Mariana Botelho
ABSTRATO
eu nunca beijei um poema.
no entanto ele está aqui
roçando leve minha
boca
nas horas dos
mais
doídos
silêncios
ATO
um poema me deixou um sismo na carne
me arqueou o corpo
e traçou em minhas costas itinerários de espuma.
com um gosto de cor
na boca
deixei cair pulsante
um
longo beijo
morno
vão
eu queria guardar teu
sorriso o tom
de tua voz teu
cheiro
mas só cabe ausência
nesses potes cheios
de
solidão
toma
esgota tua menina
até que não reste uma fibra
no ventre ardendo em brasa
no corpo a se apagar na treva
dois vaga lumes no pote
e o silêncio dos retratos –
bebe.
Legado
navegar o centímetro do gesto
no mar infinito do verbo
é teu o que te for dado:
o olhar cansado preso à teia,
o medo já domado da fera,
o beijo.
tudo o mais
entrega.