Mariana Guimarães
"Encontro - me aqui pasma. Pasma com minha solidão, com minha alma vazia e silenciosa. Encontro - me aqui a esperar, alguém para me arrancar disso tudo, desse frenesi louco e bobo."
Cruzaria eu meu destino incerto com o amor? Porque o mereceria? Creio eu que é algo belo, uns amantes, fogo ardente, são beijos inesquecíveis, o encaixe perfeito de um abraço simétrico, cheiros que possam duzentos anos passar, que nunca serão esquecidos. Porque alguém como eu então mereceria essa dádiva? Desde sempre fui fria, sórdida, gelada, calculista e outros tantos adjetivos assim,
porém sempre soube disso. Então diga – me você com sua esperteza moço, porque algo assim, porque um “monstrinho” teria a honra de sentir algo tão belo, que deve ser dado e é somente merecido, por jovens valentes, por amantes que não sentem medo de sentir, de amar, de querer, de chorar, de se entregar, esses sim, merecem todo o amor do mundo, pessoas como eu, devem apenas aceitar seu destino
gélido, seu apartamento vazio, sua cama de solteiro.
Irônico mesmo é eu aqui, chorando por não chorar, sentindo por não sentir, sofrendo por não sofrer. Sempre me senti solitária, mais nunca estive sozinha, agora encontro – me aqui, sem nada a me agarrar a não ser minha folha de papel suja com algumas lagrimas misturadas a minha maquiagem.
Essa noite fria desse verão quente. Verão daqueles que será guardado na memória, infelizmente, não lembrado como algo bonito e colorido, talvez como uma fase que me acrescentou, porem não como algo feliz. Passo neste momento, por uma daquelas noites, de choro intenso, que nos fazem acordar no dia seguinte, mais leves, plenos, que conseguem nos mudar, assim, da noite para o dia.
Mudanças quase sempre melhores, então ai, nessa parte, a visto o perigo, nessa palavra bem traçada na folha de meu caderno, com significado indefinido. É nesse “quase” que mora o medo de essa noite de choro e duvida, não acabar se transformando em algo bom, que ela no fim me faça acordar, mais fria, cética e obscura que sou, - se é que isso seja possível – então penso, vejo meus olhos tristes e
e sem vida no espelho, seguro minhas mãos suadas e frias, me bate um desespero bobo de acabar pior que me encontro, sinto aquele nó na garganta, já conhecido. Agora, eu, que nunca fui muito religiosa ou apegada em Deus, encontro - me em plena oração, para que o melhor me aconteça, pois só posso me agarrar a isso, com a minha fé de cética desiludida.