Mariah Weber
Sinto que já não posso falar de amor com a mesma propriedade de antes, simplesmente pelo fato de que não há mais amor. Se é que algum dia houve. Eu penso no passado, em todas as oportunidades de ser feliz que joguei ao vento, como se magicamente, elas fossem voltar para mim quando eu desejasse te-las. Nenhuma delas voltou. A beira da loucura estou, como se meus sentimentos estivessem em um conflito tao grande dentro de mim, que nem eu mesma sei o que sinto. Sei que não há amor. Há liberdade. Há também a prisão, como se minhas mãos estivessem atadas, tudo parece eterno. Não há perspectiva, nem sonho.
Talvez não haja mais nada.
Qual o sentido disso tudo? Chega a ser desumano. O amor virou estéril para mim, não há serventia quando ele não pode ser transformado em verbo.
Vivendo eu vou. Cambaleando pela vida, dobrando esquinas, atravessando avenidas, passando o sinal vermelho. Caminho sem olhar para trás. Nem para os lados, muito menos para a frente. E, ao lhe ver novamente, terei a capacidade de apenas cumprimenta-lo ou trocar meia duzia de palavras vazias. Talvez seja esse o estado normal : viver mecanicamente por fora, completamente morta por dentro. É a lei da vida. É a lei da minha vida.
Meu bem, se toda noite eu vejo morrer o dia
Os mistérios hei de desvendar
Na calada da manhã cinza
Eu vejo a noite ir embora e acordo sem meu bem
Se entre nossos desencontros
Nada mais restou
Lhe pergunto
De onde conseguirei forças, senão das profundezas de um coração naufragado nas mágoas de um morto?
Meu bem, a noite está tao fria, mas meu coração é quente
Quem pagará a divida de nosso amor doente?
A menina bonita viveu de doçura. Suas mãos de açucar se desfaziam quando muito suava, e seu corpo de algodão-doce murchava toda vez que chovia.
Seu coração escorria mel. A menina bonita viveu três dias que fizeram jus à sua beleza: três lindos dias de sol, deitada sob a sombra de uma figueira, escutando o canto dos pássaros, ela contemplava o colorido das flores.
No segundo dia, a menina lá adormeceu. No meio de toda aquela beleza, sua doçura foi descoberta. Acabou sendo carregada pelas formigas...
Quem pode responder-me?
Deus, pra que tanta pressa?
Do que fugimos? De quem fugimos?
À noite, em vez de olhar para o céu e contemplar a beleza da lua, nós medimos quantos passos faltam para chegarmos até ela.
Ninguém mais procura o amor. O verdadeiro amor. Parece algo ultrapassado.
Ao sentir o vento acariciar meu rosto, sinto-me completa. Sem tirar nem por, cada vez mais me convenço de que tudo o que busco posso encontrar dentro de mim.
Percebo uma estrela, destacada das demais pelo seu brilho. Estrelas não são muito diferentes de pessoas. Todas tão iguais, mas ao mesmo tempo tão diferentes, buscam destaque no imenso céu da existência.