Mariana Magalhães
Me despi das verdades contadas
já não me veem mais sorrindo sorrisos engessados.
Aprendi e continuamente aprendo, por mim.
Sorrio agora um sorriso de quem se descobre
de quem se ama, de quem se reinventa.
Olho no espelho e aceito a imagem,
olho pra dentro e fito as mil maravilhas e os mil infernos de mim mesma
com ares de curiosidade, deslumbre e paixão.
Sei onde caibo, sei onde não quero entrar
sei onde não devo voltar.
Sei que, entre tantas coisas refutáveis,
o auto-conhecimento é o mínimo para seguir.
Dá vontade de parar,
parar de vez em quando.
Parar de pensar.
É, parar de pensar.
É tanta coisa pra ser dita que,
em sua infinita complexidade,
dá vontade de não dizer.
Dá preguiça, vontade de esquecer.
Até que ponto a gente aguenta?
Dá vontade de explodir.
Tanta coisa pra ser dita,
pouca gente pra ouvir...
Dá vontade mesmo é de sumir!
- Escolhemos ser quem somos e, de vez em quando, até isso dói.
O mundo anda tão barulhento!
Ao pensar em parar pra pensar
não dá tempo, não penso.
Fragmentaram o sentimento
denominaram: bom e ruim.
Mas quem me consultou?
Sou agora obrigada a pelejar,
travar fadigante batalha comigo mesma:
Por que todo mundo tem que ser feliz o tempo todo?
Quem, afinal, é feliz o tempo todo?
Felicidade é coisa efêmera,
dá e passa — penso, agora.
É momento que tira o fôlego
é paixão, entrega, intensidade,
é grito por dentro, mas acaba.
Que coisa nessa vida não acaba?
Ora! Se tudo muda, se a felicidade grita,
hora sim, hora não e lido com isso,
que me causa estranheza ao ouvir o som oposto?
Shh! Ouça com atenção.
Acho que calaram a tristeza!
O Som anda distante e abafado.
Estará atrás daquela pilha de coisas,
aquelas com promessa de desenfadamento?
Até a solidão foi junto!
Foi e disse que já não existe motivo para melancolia,
agora, só ouço o grito estridente da felicidade
"todo o resto é vazio" — assim o disseram.
Já era hora!
A parte fétida do sentimento se foi.
Tomei agora a fórmula que me foi prescrita:
"2 colheres de chá de ignorância de 8 em 8 hs,
30 gotas de obliteração a cada 6 hs."
Mas por que ainda escuto a tristeza sussurrar?
E que barulho é esse que eu ouço agora?
Parece vir daquela pilha de entulhos!
Será ele que me tira o tempo
quando penso parar pra pensar, mas não penso?
Olhai a beleza singular
das flores caídas pelo pátio.
Vê que vista primorosa?
Seus galhos, outrora secos,
de súbito fizeram-se flor.
Sucintos golpes de cor
num quadro antes um tanto cinza.
Que encanto!
Na alvorada, quando o sol,
ainda um bocado reservado,
reflete seus raios inaugurais sobre elas:
pétalas rosa-amarelas,
o piso branco da entrada parece se acender.
E que alegria também é ao anoitecer!
Ao subir a rua, na calada destas noites de inverno,
vendo dali de baixo o ipê,
olho o céu e fito a lua em companhia
quase esqueço do vento frio cortando o rosto.
Efeito anestésico da natureza?
Não sei! - respondo a mim mesma -
mas quanta harmonia!
Sento-me no banco sob ela
quase não vejo mais cinza concreto
e, quando a ela conto algo secreto,
sem delongas inicia-se um diálogo:
Desprende-se uma flor do galho
vem de certo no meu ombro.
Tamanha sublimidade!
Como passar desapercebido?
Vê agora a poesia amigo?
A natureza responde!
O universo também.