Maria de Deus, 2011
Todos os dias são iguais
Cabeça não ouve, coração sente
Mas sente em demasia, até estalar
de cansaço que é a vida.
Só pensar que tenho de pensar,
já sinto pássaros fugir e
esbarrar no obstáculo que
surge sem esperar, sem avisar.
Ai! Se tudo fosse mentira,
uma pura e profunda ilusão,
o obstáculo desapareceria
como quem grita, Ladrão!
Morar aqui é não saber morar,
pois só cá mora quem morra,
nunca só, nunca sem mar
a quem olhar e se afundar
na imensidão da sua espuma
branca como a ilusão da minha alma.
Tenho amigos, muitos
quanto baste para mim,
mas nada basta para
quem sonha querer o mundo inteiro
só e todo para si.
Amigos como os dedos
Dos pés? Das mãos?
Não. Não chega para escrever
o que vai no meu coração.
Mas os que chegam,
chegam bem para encher
o papel ou não!
Para uma linha talvez do meu coração
Nada importa, pois amo
cada um deles como
se fossem água no deserto,
doce no meio do amargo,
um peixinho no imenso que
é a imensidão do mar.