Maria Fernanda Rebelo
Era simples como piscar os olhos ao acordar, mas tão complexo como algoritmos tecnológicos são para uma criança de mais tenra idade.
Quanto mais eu tentava criar teorias e teses que teriam como objetivo serem supostamente capazes de descrever o que era tudo isso, percebia que era e que se tornava cada dia mais profundo, tão profundo a ponto de se tornar cada vez mais impalpável e mais distante de uma possibilidade de descrição.
Quanto mais eu parava e refletia no “ sentir a essência daquele sentimento”, mais percebia o quanto era sutil, simples e natural SENTÍ-LO, mais me acostumava com a ideia de que tal sentimento, simplesmente... Estava ali. Passei a me habituar a olhá-la e apenas SENTIR... Sentir isso que chamamos de “ coração “ ( pode se dizer um coração abstrato, não ? ) se inundar de vontades clichês como dizer “ eu te amo “ mesmo sem amar, visto que “ amor” é uma palavra muito forte, e você sempre escutou isto de meus lábios, tendo como intenção apenas transparecer minha admiração e vontade de dedicar meu carinho.
Os dias foram passando, e aos poucos e sutilmente, percebi que nos pequenos detalhes, havia indícios da importância que sua presença teve em minha vida, na forma como lidava com minhas crises ( você conheceu minhas crises... Aquelas, que eram geradas pelo meu lado racional extremo... Penso, penso, penso, e me perco numa realidade paralela criadas por diversos “ e se ... “ ),no jeito como as pessoas riam... Elas poderiam ter a risada mais angelical e agradável sonoramente, mas nenhuma superaria a sua gargalhada sincera e estrondosa após uma piada momentânea. Dentre todas as minhas duvidas, e de tais duvidas, mesmo sem perceber, te apresentei entrelinhas, muitas delas, a minha única certeza é que de uns tempos pra cá, seu sorriso e o som do seu riso diminuíram significativamente o encanto de todos os outros.
Acho que foi esse seu jeito instável, porém previsível. Sempre mudando, nunca me deixou cair no tédio. Com algum artifício desconhecido, me atraía como um ímã, quase que me obrigando a adaptar-me a suas fases. Sempre amei suas fases. Por causa delas, sempre gostei de relacionar-te à Lua, sempre sujeita a mudar de acordo com o clima, ambiente e situações. Achava divertidamente meiga sua feição quando ficava nervosa por motivos completamente irrelevantes. Dava vontade de fazer o que dizem por aí, “ colocar em um potinho “ e te abraçar pra sempre.
Poderia ter dado uma chance à sua chance. Mas por algum motivo minha alma tem e sempre teve pressa. Tive que ir. Sempre sujeito a partir, mas mesmo assim, deixei um pedaço meu contigo e peço-te por favor, cuide dele pra mim.
Com os dias, fui percebendo que esse amor é como um incêndio. Meu cérebro era o local, minha razão os bombeiros. Não sei onde, nem quando começou esse sentimento, não sabia, portanto, aonde se encontrava o foco do fogo... Não sabia como controlá-lo, a razão, meu maior artifício, não teve sucesso em sua busca nem em seu combate.
O impalpável sentimento foi se instalando cada vez mais intensamente, a ponto de parecer algo físico e tocável. Cada vez mais, aquele sentimento puro foi – felizmente- consumindo o meu ser.
Por mais que use verbos e cite situações no passado, na intenção de dar a entender que superei tua ausência – que no atual momento nem chegou a acontecer( creio que estou em uma de minhas crises, em que raciocino demasiadamente) – eu, você e qualquer um que raciocine minimamente, sabe que não podemos mentir para nós mesmos. Podemos tentar omitir, mas apenas tentar. E por mais que eu tente, tenho total e plena consciência do porque meu coração-abstrato palpita mais feliz e mais intenso quando te vejo, ou quando simplesmente, penso em você, e porque meu coração-literal/concreto pulsa mais rapidamente quando chega, me abraça e me deixa sentir o teu perfume, afundando meu rosto em seu pescoço, na maioria das vezes coberto por teus cabelos quase negros.
E a noite a lembrança do seu olhar ímpar, não me deixa dormir de imediato, mas me faz pegar no sono, com um sorriso sincero e sereno nos lábios.