Maria José Dupré
Nunca disse aos meus filhos para serem honestos. Sabe por quê? Porque sempre pensei que a gente já nascesse honesta e isso não se ensinasse.
O fim da história é que todos somos diferentes, meu filho. No físico, no moral, no gosto, no caráter, nas particularidades, nas tendências, na essência, enfim.
Pra que serve ser amigo? Amigo é pras horas alegres? Horas de festa? Hora de comer e beber? Não. Amigo é ali no duro; nas horas de aperto é que se conhece o amigo. Ou então não é amigo, é uma besta.
Fiquei então imóvel ouvindo apenas o leve tique-taque enquanto foi se fazendo escuro à minha volta e percebi que já era noite. Não me levantei para acender as luzes. Para quê? Tudo era escuro e sombrio na minha vida e não era a luz que iria clarear minha solidão.
O céu está sombrio e escuro, cinzento-escuro. O que foi a vida em todos esses anos? Sacrifício e devotamento. É como ver numa tarde assim de chuva, pesada de tristezas. Mas não sei lamentar; se fosse preciso recomeçar novamente, novamente faria minha vida a mesma que foi, de sacrifício e devotamento. Devo ser feliz porque cada filho seguiu o caminho escolhido. (...) Grossas gotas de chuva caem do céu sobre a terra, sobre as árvores e sobre os telhados. Cor de cinza. Solidão.