu: Você e eu.
O corvo e o canário
Havia um pequeno corvo que encontrava-se - o tempo todo - solitário, sozinho e inseguro.
Ele voava sempre na mesma direção à procura de proteção ou de abrigo. Às vezes, à procura de outra ave que pudesse fazê-lo feliz novamente, embora nunca tivesse a encontrado.
Ele voava sozinho, vivia sozinho e toda vez que a sua existência era negligenciada pelos canários mais bonitos de todo nicho, um buraco enorme em seu peito abria-se e ele sangrava, mas essa dor não era física, era da alma.
Enquanto isso - no outro lado do nicho - morava o canário. Uma das mais belas aves que existiam. Toda vez que cantava era como se deuses estivessem dançando nos céus, o corvo amava vê-lo cantando, o corvo amava vê-lo voando. Era a ave mais apaixonante de todas e, assim como o corvo, também tinha muitas cicatrizes
e tais cicatrizes sagravam toda vez que arrancavam a casca de ferida.
O corvo dizia a si mesmo “tenho band-aids a oferecer” mas sabia que eles não iriam cicatrizar a alma do canário que também estava ferida.
Então, partindo de um pensamento errôneo, resolveu ajudá-lo, ele amava tanto o canário que não poderia mais encontrá-lo naquele estado. Resolveu ajudar, mas de forma errada, então tudo o que ele fez foi jogar sal na ferida.
O corvo perdeu o canário.
Aglomerado
Meus dias encontram-se exatamente iguais, em todas as manhãs eu me perco em meio ao aglomerado de pessoas ao meu redor apenas procurando por você, mas aonde você está?
Depois que você me deixou cair, passei todos esses anos recolhendo os meus cacos e, incrivelmente, eu ainda não encontrei todos eles.
Texto sem título
Eu não sou mais que eu costumava ser. Eu costumava cantar quando era mais jovem, mas agora, o meu silêncio é mais profundo do que uma música particularmente especial.
Quando envelhecemos, nós percebemos que a fonte da juventude não existe e que nenhum raio de esperança será capaz de impedir o acontecimento daquilo que quase todos nós tememos, a morte.
A morte já se hospedou vinte ou trinta vezes em minha casa, às vezes a sua chegada era tão imprevisível como um parente distante que eu nunca cogitei a possibilidade de conhecer tão cedo, mas eu nunca quis conhecê-la, por isso eu sempre a temi, na verdade, acredito que todos temam a morte por isso, porque ela é imprevisível.
Carol
Escuto o teu cheiro
Andando por ai
A passos lentos
Como quem vive
Cada instante
Como quem pisa no chão
Mas não com o corpo;
Com a alma.
Guarda dentro de si
Um universo
Que a ciência não explica
mas se explicasse
e eu não a deixasse
seria egoísta proibi-la
de compartilhar?
Só porque eu adoro contemplar
sozinho esta vasta vista?
Te amo como quem respira
Eu inalo, mas não solto
[tão rapidamente
Pois quero que fique um pouco
de toda recordação
em cada canto
do meu pulmão.
Gelo Seco
No frio,
O corpo engole gelo seco
Que não passa pela garganta
Ali ele fica
- Preso no vácuo -
Inibindo a passagem do som eloquente
NADA SAI
apenas aglutina
ENTOPE
Mas não transborda
Porque nada sai
Só o gelo seco entra.
Açoite Musical
É com a dor que faço versos
Se eu te contar que vêm do meu coração
Não procure por amor ou encantos diversos
Pois existirá somente sangue e dor naquele refrão.
Pietra
Quando olho no teu olho
Vejo o centro da tua alma.
Teu sorriso é o que escolho
Para ter uma vida amena; calma.
Muita fala sai do teu corpo
Mesmo quando se cala.
Traça linhas retas num caminho torto
E guarda o céu na tua mala.
As estrelas na sua pele
Formam uma pequena constelação.
O centro do seu Sistema não é o Sol
Mas, sim, o seu coração.
Tudo gira em torno dele
Tudo sempre há de girar
A não ser que um dia
Tu deixes de amar.
E se você fechar a porta
Não me importa as consequências,
A sua triste e murcha veia aorta
Regarei com amor e reticências...
Linda quando vai
Linda quando vem
Mais linda ainda
Quando fica também
Boca de maça
Olhar de tigresa
Sol da manhã
Acervo de beleza.
Invento uma rima
Sobre o teu olhar
Ainda menina (brilha sem parar)
Dora, que reencanta o desencanto
O nada, ela transforma em tudo
Regenera o som, faz ouvir o mudo
Adora amar, faz a vida eterna ficar.
Deus lhe pague
Pela cela
Que me deixou escolher.
Deus lhe pague
Pela vela
Sem fósforo para acender.
Deus lhe pague
Pela dor dela
O sofrimento faz o mundo crescer.
Deus lhe pague
Pela donzela
Que me deu a vida e não pôde viver.
Deus lhe pague
Pela verdade que revela
Faz massa de manobra acreditar sem contradizer.
Deus lhe pague
Pela favela
E o amanhã que pode não vir a acontecer.
Martírios do Destino
Amei-te como uma pássaro perdido no breu
Perdi-te na penumbra, tornei-me teu Orfeu
Os martírios transcrevem o meu pobre destino
Desde tua partida, esqueci-me do Divino.
Não há mais brilho no céu que me foi prometido
Mas o desejo a minha cova foi friamente proferido
A esperança- de que me vale?
O amor - este nem me fale!
O término da vida é o começo da morte
Nenhum ser mundano pode ser imortal
Eu era um ser vivo desprovido de sorte
Amar foi meu erro, meu erro fatal.
Preciso querer para não querer
Eu queria poder ler a poesia
Presa em cada palavra
Que os teus lábios não deixaram
Voar.
Eu queria poder cultivar a semente
De cada momento bom ou ruim
Que, comigo, no pôde
Compartilhar.
Eu queria não querer
Mas, para não querer,
O que mais preciso é
Querer.
Braille
Meus dedos traçam linhas
[no seu corpo
Tua pele é um livro raro
Preciso lê-lo de novo
Ressentir cada parágrafo.
Não te quero na minha estante
Apertado entre dois
Te desejo na minha cama
E não sei o que vem depois.
Silêncio Espiritual
A solidão não existia
A fome o acompanhava
A única solidão que residia:
A do céu, quando
A Deus clamava.