Maria da Penha BoinaDalvi

Encontrados 4 pensamentos de Maria da Penha BoinaDalvi

⁠O arquivo das estações
Guardei um mapa num lugar perdido,
onde o tempo, por descuido, hesita.
Os traços são rios que secaram cedo,
mas ainda guardam o murmúrio da vida.
As árvores falam línguas apagadas,
e suas folhas, arquivos de eras,
sussurram verdades disfarçadas
nos códigos de antigas primaveras.
O céu é um espelho de névoa e ferro,
onde as estrelas, frias, descansam.
Os ventos carregam ecos austeros,
memórias partidas que não se alcançam.
Ainda assim, no silêncio partido,
há mãos que moldam o que não existe.
Nas cinzas do velho, o novo é tecido,
num fôlego breve, sutil, mas persiste.
Os sonhos futuros não têm formato;
são só fragmentos em órbita errante.
Mas cada estação, num ciclo exato,
guarda uma semente sempre pulsante.

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠Purista, eu?

Chamaram-me purista, num tom de ironia,
Como se o zelo fosse pecado, heresia.
Por buscar nos arcanos da gestão cadente,
Um fio de lógica, um traço coerente.
Falaram de anacronismo, como quem sussurra ao vento,
Sem notar que o tempo carrega o esquecimento.
Gestões de ontem, sombras de um outrora,
Não resistem à aurora, que a crítica devora.
Eis que escrevo, não para agradar vaidades,
Mas para despir o rei de suas falsidades.
Se purismo é pensar, é questionar o vago,
Que me chamem de pura, pois o impuro é frágil.
Anacrônica é a cegueira que persiste em andar,
Na trilha do ontem, sem ousar inovar.
E eu? Sou ponte entre o velho e o novo,
Sou o verbo que inquieta, sou quem move o povo.
Não temo o rótulo que me foi ofertado,
Pois na busca da razão, o título é fado.
Que venha o futuro, com suas chamas ardentes,
Purista ou não, sigo lúcida, entre linhas e correntes.

Inserida por MariadaPenhaBoina

A Garrafa da Educação

Finalmente, a educação brasileira encontrou sua maior recompensa: uma garrafa! Sim, senhoras e senhores, acabou a era em que as pessoas escolhiam universidades por qualidade acadêmica, projetos inovadores ou corpo docente qualificado. Agora, tudo se resolve com um brinde. E que brinde!

A campanha é simples, mas genial: indique um amigo para se matricular na faculdade e ganhe uma garrafa. Não um desconto, não um material didático, nem uma vaga garantida no mercado de trabalho. Uma garrafa. Certamente, é o que faltava para motivar você a compartilhar o futuro acadêmico dos seus conhecidos. Afinal, quem precisa de um diploma forte se pode ter um utensílio de plástico ou alumínio no armário da cozinha?

E vamos falar a verdade: essa garrafa é revolucionária. Cada vez que você toma água nela, sente o sabor da responsabilidade social e da valorização da educação. É quase como se dissesse: "Eu ajudei a formar um futuro profissional por causa disso aqui."

É importante reconhecer o esforço criativo dessa campanha. Em tempos de crise, a solução não é melhorar os cursos ou investir em professores. É transformar cada estudante em um recrutador, prometendo brindes que poderiam ser conseguidos com pontos no supermercado. Quem sabe na próxima campanha, por cinco amigos indicados, a faculdade não ofereça um chaveiro ou um adesivo para decorar sua garrafa?

Ironias à parte, se isso é o ápice da valorização do ensino superior, fica a pergunta: o que será que estão oferecendo para quem se forma? Uma mochila? Um cupom para fast-food? A educação, coitada, merecia mais do que um marketing tão sedento de criatividade quanto os estudantes estarão para usar sua nova garrafa.

Indique, estude e... beba água. Afinal, conhecimento pode não saciar a sede, mas a garrafa sim.⁠

Inserida por MariadaPenhaBoina

⁠O silêncio que esconde

Há perigo no silêncio,
na fala que nunca cresce,
no olhar que se acomoda,
no sim que nunca desce.

A mansidão disfarça o vago,
um abismo oculto e frio,
onde a voz não faz eco
e o coração é vazio.

Aceitar o tudo sem luta,
sem sequer respirar o não,
é como caminhar nas sombras
sem saber a direção.

Quem nunca levanta a voz
nem questiona o caminho,
talvez se perca na ausência
ou se esvazie sozinho.

Medo me dá essa calma,
essa paz sem fundação,
pois no fundo do silêncio
mora a sombra da omissão.

Inserida por MariadaPenhaBoina